A mídia ocidental, por seus espasmos ideológicos e um desprezo óbvio aos povos do Sul, não conseguiu entender a importância histórica de Fidel Castro para Cuba, a América Latina e o Terceiro Mundo. Desde José Martí, o herói nacional cubano, nenhum outro personagem simbolizou com tanta força as aspirações do povo cubano à soberania nacional, à independência econômica e à justiça social.
Fidel Castro é um símbolo de orgulho, de dignidade, de resistência e de lealdade aos princípios e seu prestígio superou as fronteiras de sua terra natal para irradiar o mundo. O líder histórico da Revolução Cubana pegou em armas a favor dos oprimidos e reivindicou seus direitos a uma vida decente. Procedente de uma das famílias mais endinheiradas do país, renunciou a todos os seus privilégios de classe para defender os que não têm voz, abandonados à sorte e ignorados pelos abastados.
Fidel Castro dispõe de uma legitimidade histórica. De armas em mão lutou contra a sangrenta ditadura de Fulgencio Batista durante o ataque ao Quartel Moncada em 1953 e durante a insurreição na Sierra Maestra de dezembro de 1956 a dezembro de 1958. Triunfou contra um regime militar brutal dotado de um impressionante poder de fogo e apoiado pelos Estados Unidos. Em um contexto de hostilidade extrema realizou o sonho de José Martí de uma Cuba independente e soberana e guiou seu povo no caminho da emancipação plena e definitiva opondo uma resistência a toda prova frente às pretensões hegemônicas de Washington.
Fidel Castro também dispõe de uma legitimidade constitucional. Cada um tem direito a pensar o que quiser sobre o sistema eleitoral cubano, mas foi eleito a cada cinco anos, de 1976 a 2006. Antes dessa data era apenas primeiro-ministro e não presidente da República. De fato, contrariamente a uma ideia preconcebida, Cuba teve não menos que quatro presidentes da República desde 1959: Manuel Urrutia de janeiro de 1959 a julho de 1959, Osvaldo Dorticós de julho de 1959 a 1975, Fidel Castro de 1976 a 2006 e Raúl Castro desde 2006, cujo governo terminará em 2018 após a reforma constitucional que limita o número de mandatos a apenas dois.
Nenhum dirigente pode permanecer à frente de um país durante trinta anos, em um contexto de guerra livrada contra os Estados Unidos, sem um apoio majoritário do povo. Obviamente, como em toda sociedade, existem insatisfeitos, críticos e decepcionados. A Revolução Cubana, obra de mulheres e homens, é por definição imperfeita e jamais teve a pretensão de se erigir como um exemplo. Mas a imensa maioria dos cubanos tem muito respeito por Fidel Castro e jamais pôs em causa suas nobres intenções. Os EUA sempre se mostraram muito lúcidos a esse respeito. Assim, em 6 de abril de 1960, Lester D. Mallory, Sub-secretário Adjunto de Estado para os Assuntos Interamericanos, lembrou em um memorando para Roy Rubottom Jr., então Sub-secretário de Estado para Assuntos Interamericanos, o prestígio do líder cubano: “A maioria dos cubanos apoia Castro. Não há oposição política eficaz. […] O único meio possível para aniquilar o apoio interno [ao governo] é provocar o desencanto e o desânimo pela insatisfação econômica e a penúria.” Washington seguiu esse conselho e deu prova de uma hostilidade encarniçada contra os cubanos impondo sanções econômicas sumamente severas que duram até hoje. Mas o empreendimento não foi coroado com êxito. De fato, cerca de meio século depois, a popularidade de Fidel Castro segue viva. É o que pôde constatar Jonathan D. Farrar, então chefe da diplomacia estadunidense em Havana, que não deixou de enfatizar “a admiração pessoal significativa para com Fidel” por parte dos cubanos, recordando que “seria um erro subestimar […] o apoio do qual dispõe o governo, particularmente entre as comunidades populares e os estudantes”.
Três facetas caracterizam o personagem de Fidel Castro. Em primeiro lugar, é o arquiteto da soberania nacional que realizou o sonho do Apóstolo e Herói Nacional José Martí de uma Cuba independente e devolveu sua dignidade ao povo da Ilha. Depois, é o reformador social que se postou ao lado dos humildes e dos humilhados, criando uma das sociedades menos injustas do Terceiro Mundo. Finalmente, é o internacionalista que estendeu uma mão generosa aos povos necessitados e que colocou a solidariedade e a integração no centro da política exterior de Cuba.