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Diário Liberdade
Sexta, 15 Setembro 2017 17:10

A pátria é agora

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Ilka Oliva Corado

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Quando Otto Pérez Molina ganhou as eleições, pensei que a Guatemala havia chegado ao fundo do poço, uma sociedade que foi incapaz de julgá-lo pelos crimes contra a humanidade estava o levando à presidência, aquela foi uma punhalada nas costas dos familiares das vítimas e uma falta contra a Memória Histórica e contra a dignidade por si só.


Tivemos que nos calar até que a saber nem como a justiça começou a resmungar, uma justiça castigada, manchada, desaparecida, enterrada em quantas fossas clandestinas existem na história guatemalteca. Uma mancha com rosto de meninos agonizando de fome, de meninas vulneradas no mais puro de seu ser, de camponeses e jornaleiros explorados historicamente. De milhares de migrantes que no desenraizamento da diáspora e no sacrifício das remessas sonham com o retorno à pátria que os abandonou.

O impossível ocorreu na Guatemala, o genocida Pérez Molina foi presidente. Caímos fundo.

Pensei que havíamos chegado ao fundo do poço mas foi o contrário, o desfecho foi que se racharam e apostaram em uma Assembleia Nacional Constituinte (porque dizer revolução já é uma coisa maior) e em nome de Deus e da mochila do corpo morto votaram por Jimmy Morales, que era pior do que Pérez Molina, por ocultar o genocídio ao negá-lo e o oportunismo de ultrajar uma vez mais esse solo que viu correr tanto sangue. Desleal à pátria, à identidade e afim à injustiça e à corrupção. Um personagem dantesco ad hoc a essa parte da sociedade fanática e manipulável, em nome do ódio e a mochila do morto.

Dessa sociedade reclacitrante já não surpreende nada, é o tapete por onde desfilam os que fazem da fé e da dupla moral as armas mais poderosas para saquear um povo. Já vimos no que resultou a novidade “nem corrupto nem ladrão”. Já não se pode cair mais fundo, chegamos ao cu do abismo, é hora de tirarmos as estacas, nos levantemos e nos ponhamos de pé, pela dignidade coletiva. A Guatemala precisa de uma revolução, cortar pela raiz a impunidade, a corrupção, a medula da miséria no país.

O momento é esse, e as revoluções podem ser feitas de muitas maneiras, mas precisamos mudar os padrões, precisamos nos indignar de verdade, precisamos sentir na própria carne o opróbio que vivem os mais golpeados do sistema. Precisamos nos dignificar coletivamente. Para mudar a Guatemala não é suficiente ir gritar aos sábados e ir bater panelas com chocalhos durante duas horas em frente ao Congresso.

Não se transforma a Guatemala dando “retuítes” e enchendo as redes sociais com os palavratórios que saem da comodidade de estar atrás de uma tela de computador ou telefone celular, redes sociais as quais pequena parte da população tem acesso. Nos convertemos em inertes, em revolucionários de redes sociais, onde não existe maior esforço do que teclar uma frase ou um parágrafo. Compartilhar uma fotografia ou um vídeo. Nesse mundo paralelo à realidade. E com isso sentimos que já pusemos nossa dose diária de amor à pátria. A pátria, que vaga em cada carregador de protuberâncias, em cada cheirador de cola, em cada menino preso em um cárcere porque o Estado o abandonou.

A pátria que chora em cada feminicídio, em cada árvore arrancada, em cada rio envenenado. A pátria que chora quando se mutila ecossistemas em nome de minerações e limpezas sociais. Quando se esculpe a cultura e a pisoteia, em nome de convênios e carências.

Uma pátria que temos maltratado, uma pátria que não merecemos. Uns por fazer e outros por esconder.

Celebrar a impunidade, celebrar a corrupção em nome de religiões e dupla moral, nos converte em corruptos igualmente. Ser revolucionários de redes sociais tampouco nos dignifica coletivamente. É pura fachada, nada mais. Aqui a pergunta obrigatória é: 14 milhões de guatemaltecos vão se deixar enganar por 105 deputados e uma claque criminosa que se cobre sempre que pode, com a mochila do morto?

É agora, a pátria é agora. A Guatemala merece voltar a crescer.

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