É a resposta de Caracas às sanções lançadas em 25 de Agosto pela administração Trump, mais duras que as da administração Obama em 2014: elas impedem a Venezuela de encaixar os dólares provenientes da venda do petróleo aos EUA, mais de um milhão de barris por dia, dólares até aqui utilizados para importar bens de consumo como produtos alimentares e medicamentos. As sanções impedem também o comércio de títulos emitidos pela PDVSA, a companhia petrolífera do Estado venezuelano.
Washington visa um duplo objectivo: aumentar na Venezuela a penúria dos bens de primeira necessidade e, assim, o descontentamento popular, sobre o qual se apoia a oposição interna (subvencionada e sustentada pelos EUA) para abater o governo Maduro; colocar o Estado venezuelano em situação de incumprimento (default), ou seja, em falência, impedindo-o de pagar as prestações da dívida externa. Isso significa por em situação de falência o Estado que tem as maiores reservas petrolíferas do mundo, quase dez vezes maiores que as dos Estados Unidos.
Dessa forma, Caracas tenta subtrair-se às garras sufocantes das sanções, cotando o preço de venda do petróleo não mais em dólares dos EUA mas sim em yuan chinês. O yuan entrou há um ano no cabaz de moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional (juntamente com o dólar, o euro, o yen e a libra esterlina) e Pequim está em vias de lançar contratos futuros (contratos a termo) de compra-venda de petróleo em yuan, convertíveis em ouro. "Se o novo contrato de futuros ganhar consistência, corroendo nem que seja uma parte do poder esmagador dos petrodólares, isto seria um golpe fulminante para a economia americana", comenta o diário Il Sole 24 ore.
O que está em causa para a Rússia, a China e outros países não é apenas o enorme poder do petrodólar (moeda de reserva extraída da venda do petróleo), mas a própria hegemonia do dólar. Seu valor é determinado não pela capacidade económica real estado-unidense, mas sim pelo facto de que constitui quase dois terços das reservas monetárias mundiais e a moeda com a qual é estabelecido o preço do petróleo, do ouro e das mercadorias em geral. Isto permite ao Federal Reserve, o banco central (que é um banco privado), imprimir milhões de milhões de dólares com os quais é financiada a colossal dívida pública estado-unidense – cerca de 23 milhões de milhões de dólares – através da compra de obrigações e outros títulos emitidos pelo Tesouro dos EUA.
Neste contexto, a decisão venezuelana de destacar do dólar o preço do petróleo provoca uma sacudidela sísmica que, a partir do epicentro sul-americano, faz tremer todo o edifício imperial fundado sobre o dólar. Se o exemplo da Venezuela se estender, se o dólar deixar de ser a principal moeda do comércio e das reservas monetárias internacionais, uma imensa quantidade de dólares seria posta em circulação no mercado provocando o afundamento do valor da moeda estado-unidense.
Eis o motivo real porque, na Ordem executiva de 9 de Março de 2015, o presidente Obama proclamava "a urgência nacional face à ameaça inabitual e extraordinária colocada à segurança nacional e à política externa dos Estados Unidos pela situação na Venezuela". Este mesmo motivo pelo qual o presidente Trump anuncia uma possível "opção militar" contra a Venezuela. Ela está em preparação no U.S. Southern Command, cujo emblema é a águia imperial que domina a América Central e do Sul, prestes a mergulhar com as suas garras sobre aquele que se rebela contra o império do dólar.