Não há nenhuma outra luta no período atual que possa unir toda a esquerda e todo o povo trabalhador. Nada pode ser mais progressista, democrático e revolucionário do que a luta pela liberdade de Lula. Está totalmente nítido e provado que a maioria da população brasileira tem disposição de lutar pela libertação de Lula. É o que mostram as pesquisas de opinião, mesmo manipuladas pela burguesia. É o que mostram as manifestações espontâneas por todo o país, de pessoas comuns, desorganizadas, transeuntes, em ruas, avenidas, mercados, praças. Milhões de brasileiros querem Lula livre e Lula presidente. Essas sãp provas incontestáveis.
Mas o que faz uma parcela da esquerda brasileira, autointitulada revolucionária? Simplesmente ignora esse fenômeno, desdenha da vontade popular. Do alto de seu pedestal, ressucita clichês dogmáticos para justificar sua traição aos desejos do povo. Afirma que é preciso disputar as eleições para levar ao governo um projeto verdadeiramente transformador. Prefere disputar as eleições com um candidato sem a menor chance de vencer e que, se, por um milagre, conseguisse vencer, executaria um governo ainda mais moderado do que Lula. Porque não tem base popular para pressioná-lo à esquerda. Seria um governo que comeria na mão da burguesia, da direita e do imperialismo. Mas parte dessa esquerda acusa Lula justamente de ser reformista.
Entretanto, como a prática é o critério da verdade, o que vemos neste momento é a esquerda pseudorrevolucionária e “diferentona” de Lula fazendo exatamente o jogo da direita, disputando ordeiramente as eleições burguesas fraudulentas, para aparentar alguma legitimidade nesse processo completamente manipulado. Essa esquerda realmente acredita que tem chances de vencer as eleições. Enquanto isso, aqueles que são tachados de reformistas, antes de governistas, são os únicos que buscam mobilizar e organizar as massas em torno de uma luta que realmente derrote o golpe, coloque a direita na lona e abra caminho para um governo dos trabalhadores.
Os que lutam pela liberdade de Lula podem o fazer por diferentes razões, mas na prática essa luta eleva a consciência de classe dos explorados, radicaliza sua visão de mundo, destrói ilusões e quebra barreiras que jamais serão ultrapassadas pelo processo eleitoral, por reivindicações parciais e isoladas, pelo estudo burocrático do marxismo.
As classes populares se movimentam pela razão mas também pela emoção, pelas paixões. Não há nada que desperte tão intensas paixões no seio da classe trabalhadora, hoje, do que o ex-presidente Lula. Ele é amado pelas massas, odiado pela burguesia e por seus lacaios da direita. O povo se identifica com Lula e é isso que faz com que se levante para apoiá-lo.
Não se pode esperar nem mais um instante para agir, é hora de que toda a esquerda perceba de uma vez por todas que só a mobilização popular pode levar a transformações e que só a luta pela liberdade de Lula e por sua eleição pode organizar e radicalizar essa mobilização. Não importa que Lula seja conciliador, reformista. O que importa é a vontade do povo e até onde pode levar a sua mobilização. É preciso que a esquerda se una e transforme essa mobilização popular em uma mobilização revolucionária dos trabalhadores, a única garantia de libertação de Lula, de derrota do golpe e de transformações na sociedade.
Segue uma importante reflexão. O revolucionário chinês Mao Tsé-tung criticou certa vez postura semelhante da esquerda chinesa a respeito do movimento de massas que ocorria no país, com potencial explosivo.
“Todos os partidos revolucionários e todos os camaradas revolucionários serão postos à prova pelos camponeses, sendo aceites ou rejeitados segundo a escolha que tiverem feito. Há três alternativas: marchar à frente dos camponeses e dirigi-los? Ficar atrás deles, gesticulando e criticando? Erguer-se diante deles para combatê-los? Cada chinês está livre para escolher dentre essas três alternativas, e os acontecimentos forçarão toda a gente a fazer rapidamente a escolha.” (Mao Tsé-tung, Relatório Sobre uma Investigação Feita no Hunan a Respeito do Movimento Camponês, 1927)