A Cuba revolucionária, altiva e independente dos EUA consiste em uma verdadeira obsessão dos atores individuais e coletivos que, à essa altura do campeonato, refestelam-se com o êxito do golpismo.
Nos devaneios de suas mentalidades colonizadas, as direitas golpistas – localizadas seja nas instituições do Estado, seja na sociedade civil –, identificavam “comunismo” e “cubanização” do país, devido às tímidas medidas redistributivas do período Lula/Dilma.
Malgrado os governos do PT terem apenas aproveitado, com sensibilidade, a expansão dos preços e das vendas das commodities no mercado internacional para adotarem algumas ações que permitiam o aumento do consumo popular.
A dependência externa e a transferência de riquezas e rendimentos nacionais para os setores financeiros e às corporações multinacionais sequer sofreram arranhão. Não foi introduzida qualquer iniciativa consoante a (re)estatizações ou de socialização da propriedade.
Pouco importa. Para os alucinados reacionários golpistas, porque as classes populares não estavam a passar fome, o Brasil descortinava o “caminho de Cuba”.
Em todo caso, talvez por ironia do destino, a obsessão com Cuba está convertendo-se em uma profecia autorrealizável.
Só que existe um detalhe importante: em vez de estarmos seguindo as trilhas do socialismo fidelista e guevarista, o Brasil depara-se no momento com o modelo de sociedade cubana anterior à Revolução de 1959. Explico:
1. O projeto dos golpistas de plantão, sob a batuta do ilegítimo Temer, é eivado de uma profunda visão neocolonial: entregar tudo, entregar nossas riquezas naturais e nosso patrimônio público para os gringos, para as empresas estrangeiras.
2. A perspectiva dos golpistas norteia-se pelo incremento do subdesenvolvimento e da dependência e subserviência extremada aos EUA.
3. Se já nos encontramos envolvidos com significativo processo de desindustrialização e de desnacionalização da indústria, não é difícil imaginar o que acontecerá com o setor sob o projeto de desmonte do país que se insinua.
4. Com isso, tornam-se dispensáveis conhecimento, educação e cultura. A intenção já revelada, e parcialmente aprovada na Câmara, é de congelar por duas décadas investimentos no ensino. O subdesenvolvimento casa bem com a ignorância. Nela se apoia.
5. O governo ilegítimo tem como parâmetro nas relações externas uma indigna e cavalar subserviência aos EUA. Um neocolonialismo sem máscaras é o horizonte já de curto prazo.
6. A burguesia "brasileira" - conglomerados de comunicação, Fiesp e Firjan à frente - assumiu abertamente a sua reles condição de testa de ferro de interesses do capital internacional. Nada produz, vive de engodo, renda, especulação financeira, imobiliária e alugueis. Não tem projeto comprometido com a Nação. Apenas visa entregar o País ao preço que lhe convém. Entreguista e títere de um poder real de comando que é externo.
7. Os espúrios personagens e agrupamentos políticos oligárquicos que capitaneiam o golpismo revelam extraordinário despudor, cinismo, venalidade, que tanto caracterizavam os chefetes da outrora ordem neocolonial cubana, que antecedeu a Revolução.
A obsessiva “profecia” dos reacionários está se materializando. Com a peculiaridade de um período histórico e de uma configuração de sociedade diferentes.
Ao contrário do que golpistas fascistóides ruminavam nas ruas e nas redes, o Brasil não estava "virando Cuba" (socialista, revolucionária).
Mas, seguramente tenderá a ficar bem parecidinho com a Cuba colonizada, subalternizada e desmoralizada, de antes da era aberta pelo povo cubano e o comandante Fidel Castro. Claro, isso até o limite da paciência e da honra do povo brasileiro.
Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.