Que de novo a decisom da RAG nom favoreceu a candidatura de Carvalho Calero e sim a umha das outras várias candidaturas, nesta ocasiom a de Maria Victoria Moreno. Custa-me acreditar que alguém guardasse espectativas sérias de que a decissom da RAG recaísse na figura de Carvalho. A decisom de homenagear a Maria Victoria Moreno nom vai em detrimento de Carvalho, porque simplesmente a candidatura de Carvalho nom é umha candidatura real. É umha candidatura que se apresenta para dar-lhe um aspecto mais democrático a umha decisom final que seguramente já está pactuada. Eu nom tenho nada contra a figura de Maria Victoria Moreno, nem nada que objectar a respeito da sua obra. Quem sim que vai contra Carvalho Calero é o tempo.
Carvalho Calero deixou a RAG, depois da viragem que forçou o movimento golpista. Na sua renúncia deixou bem explícitas as suas diferenças com a Academia. Difícil que a Academia o some ao olimpo das Letras Galegas. María Victoria Moreno é um referente feminino seguramente eclipsado por ser mulher, que se convertirá na quarta mulher homenageada em toda a história do 17-M. A RAG nom vai ser mais feminista nem vai ter mais em conta às mulheres porque no ano 2018 se homenageie à Maria Victoria Moreno, ainda que a inclussom do seu nome no álbum das figuras homenageadas suporá umha debilíssima compensaçom no desequilíbrio da nómina do memorial entre homens e mulheres. Que um dia se decidisse homenagear a Carvalho Calero, teria que supôr a limpeza do pecado original que portamos os reintegracionistas, de nom ser assim quase seria melhor umha exclussom declarada de Carvalho Calero e de todos os nomes reintegracionistas possíveis. Homenagear a Carballo Calero e nom a Carvalho Calero, nom tem sentido. Escurecer a sua vida e obra a partir de que toma o roteiro reintegracionista nom contribui a nada.
Ante a exclusom explícita de Carvalho Calero, som várias as vias que se poderiam tomar. No que coincide toda a comunidade reintegracionista e nom só, também o movimento lingüístico – cultural vivo e democrático é em que há que sair deste impasse fatal.
Esta história com finais alternativos para mim apenas tem umha certeza: o innegociável da figura de Dom Ricardo Carvalho Calero. Nom se pode falar de concórdia e entendimento, nom se pode falar de avançar no caminho sem Carvalho Calero.
Quê caminho devemos tomar aqueles e aquelas que nom renunciamos a Carvalho Calero?
Final alternativo A: Nom nos interessa o Dia das Letras
Isto escuita-se em certo sector reintegracionista. Nom interessa perder mais um minuto no Dia das Letras, que é umha marca exclussiva da Real Academia Galega, que por suposto nunca vai reconhecer a Carvalho Calero porque isto comportaria um exercício de auto-crítica impossível com a composiçom actual da instituçom. A luita pola língua desenvolvida polo reintegracionismo é no dia a dia, em projectos vivos onde se fai natural o que na sociedade está proscripto. Centros sociais, a Liga Gallaecia de futebol gaélico, as escolas Semente, projectos editoriais como Atravês editora, o Diário Liberdade, som realidades constroidas sem o subsídio institucional e com o trabalho voluntário das pessoas. Nom fai sentido aliás partilhar espaços com quem repreme e exclui aos reintegracionistas no âmbito artístico, social ou laboral.
Em nada contribui para defender a língua passeatas com isolacionistas que estám ancorados em discursos essencialistas já sobradamente derrotados para além de que homenagear poetas mortos nom serve para revalorizar a literatura galega.
Final alternativo B: Temos que continuar pressionando à Real Academia Galega para que rehabilite publicamente a Carvalho Calero
O reintegracionismo, com as forças que poida somar, deve continuar pressionando até conseguir que porfim a RAG decrete dedicar-lhe um Dia das Letras Galegas a Carvalho Calero. Isso marcaria um novo rumbo dos acontecimentos, e trazeria consigo necessariamente umha mudança de estratégia e de discurso por parte da RAG. Nunca estivemos tam perto de lograr que se nos faga caso
Final alternativo C: Democratizar o Dia das Letras
O movimento popular deve ser escuitado à hora de decidir a quem se homenageia em cada 17-D. Sendo assim, evitariam-se arbitrariedades e decisons que ninguém pode explicar. Num 17-M do movimento popular, a exclussom a Carvalho Calero nom teria cabimento e debateria-se seriamente a pertinência ou nom de cada homenagem. As homenagens devem ser a figuras socialmente úteis que servam para dar maior prestígio à língua e à criaçom na nossa língua. Personagens cinzentas e sombrias nom contribuim para isso, definitivamente.
Para conseguirmos essa tomada do 17-D polo movimento popular, cumpre partilhar espaços com o isolacionismo. Há isolacionismo que também dissente da RAG.
A única certeza: Carvalho Calero como referente
Há algumhas semanas eu publicava um artigo que ia em consonância com a minha máxima de que nom há língua sem projecto social. Nele defendia o posicionamento do Bloco Reintegracionista quanto à participaçom na marcha de Queremos Galego. Houvo sectores do reintegracionismo que nom receberom bem esse artigo. Eu do presente artigo escolheria o Final C, mas isso nom é o importante; o importante é nom renunciarmos jamais a Carvalho Calero. Nom há projecto social sem Carvalho Calero. É um referente de defesa da língua e do país, um referente aliás marcadamente democrático e anti-fascista.
O seu labor pedagógico na crítica literária é espectacular; escuitar conferências dele sobre Rosalia ou Castelao é escuitar umha voz comprometida em que o povo e em especial a juventude conheçam essas figuras no seu contexto histórico e social, a sua maneira de entender e contar o mundo. Nom se pode, por outro lado, entender a história do nacionalismo galego e em particular a história do Partido Galeguista e a evoluiçom do pensamento de Castelao prescindindo da sua análise dos escritos do polígrafo rianjeiro.
A sua trajectória vital nom pode ir mais em consonância com o que predica, foi alguém que apanhou as armas pola dignidade humana e contra o fascismo, combatendo na milícia da FETE-UGT quando estalou a guerra civil espanhola.
Carvalho Calero é umha figura apaixonante e diáfana em palavra e obra, alonjado de outras figuras bastante mais sombrias e ambíguas revestidas da santurronaria culturalista de outros vultos. Umha santurronaria cômoda para o manejo institucional, que nom fere sensibilidades no poder.
Com ou sem Dia das Letras, sempre Carvalho Calero; essa é a certeza única à que adiro. Contra a oficialidade e contra o tempo. Um tempo que pretendem administrar desde a RAG com candidaturas em falso feitas para perder. Insisto: sempre Carvalho Calero.