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Domingo, 12 Junho 2016 20:08 Última modificação em Quarta, 15 Junho 2016 21:08

Insatisfação com Temer em alta, atos contra o golpe em baixa

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País: Brasil / Reportagens / Fonte: Gazeta Operária

[Alejandro Acosta] No dia 10 de junho, sexta-feira, ocorreram, nas principais cidades do País, manifestações pelo “Fora Temer” convocadas pela Frente Brasil Popular (FBP) e pela Frente Povo Sem Medo (FPSM).

Essa foi a primeira grande manifestação de caráter nacional organizada por essas duas frentes após o golpe parlamentar que levou Michel Temer (PMDB) à presidência da República e afastou Dilma Rousseff do cargo para o qual foi eleita em outubro de 2014. Outro ingrediente do ato é que a CUT e os demais sindicatos convocaram uma greve geral para essa data e, além disso, em diversas cidades, era aguardada a presença de membros importantes da cúpula petista. Em São Paulo, por exemplo, o Ato contou com a participação do ex-presidente Lula.

Se somarmos a tudo isso a crescente impopularidade de Temer, o ato de ontem poderia ter sido a maior de todas as manifestações contra os golpistas. Poderia, mas não foi. No que pese que a manifestação tenha sido expressiva, como todas as convocadas com essa bandeira, o Ato pelo “Fora Temer” foi, inclusive, o menor dentre os de caráter nacional convocados neste ano. As manifestações dos dias 18 e 31 de março, por exemplo, foram muito maiores do que essa última. Tomemos o exemplo do ato de São Paulo. No dia 18 de março, quando a manifestação também ocorreu na Av. Paulista foram ocupados 11 quarteirões, segundo a própria imprensa burguesa. Na ocasião, os organizadores chegaram a falar em um milhão de pessoas e, cálculos mais realistas, em 100 mil. Na última sexta-feira, a mobilização era visivelmente menor, ocupando algo próximo a 300 ou 400 metros das duas pistas da Av. Paulista e aglomeração humana concentrada em pouco mais de dois quarteirões. Nos cálculos mais otimistas e dentro da realidade, estavam se manifestando ontem aproximadamente 15 mil pessoas.

Como vínhamos apontando no jornal Gazeta Operária, a insatisfação com os golpistas apenas tem crescido após a subida de Temer como presidente interino. Seu governo, mesmo em um período de tempo tão curto, já apresenta graves sinais de crise e sua popularidade é baixa. Uma pesquisa, que provavelmente deve ter manipulado os números a favor do governo golpista, realizada pela CNT/MDA, mostra que apenas 11,3% dos brasileiros aprovam a atual gestão presidencial. As propostas de Reforma Trabalhista e da Previdência, os cortes no orçamento e tantos outros ataques têm provocado várias manifestações espontâneas ao longo do último mês. Os alertas dados pelos oponentes do golpe se mostraram verdadeiros e nota-se uma clara desmoralização dos “coxinhas” recrutados para apoiar a direita. Nesse cenário, o contraste entre as condições tão favoráveis à mobilização e o insucesso dela, precisa ser analisado. Por que tanta gente que participou dos atos anteriores não compareceu ontem à Avenida Paulista.

O SIGNIFICADO POLÍTICO DA TRAIÇÃO DA “FRENTE POPULAR”
A explicação para a contradição apontada acima está na desmoralização da “frente popular” diante de importantes parcelas das massas e da classe trabalhadora. Por um lado, começam a aparecer os resultados da capitulação da cúpula do PT diante do golpe parlamentar. Os dirigentes sindicais e do movimento popular ligados à cúpula petista e seus aliados, boicotaram o quanto puderam as manifestações para barrar o impeachment. Levaram-no para o terreno parlamentar para usar os manifestantes como base de apoio para seus conchavos com a direita e, por fim, se viram abandonados por praticamente todas as alas do PMDB e outros partidos que, em tese, fariam parte de sua base de apoio. Chamaram a população e a classe trabalhadora a confiarem em seus acordos com os demais partidos e mostraram a completa ineficácia dessa política para barrar a ofensiva da direita.

A burocracia do movimento sindical e popular, por outro lado, prometeu enormes mobilizações caso o impeachment fosse aprovado. Dirigentes do MST, por exemplo, declaram inúmeras vezes que, caso Temer subisse á presidência, iriam inviabiliza-lo. Os dirigentes da CUT prometeram o mesmo.

Prometeram, mas não cumpriram.

Nesse sentido, o aumento da revolta popular e o fracasso da mobilização convocada pela Frente Popular representa um sintoma de que a classe operária está se desvinculando dessas organizações burocráticas após as experiências mal sucedidas com a luta anti-golpista. A perda de autoridade da burocracia sindical petista começa a dar sinais mais claros Esse fato poderá se tornar determinante caso a classe operária entrar em movimento nas campanhas salariais que ocorrerão no início do segundo semestre como, por exemplo, vai ocorrer com os trabalhadores dos Correios, da Petrobrás e da indústria metalúrgica.

Outro aspecto importante é que a capitulação do PT diante da direita fica mais clara a cada dia. Um dia antes da manifestação, na quinta-feira (9), em entrevista ao jornalista Luís Nassif, Dilma Rousseff declarou que, caso voltar à Presidência, irá convocar um plebiscito para chamar novas eleições. Essa declaração confirma duas políticas: uma tentativa de acordo com os golpistas, pois a defesa de “eleições gerais” é, diga-se de passagem, a bandeira da ala mais a direita do golpe; uma completa capitulação, pois com a negativa de seu afastamento da Presidência, Dilma estaria abrindo mão do próprio mandato por pressão da direita e do imperialismo.

GREVE GERAL SEM A CLASSE OPERÁRIA?
O Ato realizado em São Paulo não foi apenas o menor em número de participantes, foi o menos expressivo no que diz respeito à presença da classe trabalhadora organizada. Isso em um dia em que estava sendo realizada, supostamente, uma “greve geral”.

A greve geral é uma bandeira que a classe operária deve levantar. Porém, é preciso denunciar que a “greve geral” defendida pela burocracia do PT nada tem a ver com uma verdadeira mobilização dos trabalhadores. Os revolucionários, nesse sentido, precisam concentrar os esforços nos locais de trabalho por meio de uma ampla atividade de propaganda e organização dos trabalhadores, sobretudo em categorias de ponta e que estão sendo alvo de ataques do governo e têm suas datas–bases marcadas para os próximos meses, como os Correios e a Petrobras.

A luta contra o golpe deve ser acompanhada das lutas pelos interesses e reivindicações dos trabalhadores, sobretudo da bandeira contra o “ajuste fiscal”, que nada mais é que a transferência da crise para a classe operária.

– Fora Temer! Não às eleições golpistas!

– Fora o imperialismo da América Latina

– Contra o Ajuste Fiscal! Que os patrões paguem pela crise!

– Não à privatização dos Correios, Petrobras, bancos públicos e demais estatais!

– Por um partido operário, revolucionário e de massas!

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