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Diário Liberdade
Sábado, 04 Junho 2016 19:17 Última modificação em Sexta, 17 Junho 2016 14:45

Ali, o boxeador que teve seu título mundial cassado por recusar-se a matar vietcongues

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País: Estados Unidos / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Diário Liberdade

Por Eduardo Vasco

No final da década de 1960, a opinião pública estadunidense começou a criticar o envio de soldados ao Vietnã. Não por que os Estados Unidos estavam destruindo o pequeno país asiático e assassinando homens, mulheres e crianças, mas porque muitos jovens americanos não queriam morrer nas selvas de uma nação desconhecida do outro lado do mundo.

Ao todo, morreram 60 mil dos 550 mil soldados estadunidenses enviados ao Vietnã. Do lado da resistência vietnamita, calcula-se que foram mais de 1 milhão as vítimas fatais diretas da brutal agressão ianque.

Muhammad Ali, que convertera-se ao islamismo e deixara de ser Cassius Clay em 1964, foi uma das primeiras figuras públicas a se posicionar contra a intervenção imperialista e contra o massacre da população vietnamita.

Ele foi convocado a se alistar no Exército em 1967, no que se recusou a servir no Vietnã.

“Nunca vi nenhum vietcongue me desrespeitando. É na América que sou insultado.”

Essa foi a reação do medalhista de ouro nas Olimpíadas de 1960 e então campeão mundial dos pesos pesados (1964). Não era apenas uma posição contra a guerra. Na mesma frase, Ali conseguiu criticar tanto a agressão genocida ao Vietnã como também o racismo sofrido pela população negra dos EUA, que não poupava nem mesmo o maior atleta daquela nação.

Certa vez, indignado com o preconceito sofrido em um restaurante mesmo identificando-se como campeão olímpico de boxe, Ali atirou sua medalha de ouro no Rio Ohio. Desta vez, ao recusar-se a matar vietcongues, foi arrancado a força o seu cinturão de campeão mundial dos pesados e sua licença de pugilista cassada por três anos.

O ódio da opinião pública conservadora contra Ali não era apenas por ele ser negro. Afinal, o senhor de escravos não odeia os seus escravos, justamente porque eles o servem. O ódio vinha da insubmissão de Ali, do seu ativismo pela emancipação dos negros e negras estadunidenses e do mundo todo. Ali denunciava todo o sistema de opressão nos EUA.

Os negros sempre foram predominantes nos ringues dos EUA. As décadas de 1960 e 1970 viram a principal geração de pesos-pesados naquele país. Além de Ali, Joe Frazier e George Foreman.

Mas o povo negro não identificava os outros dois como seus representantes. Frazier e Foreman eram vistos com simpatia pelos opressores brancos, que torciam para eles matarem Ali quando suas luvas se encontravam.

Até porque, Foreman, por exemplo, sempre teve orgulho dos EUA. Andava de um lado para outro com a bandeira estadunidense e não gostava que falassem mal do sistema em sua presença. Uma vez, num jantar de comentaristas de boxe, Muhammad Ali gritou para Foreman: “Vou dar uma surra nessa bunda cristã, sua puta branca de bandeirinha”, relata Norman Mailer em seu livro A Luta.

As falas de Ali eram todas críticas ao sistema. Ao final de cada luta, os ringues transformavam-se em palanques. Ele discursava nos microfones de TV. Foi o mais carismático de todos os atletas. Um orador nato.

Fora dos ringues, também não se calava. Participou de uma manifestação contra a Guerra do Vietnã no final dos anos 1960 na qual afirmou: “No ringue existe um árbitro, mas na guerra é preciso matar, matar e matar”.

Curiosamente, Ali buma iê foi o grito de guerra entoado por seus milhares de fãs em Kinshasa, quando derrotou Foreman por nocaute em 1974. “Ali, mata ele!”.

Maior pugilista da história e um dos maiores atletas de todos os tempos, Ali foi campeão mundial dos pesos pesados em três ocasiões. Venceu 57 lutas em sua carreira, sendo 37 por nocaute, e perdeu somente 5.

A última luta de sua vida durou mais de 30 anos. Desde a década de 1980, quando se aposentou, lutava contra o Mal de Parkinson. Na madrugada deste sábado (04), aos 74 anos, Ali foi derrotado.  

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