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Diário Liberdade
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Quinta, 03 Agosto 2017 15:44 Última modificação em Terça, 29 Agosto 2017 13:43

Jean Wyllys, fantoche do imperialismo

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País: Venezuela / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Diário Liberdade

[Eduardo Vasco] Quando leio um texto do deputado do PSOL sobre o cenário internacional, penso estar lendo um artigo da Folha ou do Estadão. Não fosse o verniz de esquerda, como frases do tipo “a esquerda não pode apoiar blá blá blá”, seus textos poderiam muito bem ser de autoria de algum colunista da Veja.

A questão é que Jean Wyllys já não consegue enganar tanta gente mais. Vamos pegar aqui o episódio emblemático que serviu como espetáculo de manipulação midiática nos últimos dias: a Assembleia Constituinte na Venezuela. Fazendo coro com toda a propaganda da imprensa burguesa e controlada pelo imperialismo, o político pequeno-burguês atacou o presidente Nicolás Maduro, tachando-o de ditador, repressor, autoritário.

Por quê? Engolindo como a mais absoluta verdade as mentiras da imprensa, Wyllys coloca nos ombros do governo venezuelano a culpa das mais de 100 mortes ocorridas desde abril, quando a oposição direitista, patrocinada pelos EUA, declarou novamente guerra ao chavismo. De lá pra cá, violentos protestos foram realizados, com destruição de prédios públicos, invasão de quartéis, e sangue, muito sangue, isso é certo. Entretanto, somente cerca de 10% dessas mortes foram devidas à ação policial – os responsáveis já foram desligados de suas funções, alguns já foram julgados e condenados e outros ainda estão em processo de julgamento. A oposição utiliza armas de fogo nos protestos, pistolas, granadas, bombas, além de pagar mercenários para cometerem atos criminosos e provocarem de todas as formas os efetivos das forças de segurança.

Mas não é só nas manifestações “pacíficas”, como diz a imprensa manipuladora, que a direita golpista executa seus crimes. Bandos fascistas andam nas ruas e agridem cidadãos comuns suspeitos de serem simpatizantes do chavismo. Há cerca de dois meses, um jovem negro foi pego em uma emboscada, linchado e queimado vivo. Enquanto seu corpo pegava fogo, já quase nu, os “pacíficos” opositores continuavam a insultá-lo, golpeá-lo e amedrontá-lo. Ele morreu no hospital. Assim como ele, mais de 30 pessoas já tiveram seus corpos queimados em ações semelhantes, perpetradas pela extrema-direita “pacífica”, que já matou muito mais gente do que o que é atribuído às forças de segurança.

Mas, voltemos a Jean Wyllys, o estandarte da liberdade contra a opressão, que censura comentários contrários às suas posições em sua página de Facebook. Ele também ataca o “regime autoritário” de Maduro porque os políticos da oposição supostamente seriam perseguidos. Enrique Capriles, golpista de carreira, está tão livre que participa ativamente ao lado de criminosos nas manifestações violentas pela derrubada do governo. Leopoldo López é ligado estreitamente à CIA desde os anos 1990, participou do golpe de 2002 que causou dezenas de mortes e anulou a Constituição até que foi derrotado, continuou seu intercâmbio com os serviços de inteligência dos EUA e liderou as ações criminosas que deixaram 43 mortos em 2014 – por isso foi julgado e preso.

O imperialismo asfixia a Venezuela. Sanções, diminuição do preço do petróleo, estocamento de produtos básicos por parte dos grande empresários, especulação gerada a partir disso (assim como o contrabando), pressões dos regimes títeres na OEA e Mercosul, manipulação midiática. A única coisa que falta é a invasão militar, que seria o remédio do imperialismo para a doença que ele mesmo criou. E o deputado do PSOL contribui fielmente para isso, como um verdadeiro papagaio a favor da agressão imperialista – de forma semelhante com o que faz a respeito de outros países, tais como Coreia do Norte e Síria, sem falar no apoio ao massacre do povo palestino pelo regime sionista de Israel (o qual Wyllys apoia publicamente).

Maduro, entretanto, não cai. Exatamente no dia do Trabalhador, 1º de maio, o presidente venezuelano convocou a Assembleia Nacional Constituinte. Esse ditador, eleito em 2013, cuja coalizão perdeu as eleições legislativas de 2015, convocou uma nova eleição. Mas, desta vez, uma radicalização da democracia burguesa, que chamou as classes populares a votarem e a se candidatarem para aprimorar a constituição de 1999 – convocada por Chávez, outro ditador, como promessa de campanha caso vencesse a eleição de 1998, e que reformou o Estado venezuelano ao colocar pela primeira vez na história as classes populares como agentes políticos.

O “ditador” Maduro, junto com o seu aparelho de governo, sugeriu alguns pontos que devem ser incluídos na nova constituição, dentre os quais:

  • – Estabelecer o caráter constitucional das missões. Ou seja, os programas sociais, que são as chamadas “Missões” (como a Gran Misión Vivienda que já construiu quase 2 milhões de moradias desde 2011 e a Misión Barrio Adentro que leva médicos à periferia para cuidar da população pobre em consultórios populares e dentro das próprias residências), deverão estar agora na Constituição do país, obrigando o Estado a implementá-los.

  • – Constitucionalizar as comunas. As mais de 1.700 comunas espalhadas pela Venezuela, nas quais a população se auto-organiza, serão integradas definitivamente à Constituição, junto com os conselhos comunais e os Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAPs), que são ferramentas para a população organizada enfrentar a guerra econômica ao produzir e distribuir os produtos básicos a preços justos nos mercados populares. Durante uma manifestação em Caracas logo após a convocação da Constituinte, militantes organizados nas comunas reivindicaram um papel protagonista a elas: “a comuna deve se transformar em governo para resolver com mais eficiência os problemas das comunidades”, disse um comuneiro.

  • – Ampliar e aperfeiçoar o sistema econômico. A Venezuela já passou da hora de diversificar sua economia, para se industrializar e não ser dependente da renda do petróleo – a crise petroleira é uma prova disso, pois o governo não pode controlar os preços internacionais do petróleo, manipulados pelo imperialismo.

 

Outros pontos são ligados à defesa do meio ambiente, o caráter plurinacional do país, que tem uma diversidade de povos indígenas, e a defesa da soberania e integridade da nação venezuelana, uma vez que o país sofre uma agressão violenta das forças imperialistas.

Os três meses que separaram a convocação da votação constituinte foram marcados por fortes debates e discussões entre a população, especialmente os operários, camponeses e estudantes. Neles, participaram também o movimento de mulheres, trabalhadores rurais, religiosos, idosos, pessoas com deficiência, reitores de universidades, dentre outros.

Mais de 55 mil pessoas se candidataram à uma vaga na Assembleia Nacional Constituinte (ANC). Houve duas formas de votação: territorial (na qual cada região e grande cidade teve seus candidatos) e setorial (cujos setores específicos da população puderam se candidatar). Das 545 vagas à ANC, 364 foram destinadas aos territórios e 181 aos setores sociais. Dentre estes últimos, 79 cadeiras foram destinadas aos trabalhadores, 28 aos aposentados, 24 aos estudantes, 24 aos conselhos comunais e comunas, 8 aos camponeses e pescadores, 8 aos índios, 5 às pessoas com deficiência. Ah, e cinco aos empresários.

Será uma Assembleia Nacional Constituinte com ampla participação popular, cujos membros são, em sua maioria, da classe trabalhadora. Ela estará acima de qualquer outro poder do Estado, nem o Executivo nem o Legislativo e o Judiciário poderão impedir as decisões da ANC.

Na lógica de Jean Wyllys, isso tudo é obra de um governo ditatorial. Consigo ver duas hipóteses para a posição completamente bizarra do deputado psolista: 1) ele é totalmente desinformado e ataca o governo de Maduro por ingenuidade; 2) ele é informado mas não concorda em absolutamente nada com a política chavista. Para ser um suposto porta-voz de uma camada social, é preciso estar a par da realidade. Creio que ele não seja tão desinformado assim, portanto acho mais viável a segunda hipótese – o que colocaria Wyllys no mesmo balaio dos setores mais reacionários que atacam Maduro justamente por ele enfrentar a direita e o imperialismo e se apoiar na mobilização dos trabalhadores.

É preciso ter claro uma coisa: em um processo de acirramento da luta de classes, no qual os trabalhadores não estão lutando somente contra a burguesia mas também contra o imperialismo, não há meio-termo. Ou se está do lado dos trabalhadores (e os trabalhadores estão do lado de Maduro, com razão) ou se está do lado da direita golpista patrocinada pelo imperialismo. E Wyllys está do lado da direita e do imperialismo contra os trabalhadores venezuelanos.

Ora, isso levanta uma outra questão. Talvez contraditoriamente, Jean Wyllys foi contra o golpe no Brasil que derrubou Dilma Rousseff. Analisando mais de perto, isso não é tão contraditório assim. O golpe no Brasil teve pouca reação popular, totalmente diferente do que acontece na Venezuela. No país vizinho, multidões de trabalhadores saíram e ainda saem todas as semanas às ruas para defender o governo e rechaçar a direita e o imperialismo, Maduro convoca à luta, discursa inflamadamente apelando às massas, garante que não vai cair, chegou a expropriar fábricas e colocá-las nas mãos dos trabalhadores com fiscalização do governo, incentivou a organização popular para combater os boicotes da direita, peita o imperialismo e seus fantoches como os regimes golpistas de Temer e Macri.

É por isso que Jean Wyllys o chama de ditador, motivo que é compartilhado pela direita e a imprensa capitalista brasileira. Possivelmente, se Dilma tivesse resistido ao golpe da mesma forma que Maduro, radicalizando a situação política, apoiada nas massas, e enfrentado a direita e o imperialismo, Wyllys teria escancarado seu verdadeiro posicionamento pequeno-burguês. O que ele quer é paz entre as classes, o que significa exploração violenta dos trabalhadores e subordinação total ao imperialismo. Quer direitos, mas como fica comprovado ao atacar Maduro, os direitos que ele quer são aquelas migalhas a determinados setores da população dadas pela burguesia, e não direitos arrancados pelas massas em sua mobilização de enfrentamento com os exploradores.

A direita venezuelana e o imperialismo, como já sinalizou Donald Trump, continuarão e aprofundarão seus ataques à Venezuela. O povo venezuelano luta por sua soberania e a nova fase da chamada Revolução Bolivariana, com a ANC, aumenta a radicalização da luta, com os trabalhadores sendo agentes decisivos do rumo do país. Não tem mais como esconder de que lado está, Jean Wyllys deve continuar sua saga subordinado ao imperialismo, e dessa vez será mais difícil culpar Maduro e chamá-lo de ditador. O alvo real de seus ataques serão inevitavelmente os trabalhadores, o que significa apoiar a burguesia e o imperialismo e atacar também os trabalhadores do Brasil e de toda a América Latina.

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