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Domingo, 22 Abril 2018 00:00 Última modificação em Quarta, 25 Abril 2018 23:09

Debate no PSOL - Opinião de Jorge Nogueira: "Com Guilherme se dá um verdadeiro Boulos"

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País: Brasil / Batalha de ideias / Fonte: MonBlog

Reproduzimos a seguir um texto enviado para o Diário Liberdade pelo Jorge Nogueira, publicado originalmente no seu MonBlog, e que vem acrescentar mais uma voz no debate que nestes momentos se desenvolve no Psol brasileiro:

Com Guilherme se dá um verdadeiro Boulos no PSOL!

Em suma, com Guilherme se dá um verdadeiro Boulos nas bases fundacionais do PSOL!

Duas postagens de Facebook de dois integrantes da Unidade Socialista (US), corrente majoritária que dirige o PSOL, são bastante elucidativas para a compreensão do que está acontecendo no partido neste momento. A primeira é de José Luis Fevereiro, em resposta à crítica econômica da Plataforma Vamos realizada pelo pré-candidato Plínio de Arruda Sampaio Jr. A segunda é do presidente nacional, Juliano Medeiros, sobre a resistência de setores do partido à candidatura de Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

A publicação de Fevereiro, embora tenha falhado no objetivo de rebater as posições de Plínio (em realidade as confirmaram), tem o mérito da honestidade. Sua intervenção econômica aborda a dívida pública e o crescimento econômico. Ele assume de forma clara, e sem rodeios, o que outros tentam ocultar e dissimular: o caráter burguês e extremamente recuado da Plataforma Vamos.

Ele começa abordando a dívida pública, cita os casos de elevado endividamento de países como Estados Unidos e Japão e faz a analogia com o Brasil para concluir que o “problema da Dívida Publica não é de estoque mas de fluxo, determinado pela taxa de juros abusiva e esse é o principal enfrentamento a ser feito”. [1]

Se já estão dadas as condições para a redução dos juros ou se isso demandará algumas medidas (e quais seriam elas) não é mencionado mas Fevereiro informa o principal: o desejo de ter como eixo a linha keynesiana de seguir rolando a dívida (e aumentando o seu estoque) e tentar administrá-la com a doce ilusão de que o efeito disso em um país atrasado e com a soberania surrupiada pelo grande capital seja o mesmo que nos países imperialistas – efeito na verdade exagerado uma vez que a aprovação do orçamento governamental nos Estados Unidos tenha sido polêmica nos últimos anos, exatamente devido à dívida.

Com essa linha, até mesmo a auditoria, bandeira histórica do PSOL, é abandonada, com direito a sobrar até para a Dona Maria:

“Por isso o apego a uma lógica de Auditoria da Dívida, com foco em caçar eventuais “ilegalidades” ocorridas em décadas passadas, como se fosse possível estabelecer correspondências entre dividas contraídas 20 ou 30 anos atrás e títulos emitidos recentemente e que trocam de mãos diariamente. Seria mais ou menos como a D.Maria ter suas aplicações em fundos de investimento lastreados em títulos da dívida publica, resultado da venda do apartamento herdado do falecido, desvalorizadas porque se descobriu que em 1983 ocorreu uma fraude na licitação das obras de Tucuruí, por exemplo. A menos que Plinio tenha algumas divisões blindadas em condições de cercar Brasília e fechar o STF, não me parece que a proposta, para além de desnecessária, seja viável.” [idem]

É importante que se diga que Fevereiro não está sozinho e que outros integrantes do PSOL também abandonaram a auditoria. Esse grupo no interior do partido tem chegado ao ponto de chamar de “criminalização da dívida” as críticas feitas a ela. Teriam coragem de estender essa caracterização para a abordagem dos pais do socialismo científico?

Confirmando a crítica de Plínio à proposta de crescimento econômico, Fevereiro afirma:

“(...) Sem recuperar o crescimento econômico e retomar o emprego, não se consolida uma nova correlação de forças entre trabalho e capital no conflito distributivo. Sem retomar o crescimento econômico, não se acumula força para avançar em reformas estruturais capazes de impor derrotas efetivas á economia politica do capital.” [ibidem]

Novamente ficamos sem saber que medidas serão tomadas para promover esse crescimento mas nos é avisado que ele deverá preceder as reformas estruturais. Uma informação importantíssima e que mostra o tamanho do recuo e do respeito ao regime. Mas o que se poderia esperar de uma plataforma elaborada com dirigentes petistas como Tarso Genro, cujo governo no Rio Grande do Sul alegava não ter dinheiro para pagar o piso do magistério enquanto superava o governo tucano de Yeda Crusius na concessão de isenções fiscais e nos financiamentos a fundo perdido para as multinacionais, feito do qual gabou-se em revista publicada pelo seu próprio governo? [2]

Juliano Medeiros, em sua postagem que comenta a repercussão na grande mídia da resistência de setores do PSOL à candidatura do líder do MTST, assinala que:

“(...) Para este setor, que curiosamente tem encontrado bastante espaço na grande imprensa, o PSOL nasceu com um único objetivo: ser uma antítese do PT. Não importe se o PT não governa mais o Brasil. Não importa se há importantes setores no interior do PT que têm expressado seu descontentamento com as tentativas de reeditar alianças regionais com os partidos golpistas. Não importa se ganhamos mais olhando pra frente do que para trás. Para essa minoria o papel do PSOL se justifica pela "traição" do PT. Vejo de outra forma. Para mim e todos aqueles que têm apostado no diálogo com o MTST, a Frente Povo Sem Medo, uma parte da intelectualidade crítica, artistas progressistas, enfim, aqueles que apoiam a hipótese de uma candidatura de Guilherme Boulos, o sentido do PSOL é incentivar uma alternativa de futuro para a esquerda e para o Brasil. Ocupamos um lugar singular na política brasileira: somos o único partido de esquerda com representação institucional que não fez parte do campo político liderado pelo PT nos governos Lula e Dilma. O que por muito tempo parecia uma insanidade, hoje mostra-se uma virtude: podemos apontar, com autoridade, os limites daquela experiência e propor uma saída independente dos trabalhadores, trabalhadoras e excluídos. A hora é de radicalidade. Não de esquerdismo senil, esse que sempre cheira um pouco a ressentimento.” [3]

No Brasil qualquer força de esquerda que quiser ser consequente terá que ser a antítese do PT, esteja ele ou não no governo, pois precisará superar o seu programa, sua tática e sua estratégia no dia a dia de sua militância. Nesse sentido é fundamental olhar para trás para poder seguir em frente. Não há nada de ressentimento nisso. Negligenciar a traição do PT (sem aspas porque ela foi real) e olhar pra a frente e seus possíveis ganhos (eleitorais? aparato?) tem significado elaborar programas políticos e alianças eleitorais com o PT – e até mesmo com os partidos do “golpe” como fez a US de Medeiros nas eleições de 2016 em várias cidades do país.

Mas nota-se que para falar de Boulos o presidente nacional do PSOL teve que referir-se ao PT o que é emblematicamente revelador pois termina por confessar de forma dissimulada o caráter lulopetista do líder do MTST. Não foi à toa que, diferente de outras candidaturas do partido em anos anteriores, a de Boulos foi saudada por Lula, Lindberg Farias, Tarso Genro, entre outros petistas. E junto com a candidatura vem a Plataforma Vamos que foi aprovada como programa base pelo Congresso do PSOL – instância cuja construção foi marcada por manobras burocráticas e fraudulentas que garantiram a maioria para a US, métodos que lembram as práticas obscuras utilizadas pelo grupo de José Dirceu e Lula para controlar e dirigir o PT.

Uma candidatura com o aval e a confiança de Lula com um programa requentado do PT dos anos 2000 é que é senil, não tem nada de independência política, está longe de qualquer radicalidade e de postular a esquerda como alternativa além de ser a negação da razão do PSOL existir, já que ele nasceu da traição (sem aspas) do PT. Enfim, é a liquidação do partido! Por isso Medeiros não pode olhar para trás.

E a seguir nesse rumo, o que vemos olhando pra frente? Um dos grandes receios dos militantes do PSOL nos primeiros anos de sua fundação era de que o partido se tornasse “um novo PT”. A política da atual direção majoritária do partido, liderada pela corrente Unidade Socialista (US), está tratando de acabar com tal perspectiva mas não porque é consequente com um programa de esquerda e de independência de classe mas porque rebaixou o PSOL ao papel de linha auxiliar do PT. Um servilismo oportunista que chegou ao ponto de defender o lançamento de uma candidatura laranja do lulopetismo com o seu programa (e por isso a modalidade de filiação só poderia ser sem compromisso com o partido), sem prévias internas (parece que o discurso de defesa da democracia só serve para defender Lula, Dilma e o PT) e considerando os outros pré-candidatos “qualquer um”. Em suma, com Guilherme se dá um verdadeiro Boulos nas bases fundacionais do PSOL!

________________________________________________

[1] PLÍNIO JR E OS DIAGNÓSTICOS ERRADOS. José Luis Fevereiro. Facebook, 04/02/2018.

[2] O mais entreguista! 26/01/2014.

http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2014/01/o-mais-entreguista_26.html

[3] SOBRE AS "RESISTÊNCIAS" A BOULOS NO PSOL. Juliano Medeiros. Facebook, 14/02/2018.

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