Cheguei à Universidade Federal de Viçosa, no Brasil, com a segurança que dá ter os dous diplomas mais importantes da língua portuguesa, o DUPLE e o CELPE-BRAS. E mesmo assim, nas minhas primeiras conversas, fiquei numha saia justa:
-Nesse semestre cê não tem aulas no DLA, vai dar aula no PVA.
-Ah, tá –respondim com cara de agonia.
-Fica na frente da BBT.
Sorriso mudo de desespero.
-A BBT fica à altura do MU e por trás da BBT cê já vê o PVA. Se preocupa não, é pertinho do DLA.
-Ah! Beleza então. Desculpe, você é de onde? Achei seu português meio diferente –disse com ironia.
-De BH!
Saím com vontade de tocar fogo nos meus diplomas.
Na verdade, tinha esbarrado com mais um traço identitário do português brasileiro: O uso corriqueiro de siglas e acrónimos.
As siglas e os acrónimos som um fenómeno lingüístico típico do século XX, resultado de um processo de criaçom lexical a partir de cada grafema inicial dos termos principais de uma expressom complexa. Nas siglas a palavra é pronunciada soletrando o nome de cada letra. Exemplos de siglas seriam UE (Uniom Europeia) ou EUA (Estados Unidos da América). Os acrónimos, porém, som pronunciados sem soletraçom das letras que os componhem, OVNI (objeto voador nom identificado) ou LASER (Light Amplification by Stimulated Emission Radiation). Ambos ocorrem freqüentemente em tecnoletos ou como abreviaturas de organizaçons: partidos políticos, movimentos sociais, associaçons culturais...
Exemplos de siglas comuns no português do Brasil som FHC, polo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; BH, por Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais; CDF, sigla de cu de ferro, para quem é muito estudioso –em Portugal seria marrão/marrona-; MPB, Música Popular Brasileira, género musical surgido na década de 60; PF -prato feito-, típico na culinária brasileira, costuma ser económico e consiste normalmente num pedaço de carne acompanhado por arroz, feijom, batata frita e salada; TPM é a sigla de Tensão Pré-Menstrual, as mulheres no Brasil a combatem comendo o famoso brigadeiro; PT (Partidos dos Trabalhadores), partido governista no Brasil até ser afastado recentemente por um golpe de Estado; a PM, é a polícia militar e a UPP, Unidade de Polícia Pacificadora, postos da polícia nas favelas do Rio de Janeiro.
Acrónimos usados em português podemos citar os PALOP, Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, ou os nomes das provas de português língua estrangeira antes referidos, o DUPLE (Diploma Universitário de Português Língua Estrangeira) e o CELP-BRAS (Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros). O professor português Marco Neves no livro Doze Segredos da Língua Portuguesa informa-nos de que é habitual em Portugal, tanto na escrita quanto na fala informais, o acrónimo de origem inglesa Lol (Lots of Laughs). No Brasil, talvez um dos mais usado seja o acrónimo BOPE, Batalhão de Operações Policiais Especiais, mundialmente conhecida polos filmes Tropa de Elite 1 e 2.
De resto, a internet generalizou o uso de siglas para os países. Pt (Portugal), Br (Brasil), Gz/Gal (Galiza), Mz (Moçambique), Ao (Angola).
Por último, apontar que no Brasil som usadas com muita freqüência na escrita as siglas de cada um dos 26 estados brasileiros: RJ (Rio de Janeiro), MG (Minas Gerais), SP (São Paulo), PR (Paraná), BA (Bahia), GO (Goiás)…