Com a fortaleza do não derrotado -nem sequer após o derrube do socialismo real- as FARC fizeram bem em tentar esse objetivo, recorrendo a um novo diálogo de paz com um regime em séria dificuldades, erodido por suas políticas neoliberais, o terrorismo de Estado e o engendro narco-paramilitar.
Julgo que conseguiram aprofundar a agenda inicial, alcançar uma projeção política sem precedente, alargar seus vínculos com a sociedade colombiana, e na Mesa de Diálogos de Havana, puderam -graças ao talento e à firmeza- refletir no papel e em uma parte da consciência coletiva um conjunto de acordos de grande valor programático para a democratização da Colômbia e a abordagem de importantes problemas políticos-institucionais, econômicos-sociais e culturais.
Basta repassar o acordado em temas como o agrário, participação política, direitos democráticos, reivindicação das minorias discriminadas, o drama de os/as deslocados/s, a questão ambiental, a problemática das drogas, justiça transicional e a compensação às vítimas... para entender o valor desse magnífico esforço.
A questão difícil de assimilar, altamente arriscada, relaciona-se com o "Acordo sobre a Cessação ao fogo e de Hostilidades" e o "abandono das armas", que inclui a "entrega" a prazo fixo (180 dias) a comissões fiscalizadoras designadas pela ONU e CELAC; o que equivale a desarmamento total e unilateral do exército popular mais potente da Colômbia e da nossa América, a mudança de garantias de segurança enquadradas em um sistema hostil, com controles vulneráveis.
O cessar-fogo bilateral esteve proposto desde o princípio, não assim o desarmamento unilateral da insurgência no contexto de um regime tutelado pelos EUA, com sete bases militares e essências repressivas, violentas, neoliberais... em um país onde uma viragem para a democracia real, soberania e justiça social leva bem mais tempo e passa por um período de intensas lutas sociais e políticas.
O monopólio das armas em mãos desse Estado encerra um grande risco para essa heróica insurgência e para o povo em luta. Nem o imperialismo atual nem as suas burguesias dependentes são forças de paz, daí que julgue que na Colômbia uma paz digna exige não debilitar a capacidade dissuassória das armas em poder do povo. Não as entreguem! Ainda que seja para as fundir e erigir três monumentos à paz. Oxalá me engane.
26-06-2016