E aqui entra o princípio da transparência e da responsabilidade dos e das autarcas.
Não é sem espanto que verifico que o Orçamento de Estado para 2017 (ano de eleições) retoma uma proposta que já tinha sido enterrada em 2011 – o regresso da desresponsabilização financeira dos eleitos/as face a decisões contrárias à Lei.
Hoje os/as autarcas são responsabilizados financeiramente depois de avaliada a sua culpa nos processos sem suporte legal. Nesta avaliação consta, como é óbvio os pareceres que sustentaram essas decisões. Coisa bem diferente é o que agora se propõe: os/as eleitos deixam de ter responsabilidade e essa responsabilidade fica com os técnicos que fizeram os pareceres que sustentam as decisões.
O argumento de que se trata de uma equiparação à situação de ministros e secretários de estado não tem aqui lugar: primeiro porque existe uma diferença enorme nos mecanismos de fiscalização e na capacidade de chumbar medidas do Governo pela Assembleia da República, que está muitíssimo longe das competências das Assembleias Municipais. Segundo, a pergunta é óbvia – porque não se equipara em sentido contrário? Ou seja, porque é que os ministros e secretários de estado não passam também a ter responsabilidade financeira pelas decisões que tomam?
Se esta alteração vingar, o que espero sinceramente não aconteça, será um retrocesso.
Os/as presidentes de Câmara, os/as vereadores, com pelouro e sem pelouro são eleitos/as e como tal têm a responsabilidade de assumir as suas decisões, independentemente dos pareceres técnicos a que recorram.
É deles e delas a decisão. Esconderem-se atrás dos pareceres e dos serviços, para justificar as decisões que só eles e elas podem tomar, é muito feio e uma desresponsabilização injustificada. Assim não se valoriza o Poder Local e a democracia ficará mais pobre, limitada no escrutínio e na responsabilidade que é dada com o voto de cada um e de cada uma.
Artigo publicado em mediotejo.net