Dados de 2016 divulgados pela Associação de Psicologia e Saúde Ocupacional estimam que quase metade dos trabalhadores portugueses têm sintomas de exaustão profissional. Esta é uma tendência que subiu nos últimos anos.
Os níveis de burnout, ou esgotamento/exaustão profissional, não pararam de subir desde 2008, revelam-nos dados da Associação de Psicologia e Saúde Ocupacional (APPSO). Este foi o ano em que fez o primeiro grande estudo, baseado num inquérito a quase 40 mil trabalhadores, e tem vindo desde aí a medir a evolução do número de situações.
Sobre os dados de 2016, que estão quase a ser publicados, João Paulo Pereira, presidente da APPSO, avança ao Jornal Económico que entre os cerca de 4 mil trabalhadores portugueses inquiridos, existem 47,6% com diagnóstico de burnout. No entanto, havendo um crescimento em 2016, constata-se que este crescimento não é tão acentuado como o de anos anteriores. Segundo declarações de João Paulo Pereira ao mesmo jornal, este abrandamento está relacionado com a mudança política e social, que trouxe «mais confiança e segurança às pessoas», nomeadamente com a intervenção em várias questões como a redução do horário de trabalho, entre outras matérias.
Carga horária e condições de trabalho na origem do problema
Uma das principais origens apontadas para o esgotamento/exaustão profissional é a carga horária, que no caso dos trabalhadores portugueses, é uma das maiores da União Europeia. A reportagem do Jornal Económico sustenta com os últimos dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), de 2015, que revelam que a média de horas de trabalho de cada trabalhador português é de 1868 por ano, número ultrapassado na União Europeia apenas pela Grécia, Polónia e Letónia. São referidos ainda os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), indicadores de que, no ano passado, do total da população empregada, 39,2%, ou seja, 1,8 milhões de pessoas, trabalhavam entre 36 e 40 horas por semana, incluindo horas extraordinárias; e que 19,4%, quase 900 mil trabalhadores, trabalhavam 41 horas ou mais por semana.
Há, por exemplo, quanto ao horário de trabalho, uma naturalidade em Portugal em fazer-se horas extraordinárias. «Fazer horas extraordinárias é tão normal em Portugal, que mesmo sendo remuneradas, deixaram de ser sentidas como compensadoras», refere o presidente da APPSO, que também lembra que «todos os estudos mostram que trabalhar mais horas não significa aumentar a produtividade».
Telmo Baptista, o ex-bastonário da Ordem dos Psicólogos, vem também lembrar na reportagem do Jornal Económico que «do ponto de vista clínico, os níveis de stress e de depressão são elevados devido às más condições de trabalho, que se agravaram nos últimos anos», acrescentando o exemplo de que «muitas pessoas foram obrigadas a acumular as suas funções com as dos trabalhadores que foram dispensados». São dados outros exemplos como a pouca autonomia dada aos trabalhadores, a dificuldade de relação entre os trabalhadores e as chefias, ou a ideia incutida aos trabalhadores de que «é preciso dar tudo até ao limite».
Como exemplo mais específico, em Junho do ano passado, o AbrilAbril reportou um estudo da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), que decorreu entre Janeiro e Dezembro de 2015, centrado na problemática do burnout nos médicos, que concluiu que 18,7% destes profissionais trabalha mais de 60 horas por semana.