Em entrevista ao jornalista e escritor Fernando Morais, para o blog Nocaute, o ciberativista australiano revelou que as espionagens feitas pelos órgãos do governo dos EUA, como a NSA (Agência Nacional de Segurança), a membros do governo brasileiro, como a própria presidenta, envolviam interesses políticos, econômicos e financeiros do país norte-americano.
“Cinquenta por cento do orçamento da NSA é destinado a entender qual o rumo que um país, gabinete ou presidente está tomando política e financeiramente, para que os EUA possam reagir e conduzi-lo a um caminho específico, incluindo na lista de alvos as importantes companhias energéticas”, declarou Assange.
A interceptação de conversas telefônicas se soma às informações fornecidas por políticos brasileiros, incluindo o atual presidente, Michel Temer, à embaixada dos Estados Unidos sobre a situação política do Brasil.
A Wikileaks publicou documentos que revelam que, em 2006, Temer foi pessoalmente à embaixada dos EUA fornecer informações e opiniões sobre o Brasil. “Isso mostra um grau de conforto com a embaixada americana que é um pouco preocupante. O que ele terá como retorno? Ele está claramente dando informações internas à embaixada dos EUA por alguma razão, provavelmente para pedir algum favor aos EUA, talvez receber informações em troca”, opinou Assange.
Ele revelou também que a embaixada estadunidense consultou políticos de diversos partidos, do gabinete de Temer e até mesmo do próprio PT, partido da então presidenta Dilma e do ex-presidente Lula.
Os recursos petrolíferos brasileiros sempre estiveram na mira das grandes companhias estadunidenses. Documentos publicados pela Wikileaks descrevem contatos entre políticos brasileiros e representantes norte-americanos do setor a respeito da entrega das então recém-descobertas reservas do pré-sal, que teriam a Petrobras como principal beneficiária em detrimento das empresas estrangeiras. Os políticos defendiam a não exclusividade da Petrobras nos ganhos com a exploração do petróleo, favorecendo o acesso de empresas como a Chevron e a ExxonMobil.
“Considerando a intenção do Departamento de Estado dos EUA em maximizar os interesses da Chevron e da ExxonMobil, [o Brasil] está provendo aos Estados Unidos inteligência política interna sobre o que se passa politicamente no país e com essa informação pode fazer manobras pelo interesse das grandes companhias americanas de petróleo que não está necessariamente alinhado com os interesses do Brasil”, afirmou o ciberativista.
A garantia de 30% da exploração do pré-sal nas mãos da Petrobras – lei aprovada em 2010, cujo atual governo está tentando acabar – não favoreceria as multinacionais norte-americanas, mas sim competidores, como a estatal China Oil ou a russa Gazprom, que poderiam “aportar mais recursos ao Brasil”, de acordo com Assange. “Essa questão da Petrobras é realmente uma questão sobre que tipo de estado o Brasil quer ser. Um estado forte ou um estado muito fraco com grandes empresas estrangeiras e multinacionais tomando conta dos seus recursos naturais?”, questionou.
Ainda segundo ele, a Petrobras é considerada um aliado do PT pelos opositores, o que faz com que queiram reduzir o poder da empresa, favorecendo as companhias estadunidenses. “Portanto, uma maneira de trocar favores com os Estados Unidos é facilitar para a Chevron e a ExxonMobil o acesso a partes do petróleo.”
Todo esse processo poderia ficar ainda mais claro ao se observar que a Exxon foi o segundo maior frequentador da Casa Branca durante todo o mandato de Barack Obama, visitando-o, em média, uma vez por semana, segundo Assange. Seu CEO, Rex Tillerson, foi nomeado o novo secretário de Estado por Donald Trump. Além disso, quando era secretária de Estado, a ex-candidata à presidência Hillary Clinton teve como uma de suas principais funções “pressionar a favor dos interesses das empresas de petróleo”.
“O que podemos ver nas mensagens [vazadas pela Wikileaks] é que o Departamento de Estado está constantemente focado em tentar conseguir bons acordos e tentar manipular em nome da Chevron e da Exxon”, destacou o ativista digital.
Para poder implementar com sucesso esses planos, foram fundamentais as campanhas nos meios de comunicação utilizando “robôs” nas redes sociais que difundiram massivamente boatos e convocaram a população para ir às ruas a favor do impeachment. Assange acredita que isso foi financiado por capital estadunidense.
“Essas coisas não acontecem na América Latina sem apoio dos EUA, financeira e logisticamente, por meio de Inteligência”, disse.
“O Brasil é um país que atrai muito interesse. Se você olhar para a quantidade de espionagem em diferentes países da América Latina, é o país mais espionado pelos EUA”, revelou. Explicou ainda que o motivo é simplesmente o Brasil ser “mais importante economicamente”.