Assim começa cada parte do livro Futebol ao sol e à sombra dedicada às Copas do Mundo, nas quais Eduardo Galeano resume os principais acontecimentos históricos, políticos, militares e culturais de cada quadriênio.
Após a Revolução Cubana, são relatados no livro golpes militares, destruições nucleares, descobertas científicas e assassinatos hollywoodianos em todo o mundo. E as fontes bem informadas de Miami continuavam anunciando a queda iminente de Fidel, que ocorreria em questão de horas. Genial.
A esperança reacionária da queda de Fidel não era maior, no entanto, do que o desejo de sua morte por parte de seus inimigos – os inimigos de todos os povos. A cada boato vazado pelos serviços de informação e propaganda de Washington os meios de comunicação noticiavam com alegria seu suposto desaparecimento. Mentiras que se repetiram nos telejornais durante meio século.
Finalmente, puderam encher a boca para anunciar que, agora sim, sem sombra de dúvidas, Fidel Castro morreu. Após cerca de 700 tentativas de assassinato, sempre com o governo estadunidense e a CIA por trás deles, finalmente acertaram na informação.
Infelizmente para a mídia imperialista e mais ainda para os incompetentes serviços de inteligência, a morte de Fidel demorou a chegar. Para os povos de todo o mundo, para os pobres e humildes desta terra, porém, o Comandante nos deixou cedo demais.
Poderia viver mais 90 anos esse que foi o maior ser humano de todo o século XX e também, por seu legado e exemplo, o maior deste século que se inicia.
Um sentimento estranho chega a mim. Foi essa semana que, ao assistir um programa de homenagens a Fidel da televisão cubana, pensei, emocionado, como escreveria um texto sobre ele quando partisse desta vida. Desgraçado pensamento. Imaginei como seria a tristeza da notícia de sua morte para todos nós. Confesso que chorei só de pensar.
Agora que esse momento chegou, infelizmente mais cedo do que imaginava, não consigo escrever nada que seja digno do tamanho daquele homem. Poucos conseguirão homenageá-lo adequadamente com palavras. Talvez Galeano conseguisse, mas também já não está mais entre nós.
Morreu Fidel. Para mim, é como se tivesse morrido um avô que, aliás, jamais conheci. Não conheci nenhum dos meus avôs. Mas conheci Fidel. Li alguns de seus textos, ouvi alguns de seus discursos, me emocionei com as palavras mas principalmente com os feitos desse imenso homem.
Morreu Fidel. Nos deixou fisicamente. Não entrou hoje para a história, isso já o tinha feito há meio século.
Morreu Fidel. O símbolo da fraternidade entre os povos, do internacionalismo, do que o ser humano tem de mais puro e belo.
Morreu Fidel. O choro que emana de todos os cantos do mundo no despertar deste triste dia só não é maior do que o grito pela liberdade alçado aos céus que teve como Fidel um de seus maiores expoentes. Mas nada impedirá as lágrimas de caírem.
Morreu Fidel. Não sei como transmitir essa notícia para o meu pai, que acabou de acordar. Os mais velhos sentem mais dor que os jovens ao ouvir essa notícia? Não sei, acho que sim, porque viveram as conquistas de Cuba sob Fidel.
Fico em dúvida, não sei como falar para ele. E se ele já souber? Também não sabe ao certo como falar isso pra mim. Angustiante. É realmente como falar aos nossos entes mais queridos que o vovô faleceu.
Silêncio absoluto. Coração disparado. Olhos marejados, mais uma vez. Voz gaguejante. Fidel foi para o céu. Meu pai falou primeiro.
Morreu Fidel.
Este texto não tem título. Os parênteses representam o vazio que está dentro de mim neste momento. E, creio, em todos e todas que carregam consigo um pingo de humanidade.
Y si en nuestro camino se interpone el hierro,
pedimos un sudario de cubanas lágrimas
para que se cubran los guerrilleros huesos
en el tránsito a la historia americana.
Nada más.
Che Guevara, Canto a Fidel.
Y si se atreven a tocar la frente
de Cuba por tus manos libertada
encontrarán los puños de los pueblos,
sacaremos las armas enterradas:
la sangre y el orgullo acudirán
a defender a Cuba bien amada.
Pablo Neruda, A Fidel Castro.