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Sexta, 17 Fevereiro 2017 01:53 Última modificação em Segunda, 20 Fevereiro 2017 14:23

Sobre a sondagem eleitoral para 2018

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País: Brasil / Institucional / Fonte: Diário Liberdade

[Roberto Bitencourt da Silva] Os números apresentados pela CNT/MDA, a respeito das intenções de voto para presidente da República, oferecem algumas informações que podem ser consideradas alvissareiras. Contudo, especialmente o perfil do acolhimento desses números – nas redes sociais, no jornalismo dos conglomerados e mesmo alternativo – requer maior prudência e reflexão. Senão, vejamos.

A sondagem confere liderança folgada para o ex-presidente Lula. Os números poderiam ser ainda maiores, considerando o poder dos meios de comunicação na moldagem da opinião pública e a característica maior das sondagens, que tradicionalmente buscam mensurar a capacidade de influência da pauta e dos enquadramentos dos conglomerados de mídia.

​Isto é, os assuntos privilegiados, os personagens louvados e demonizados etc. Como de notório conhecimento, pouco importando a opinião política que se possa ter sobre o ex-presidente da República, o fato é que Lula é vítima de perseguição e satanização midiática.

Como era de esperar, a sondagem reflete um aspecto da atuação dos veículos de comunicação: eles têm maior capacidade para obscurecer, neutralizar, silenciar temas etc., do que propriamente para manipular. Em todo caso, o fenômeno empobrece, amesquinha, e muito, a democracia. Quase a ponto de anulá-la. Mas, a última e decisiva barreira para os seus apelos, sobretudo das TVs, é a experiência cotidiana dos grupos e das classes sociais.

Como o povo tem a sua sabedoria prática, as suas vivências cotidianas que contradizem muitas ideias e projetos de sociedade defendidos pela mídia, a agenda vende pátria e reacionária do governo golpista de PMDB, PSDB, DEM e satélites, de maneira alguma passa pelo crivo do voto. A sondagem demonstrou tal realidade, que é politicamente bastante alvissareira. Os mervais, as leitões, que durmam com um barulho desses.

Dito isso, na contramão da receptividade calorosa demonstrada pelas redes sociais, atores políticos, parcelas dos movimentos sociais e do jornalismo alternativo, a flagrante aposta em Lula para 2018 merece reflexão. Detida e atenciosa.

Em primeiro lugar, não vejo o menor sentido no entusiasmo sobre 2018. O mais básico: não existem mais garantias constitucionais (a Carta de 1988 está sendo constantemente rasgada); estamos sujeitos a um golpe de estado que visa alienar a população de vez em relação à coisa pública e entregar o país como colônia, aos banqueiros, às multinacionais e aos latifundiários; a justiça, se já deixava muito a desejar, ora está descaradamente mergulhada no golpe, no desmonte nacional, cega para as leis, o povo, o País; o uso das Forças Armadas como polícia do cotidiano começa a ser introduzido, com forte tendência a se generalizar e enraizar-se no País.

Haverá eleição em 2018? Haverá ainda sistema presidencialista? Lula poderá concorrer ou será grotescamente afastado? Não há garantias constitucionais, reitero.

Outra coisa: não fossem os "pequenos" detalhes acima, qualquer candidatura presidencial precisa representar setores da sociedade, oferecer uma visão mínima de País etc.

O ex-presidente Lula representa o que? Uma conciliação interclasses, em um período de expansão dos preços e das vendas dos bens primários no mercado internacional. Esse período de boom das commodities foi para o beleléu. A retração é geral e assim perdurará por bastante tempo. Lula teria que se colocar em condição conflitiva frente ao grande capital. Não é seu perfil.

Então, o ex-presidente buscaria apoio de quem não quer saber de conciliação alguma? De amplas frações das burguesias locais e forâneas que rasgaram a Constituição, um dos pilares institucionais – e derrubados – da conciliação política?

Apoio de setores que declararam guerra aberta de classes aos trabalhadores do setor privado, aos servidores públicos, aos jovens estudantes, aos idosos, aos humildes desempregados e subempregados e até à pequena burguesia?

Sem bases políticas e sociais o projeto e o modo de operacionalização política encarnados por Lula naufragaram. O mesmo vale para Ciro Gomes, que aborda um "nacional desenvolvimentismo" sem agentes que deem carne, suporte às suas etéreas aspirações.

Dito isso, não tem saída fácil e cômoda. Lançar energias e olhar com demasiada esperança para as eleições, senão são perda de tempo, não deveriam adentrar o cento das expectativas e das ações. É um meio obtuso e enviesado de legitimar o atual estado de coisas no País, submerso em um contexto de medidas golpistas de exceção, de flagrante enclausuramento político oligárquico e de ditadura aberta do grande capital.

O fundamental nessa quadra é o Povo se organizar, pleitear, lutar e se mobilizar muito. Se houver eleição (há alguma garantia real?), uma candidatura teria que nascer como expressão da vontade popular, sem qualquer compromisso com reacionários vendilhões da Pátria.

Demandaria ter suporte popular amplo, com disposição e convicção. Nenhum governante ou candidato potencialmente contrário ao regime de exceção e neocolonial imposto à Nação teria condições de se manter no cargo, sem dilatadas bases sociais populares, dos trabalhadores, norteadas por esclarecimento, convicção e envolvimento. Talvez sequer possa se candidatar.

Não há milagre, nem milagreiros que resolvam os graves problemas brasileiros. Resta-nos apostar como foco principal: organização, educação política e mobilização, para preservar direitos e capacidade de repercussão dos anseios populares na agenda pública, com força de incidência na vida política, hoje sob bloqueio de parasitas reacionários e entreguistas. Essas ações são decisivas. O resto vira quase espuma, no presente momento.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político. Blog: http://jornalggn.com.br/blog/roberto-bitencourt-da-silva/

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