NOTA DE REPÚDIO SOBRE O ACAMPAMENTO SOL NASCENTE
O Movimento de Luta pela Terra vem a público manifestar-se e repudiar a invasão realizada pelo MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, no acampamento Sol Nascente no Estado do Paraná.
O MLT é um movimento que originou-se em 1993, no Estado da Bahia, num contexto de crise econômica que assolou o Estado e resultou em cerca de 100 mil desempregados naquela região.
O desemprego provocou substanciais mudanças nas relações de trabalho. E assim, o movimento nasceu com princípios e práticas de desenvolvimento de um projeto popular. A piora das condições de vida tem sua raiz na forma como está organizada a sociedade e a política adotada pelos governos de cada época.
Nesse sentido, o objetivo do MLT é colocar o trabalhador/trabalhadora como sujeito coletivo e demonstrar que os problemas do Povo não são culpa dos indivíduos.
O MLT se implantou em várias cidades e hoje encontra-se presente em 16 Estados da Federação mais o Distrito Federal, recriando as formas de luta (ocupações, assentamentos, marchas, grupos de famílias) e com significativas conquistas econômicas e avanços organizativos.
Hoje o movimento tem mais de 18 mil trabalhadores organizados entre acampados e posseiros em todos Brasil e cerca de 30 mil assentados.
A luta do MLT passa de maneira transversal pelos pilares da luta pela terra, da luta pela Reforma Agrária, da luta pela a democracia inclusive entre movimentos sociais e acampados e na luta de classes, contra o capital escravagista, pela sustentabilidade ambiental, por uma sociedade mais justa e fraterna, mas principalmente pelo respeito mútuo por cada companheiro e companheira de lutas e movimentos sociais.
O movimento entende que para a conquista de uma sociedade socialista e democrática que nasce de um projeto popular é imprescindível que estruturas, organizações e movimentos estabelecidos devam ser respeitados. De forma contrária é que se deram os diversos golpes de estado na democracia do nosso país. Pela imposição arbitrária de seu poder e de suas ideologias.
Foi o que aconteceu no 06/06/2017 no acampamento Sol Nascente, onde violentamente, com aplicação de técnicas de tortura e utilização de armas de fogo o MST invadiu e tomou para si o acampamento Sol Nascente coordenado pelo MLT.
Vale ressaltar ainda que o crime foi orquestrado por pessoas já beneficiadas com a política de assentamentos da Reforma Agrária. Nada justifica o ocorrido!
A coordenação do acampamento Sol Nascente, bem como um menor, tiveram suas casas invadidas, foram amarrados torturados, ofendidos moral e fisicamente, foram sequestrados, roubados e furtados em todos os seus pertences. Ficaram na rua desprovidos de qualquer dignidade da pessoa humana. Tudo registrado nos autos do inquérito policial n. 79357/2017 da 52ª Delegacia Regional de Polícia de Peabiru.
No campo, os latifundiários e o agronegócio contratam pistoleiros e jagunços para matar, prender, torturar, amedrontar e expulsar os camponeses e tradicionais das terras. Essa prática NÃO pode ser dar de um movimento contra o outro para ter direito à terra.
A Comissão Pastoral da Terra divulga todos os anos relatório de Conflitos no Campo do Brasil. É inadmissível que o MST entre para essa estatística como autor destes crimes. O trabalhador/a do campo já sofre demais com o agronegócio que representa o poder das classes sociais hegemônicas.
É inadmissível que um movimento como o MST, que constantemente repudia atos de violência das forças opressoras do Estado em processos de reintegração de posse, atue de forma tão violentamente quanto a de seus algozes.
Há de ressaltar que ainda temos vítimas com bala alojada no corpo, vítima de tentativa de homicídio, que ainda não foi possível ser removida.
Essa prática de desrespeito à outros movimentos, não condiz com a luta dos movimentos de luta pela terra. Invadir área declaradamente ocupada por algum movimento é crime e os responsáveis devem responder.
Muito pertinente que essa invasão tenha ocorrido em momento próximo à conquista da terra e a concretização dos sonhos daquelas famílias acampadas. Pertinente e conveniente para seus interesses próprios de querer assentar suas famílias a todo custo sem se importar com pactos de ética moral. De certo souberam que a área logo será destinada a implementação efetiva do assentamento e resolveram a todo custo toma-la para si. Pois reafirmamos, NADA JUSTIFICA O OCORRIDO.
O acampamento Sol Nascente é uma luta de 4 anos do MLT que despendeu toda sua energia ao longo desses anos com cerca de quase 200 famílias para que elas pudessem ter seus sonhos realizados.
O MST não apenas usurpou um acampamento que não lhe pertence, como também está expulsando os ocupantes legítimos da área e adentrando com outros ocupantes, com o objetivo de descaracterizar uma ocupação consolidada há anos.
Por fim, diante das diversas tentativas infrutíferas de diálogo com o MST, o MLT denúncia os crimes cometidos, incluindo uma tentativa de homicídio e repudia esse tipo de invasão com companheiros de luta. Essa prática não condiz com a luta travada pelos movimentos de direito à terra.
O MLT reafirma seu compromisso com suas lutas e com os acampados do Sol Nascente. Não seremos coniventes com esse tipo de prática e para que a paz no respeito e ética entre os movimentos se perpetue como sempre ocorreu, o MLT reivindica a retirada e o recuo imediato do MST em querer estear sua bandeira numa luta que não lhe pertence, mas que pertence sim ao MLT que já se arrasta por duros 4 anos naquela ocupação.
MLT, a luta é pra valer! Não aceitaremos retrocessos!
MLT – Movimento de Luta pela Terra