Sob intensa repressão policial, os edifícios de sete ministérios foram atacados, dois pegaram fogo. Os manifestantes enfrentaram a polícia, que chegou a disparar munição letal em meio às costumeiras balas de borracha, e um bombardeio de bombas de gás atiradas de helicópteros.
A situação evoluía nesse sentido até que as Forças Armadas foram chamadas pelo governo a intervir e a repressão se intensificou, dispersando o protesto.
Não fosse o fato de que a polícia iniciou a repressão ao ato antes mesmo que a maioria dos manifestantes tivessem se agrupado defronte o Congresso Nacional, as coisas poderiam facilmente ter saído de controle.
É o que acontece quando uma multidão compacta se reúne e avança com um objetivo determinado. E foi justamente isso que a brutal repressão em Brasília tentou evitar. Seria infinitamente mais difícil conter o protesto do último dia 24 se a repressão não tivesse dispersado a manifestação antes mesmo que ela pudesse reunir forças suficientes para enfrentar a polícia.
O risco que a burguesia corre ao promover a derrubada do governo Temer “por cima” enquanto tenta conter o protesto dos “de baixo” já foi experimentado em outras oportunidades em que a repressão falhou na tentativa de conter manifestantes. Nessas circunstâncias, a ocupação dos prédios do governo, como já ocorreu com a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, em outra oportunidade, poderia facilmente resultar na queda do governo. É o que explica o medo e o cuidado na repressão, como se viu em Curitiba, no último dia 10. O fórum de Sérgio Moro foi cercado e cuidados foram tomados para que os manifestantes sequer chegassem perto do local onde Lula estava sendo interrogado.
O país é como um barril de pólvora, com um enorme estoque de material explosivo: 14 milhões de desempregados e 9 milhões de subempregados, isto é, um quarto da força de trabalho em situação periclitante.
Por isso a burguesia teme. A classe dominante, que mostrou ser incapaz de resolver o problema sob sua própria perspectiva, quer evitar que tudo seja levado pelo turbilhão da revolução social.
A burguesia trabalha agora para corrigir os rumos do seu plano. Emendar a economia, recolocar o monstro da classe operária na jaula. Como em toda manobra, por mais elaborada que seja, abre-se uma etapa perigosa, na qual a ação da classe oprimida pode fazer os donos do golpe perderem completamente o controle.