Apesar da tarde chuvosa, foram muitos os trabalhadores da Administração Pública que se concentraram no Marquês de Pombal para se manifestarem até à Assembleia da República. Entoavam palavras de ordem como «basta de congelamento, queremos o nosso aumento», «discriminação não, 35 horas para todos!» ou «mais um ano sem aumento e mais perda de rendimento».
Ana Avoila, coordenadora da Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública, em declarações ao AbrilAbril, recorda que esta manifestação tem como objectivo reivindicar o «aumento de salários, o descongelamento de carreiras, o aumento do valor/hora do trabalho extraordinário, as 35 horas para os contratos individuais de trabalho (que o Governo prometeu e ainda não estão aplicadas), o pagamento do valor do trabalho à hora, que está a ser pago de forma miserável, o aumento do subsídio de refeição para 6,5 euros, entre outras reivindicações que estão na Proposta Reivindicativa Comum».
Diz-nos, no entanto, que hoje o objectivo central é que «o Governo tire a ilação que é necessário o aumento dos salários e descongelar as carreiras» – já para o Orçamento do Estado em discussão.
A coordenadora da Frente Comum avisa que não aceita «que nos digam que não há dinheiro», porque a opção política do Orçamento para a Administração Pública «não é a melhor», lembrando as contratações externas, com gastos de 703 milhões, quando poderiam ser encontradas soluções dentro da Administração Pública. Dá ainda o exemplo dos gastos nas parcerias público-privadas e nos juros da dívida, e da questão de fundo: o Governo não rompe com o Tratado Orçamental nem com o Pacto de Estabilidade e Crescimento, que criam constrangimentos ao País.
No entanto, Ana Avoila valoriza o que se conseguiu «com a derrota do Governo do PSD e do CDS-PP», para a qual diz que os trabalhadores da Administração Pública deram um grande contributo. Dá o exemplo da reversão do corte dos salários, da reposição dos feriados, do fim da requalificação e das 35 horas.
Trabalhadores vindos de todo o país
Vieram trabalhadores de todos os locais do país, de Bragança ao Algarve, passando até pelos Açores. O AbrilAbril falou com vários trabalhadores participantes da manifestação.
António Costa veio dos Açores e é trabalhador da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Veio da ilha para reivindicar o descongelamento das carreiras, o aumento dos salários, o combate à precariedade no trabalho e as 35 horas para todos, «que há muita gente nos Açores que ainda não faz as 35 horas». Lembra que já estão há nove anos sem ter nenhum aumento e que a luta é para continuar se o Governo não ceder.
De Bragança também vieram vários trabalhadores. Falámos com José Freire, coordenador do STAL na região de Bragança, que sublinha o «novo rumo político do País que trouxe alguma esperança» e as políticas «nefastas» dos últimos governos para os trabalhadores da Administração Pública. Lembra o despovoamento que sofre aquela região do País, com dificuldade em fixar pessoas e ao mesmo tempo serviços, e lembra que o Governo tem que tomar medidas.
José Correia, coordenador do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local lembra que a perda de poder de compra para estes trabalhadores «tem sido muito grande», estimando que nos últimos 6 anos tenha atingido quase 20%, e que as carreiras estão congeladas desde 2005, os salários desde 2010. Dá o exemplo da Administração Local, que tem trabalhadores desde 2003 na mesma categoria e com o mesmo salário. Sublinha que tal aconteceu num momento em que «viram aumentar os encargos sociais, o custo de vida, a carga dos impostos».
De Évora veio Maria de Lurdes, que trabalha há 27 anos numa escola a ganhar 580 euros. Esta é uma das grandes razões por que vem à manifestação, exige o aumento do salário e afirma que os trabalhadores continuarão a lutar caso o Governo não ceda. Já João Fernandes, do mesmo distrito, tem 34 anos e trabalha há sete no Hospital Espírito Santo de Évora. Diz lutar pelo aumento nos salários, que no geral «são muito baixos». Deixa um apelo aos trabalhadores que não puderam estar presentes: «Não desistam, temos que insistir. Eles vão tentar dobrar-nos a espinha, mas nós vamos endireitar-nos, seguir em frente e lutar pelos nossos direitos e pelas futuras gerações.»