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Diário Liberdade
Quinta, 26 Janeiro 2017 19:45 Última modificação em Sexta, 03 Fevereiro 2017 12:55

Breve histórico do muro e algumas sugestões Destaque

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País: México / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Diário Liberdade

[Eduardo Vasco] O novo representante dos donos do mundo cumpriu sua promessa de campanha e assinou o decreto para levantar um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México.

Os três mil quilômetros da décima maior fronteira do mundo já são, na verdade, permeados de muros. Um terço da fronteira entre os dois países foi murada pelos EUA na década de 1990, quando ocupava a presidência Bill Clinton, marido de Hillary, candidata derrotada por Donald Trump nas últimas eleições. Após tanto bate-boca durante a campanha, Trump deveria é agradecer ao casal pelo início das obras.

Menos de dois séculos atrás, a fronteira entre os dois países norte-americanos (sim, mexicanos também são norte-americanos, assim como os canadenses) ficava bem mais acima do Rio Bravo.

Cinquenta anos após sua independência, os Estados Unidos começavam sua transformação de colônia para metrópole. Em 1823, o quinto presidente estadunidense James Monroe já fabricava seu impreciso gentílico, proclamando, na doutrina que levou seu nome, uma “América para os americanos”.

Poucos anos depois, apareceu a doutrina do Destino Manifesto, que argumentava que Deus havia escolhido os Estados Unidos – dentre tantas outras nações – para dominar o continente inteiro.

O México foi a primeira vítima da divina missão. Não demorou nada após a Doutrina Monroe e imigrantes estadunidenses já estavam cruzando a fronteira para o México, uma ironia histórica. E mais: a maioria era de imigrantes ilegais. Aos poucos, pressionado, o governo mexicano foi cedendo privilégios, como a posse de escravos e a repressão aos indígenas, aos latifundiários e oligarcas vindos do norte.

Finalmente, esses não reconheceram mais o governo mexicano e, com seu dinheiro, financiaram a guerra de independência do Texas, que acabou sendo anexado pelos Estados Unidos em 1845.

Logo depois, os EUA simplesmente invadiram o México e abocanharam metade de seu território: além do próprio Texas, se juntaram Novo México, Califórnia, Nevada e Utah, além de partes do Arizona, Colorado, Wyoming, Kansas e Oklahoma. Os mexicanos que ocupavam essas áreas foram expulsos de suas terras e tiveram seus direitos retirados.

Entre as inúmeras violações da soberania mexicana ainda está aquela de cem anos atrás. Para repelir a Revolução liderada por Pancho Villa e Emiliano Zapata, mais uma vez as forças do Tio Sam adentraram território vizinho, atirando para o alto, para a frente e para os lados, como os vilões dos filmes de faroeste. A desculpa era de que os revolucionários haviam colocado os pés em uma cidade do outro lado da fronteira.

Durante o século XX o expansionismo territorial deu lugar ao imperialismo. Multinacionais ianques dominam o mercado mexicano, superexplorando a mão de obra barata e instituindo salários de fome àquele povo, que para se alimentar ainda tem de comer as porcarias fabricadas e impostas pela indústria estadunidense.

A violência proveniente da desigualdade de um país submetido a uma grande potência é acompanhada pela violência do tráfico de drogas, vindas dos Estados Unidos. Para simular o combate ao tráfico, forças de repressão anglo-saxãs impulsionam a manivela, para que continue girando o ciclo que não tem fim.

Para fugir da miséria imposta de fora, turbas de mexicanos tentam atravessar a fronteira que antes não existia para um país que em boa parte lhes pertencia. Caem aos montes, vítimas da sede, da fome, do cansaço, dos estupros, dos saques, das balas e dos cães da patrulha fronteiriça.

Os poucos que chegam ao outro lado são obrigados a desfazer-se de seus pertences e começar uma morte nova: sem documentos legais, viram prostitutas, faxineiros, babás, aceitando míseros trocados para que seus patrões não lhes entreguem.

O muro que Trump terminará de construir será bom para o México?

Enrique Peña Nieto, presidente mexicano, pediu licença antes de se dirigir publicamente aos seus senhores. Rebatendo a cobrança de Trump de “reembolso” por parte dos mexicanos, com todo o orgulho patriótico do mundo, afirmou que o México não pagará pela construção do muro. Não pagará! Em resposta a esta ousadia, Trump ordenou que Peña Nieto não fosse mais encontrá-lo na Casa Branca, no que o súdito obedeceu, cancelando sua visita.

Não dá pra acreditar quão submisso a Washington é o governo mexicano. Os Estados Unidos dizem que vão construir um muro para que os “bandidos” mexicanos não cruzem a fronteira e ainda terão de pagar pela construção e tudo o que o mais alto mandatário mexicano responde é que não pagarão pelo muro! E só cancelou a visita à Casa Branca depois que Trump mandou!

O México deveria responder à construção do muro e às outras humilhações expulsando as empresas estadunidenses de seu país, nacionalizando-as e entregando-as ao Estado mexicano. Deveria dizer: “O México para os mexicanos” e que os ianques voltem para casa. Não queremos mais suas empresas sugando o suor de nosso povo, controlando nossa política e nossos assuntos econômicos, poluindo nossas águas e entorpecendo nossos jovens. Isso também diminuiria enormemente a imigração para o norte.

Yankees go home! Vayan-se al carajo! Mas, infelizmente, Peña Nieto não é Hugo Chávez e o México de hoje não é a Cuba de 1959. O presidente mexicano não passa de um serviçal do vizinho de cima.

Agora, uma sugestão para Trump: erga um muro na fronteira com o México. Depois, como você prometeu, traga de volta as tropas que estão matando civis pelo mundo. Devolva todos os soldados e suas armas ao território estadunidense. Em seguida, amplie os limites desse muro de maneira que ele dê a volta nos Estados Unidos. Mas o muro tem que ser bem alto e resistente, para que as bombas não violem as tão sagradas fronteiras. Então, para finalizar, construa um belo telhado que impeça os mísseis e os gases tóxicos de ultrapassarem o espaço aéreo de seu país, evitando os “efeitos colaterais”.

Eduardo Galeano uma vez se perguntou se algum dia ficará o mundo sem inimigos: “Haverão de se autobombardear os Estados Unidos? Invadirão a si mesmos? Cometerão os Estados Unidos esse ato de coerência, fazendo consigo o que fazem com os demais? As lágrimas molham meu travesseiro. Queira Deus poupar de semelhante desgraça essa grande nação que jamais foi bombardeada por ninguém.”

Não se pode descartar que dentro em breve essa seja a única opção que restará à grande potência defensora da humanidade.

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