O pequeno terreno, outrora baldio e ocioso, foi recuperado por um grupo de moradores, entre jovens e adultos, que tomaram a batuta e iniciaram um projeto de produção agrícola na antiga mansão no bairro de El Paraíso, em Caracas.
Esse Clap produtivo, chamado Ezequiel Zamora— em homenagem ao líder da revolução camponesa— é um dos 53 criados no bairro, que além de distribuir alimentos de casa em casa para combater a guerra econômica, administra um programa socioprodutivo para fomentar as bases da nova economia comunal.
"Hoje em dia recuperamos o espaço, trabalhamos a terra e mostramos que é possível aproveitar se trabalhamos com entusiasmo", disse Alexander Flores, um dos integrantes do Clap, em declarações à Agência Venezuelana de Notícias (AVN).
Um ano depois de sua criação, estas estruturas populares, que nasceram no começo para distribuir alimentos, medicamentos e produtos de higiene pessoal cresceram e agora têm a tarefa de consolidar projetos econômicos nas zonas populares.
"O Clap não é só distribuição, tem que ser fundamentalmente produção. Temos que fortalecer a agricultura urbana, periurbana, temos que ir com força", foi o chamamento do presidente Maduro, no final de janeiro.
Para Flores, os moradores de El Paraíso acataram a orientação do Executivo e após a doação de sementes por uma escola secundária, começaram a plantar milho, mandioca, rabanete, plantas medicinais, pimenta, pimentão e mamão.
Estes produtos, além de chegar às mesas das famílias da comunidade, são doados para o refeitório do Centro de Diagnóstico Integral (CDI) próximo ao terreno.
"Caracas é uma cidade bastante complexa onde estamos acostumados a colocar a mão no bolso e comprar as coisas. Agora tomamos a iniciativa do comandante Hugo Chávez para seguir ativando os processos produtivos", afirmou o morador Juan Luis Prieto.
O grande número de edifícios no bairro não impediu a realização dos projetos agrícolas. Segundo Prieto, muitas terraças contam com cultivos organopônicos, através do Plano de Agricultura Urbana.
O governo nacional estima que no primeiro quadrimestre do ano pelo menos 40% dos Clap organizados em todo o país, desenvolvam projetos produtivos nas áreas agrícola, de higiene ou têxtil. Também prevê criar 10 mil padarias comunitárias que estarão a cargo dos comitês.
Atendimento direto
A estimativa neste domingo, Dia Nacional do Clap, é que mais de 27 mil comitês constituídos no país— formados pelos conselhos comunais, UBCh e representantes da Frente Francisco de Miranda e Unamujer— cheguem à meta de seis milhões de famílias venezuelanas atendidas de casa em casa.
Para isso, o governo bolivariano se organiza para ampliar a cobertura dos comitês, para que as próprias comunidades abasteçam e distribuam os alimentos prioritários com o objetivo de combater a revenda, especulação, açambarcamento e contrabando de produtos de primeira necessidade.
A ampliação territorial dos Clap e de sua oferta de produtos foi fortalecida com a instrução do Executivo de que as empresas públicas e privadas destinem 50% de sua produção para estas organizações.
"Este é o mecanismo que estamos usando para conseguir parar esta guerra econômica pouco a pouco. É o mecanismo mais direto para que cheguem os alimentos às famílias", destacou Coribel Medina, que integra o Estado Maior de Abastecimento de El Paraíso, e forma parte das mulheres que lideram a distribuição de alimentos para as famílias venezuelanas.
De acordo com dados oficiais, pelo menos 67% dos integrantes do Clap são mulheres.
A tarefa de Coribel é realizar o censo dos núcleos familiares que vão receber as bolsas com alimentos, informar quando será a jornada de distribuição, quais são os produtos do combo e qual é o preço a ser pago.
Também participa das tarefas de auditoria social para evitar casos de corrupção.
"Cada um dos Círculos de Luta Popular (CLP) e das Unidades de Batalha Bolívar Chávez (Ubch) fazem a auditoria social na comunidade para que os Clap cheguem a quem tem que chegar", explicou à AVN.
Protagonismo popular
Os Clap contam com diferentes áreas de organização para otimizar seu funcionamento. No El Paraíso, incluem comitês de produção, abastecimento, fiscalização, formação ideológica, comunicação, cultura e esporte, saúde e gestão social.
O comitê de comunicação, por exemplo, tem a tarefa de divulgar todas as atividades entre os moradores através das redes sociais.
Como parte desta estrutura, os integrantes do Clap Ezequiel Zamora assumiram ainda a tarefa de particpar da transformação social do bairro caraquenho, integrando os jovens em projetos socioprodutivos.
"Nós trazemos os jovens, abrimos um espaço aqui para que venham participar do trabalho, para que aprendam coisas novas", explicou Ronald Rodríguez, encarregado de outro comitê de produção.