A cúpula do PT sempre direcionou a política para os conchavos parlamentares com a direita. A presidente Dilma levantou a bandeira da convocação de um referendo, junto com as eleições municipais, caso ela voltar. Desta maneira, ela conseguiu o apoio da ala esquerda do PMDB, encabeçada pelo Senador Roberto Requião, e teve como principal cabo eleitoral a “musa do latifúndio”, a Senadora Kátia Abreu. Essa política não conta com o apoio dos demais setores da cúpula do PT nem, muito menos, das bases. Na prática, ela se alinha com a política da LavaJato, no sentido da busca por novas eleições e a reforma política, neste caso, na tentativa de varrer os setores do centro do cenário político.
A ala liderada por Lula busca, de maneira semi camuflada, a saída do sistema parlamentarista, que manteria à cabeça do regime os setores de centro, com a ala mais à direita assumindo os setores fundamentais, como a economia e a repressão da população, enquanto o PT assumiria o tradicional papel de conter as massas enquanto a direita bateria duro contra a população. Tudo para salvar o lugar ao sol no sistema burguês tupiniquim.
Os setores ligados às massas, principalmente a burocracia da CUT e do MST, apesar de lulistas, se viram impossibilitados de defender essas políticas devido à forte pressão das bases. E o retorno de Dilma, por meio de um grande pacto com os trabalhadores, não passa de pura demagogia para consumo interno. O aprofundamento da crise capitalista liquidou com os recursos que, devido aos acordos de espoliação do Brasil impostos pelo imperialismo, se tornaram muito escassos e direcionados a alimentar os bolsos de um punhado de parasitas estrangeiros.
Para onde vai o golpe?
A Lava Jato foi colocada em pé sobre o patrocínio do imperialismo norte-americano. As informações sobre a Petrobras, particularmente sobre o Pré-Sal e as empreiteiras envolvidas, assim como os e-mails trocados entre executivos da Odebrecht somente podem ter sido fornecidas pela NSA (Agência Nacional de Segurança) norte-americana. O objetivo é colocar em pé um governo que tenha condições de aplicar um duro plano de ajustes contra os trabalhadores.
O PMDB é um partido muito caro para garantir a “governabilidade”. O sonho do imperialismo, desde 1988, quando foi fundado o PSDB, é se livrar do PMDB. A morte política de Eduardo Cunha deverá arrastar os demais caciques do PMDB, tais como Eliseu Padilha, Romero Jucá, Geddel Vieira de Lima, Henrique Alves e Moreira Franco.
A cúpula do PSDB enfrenta grande crise. Aécio Neves se tornou carta fora do baralho, e ligado, na prática, à política do Lula para salvar a própria pele. Geraldo Alkmin prepara a migração para o PSB. Um reconhecido direitista tentando se reciclar como “esquerdista” revela a profundidade da crise. José Serra, o elemento mais próximo da LavaJato está, por um fio, ameaçado pelas próximas revelações da OAS e da Odebrecht, e ligado à política do Temer para salvar a própria pele.
A extrema direita da Lavajato, liderada pelo juiz Sergio Moro e o procurador Carlos Fernando dos Santos tenta avançar contra os demais setores de conjunto, até afrontando o STF, como ficou claro no caso da participação nos resultados da operação, vetado pelo Ministro Teori Zavascki, e contra votos de Dias Toffoli. No Rio de Janeiro, conseguiram passar por cima da decisão do desembargador federal Antônio Ivan Athié, que mandou libertar o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o dono da Delta, Fernando Cavendish.
A extrema direita, que representa diretamente os interesses do imperialismo no Brasil, tenta viabilizar um novo Collor de Mello. A recente aparição de Henrique Meirelles no Fantástico aponta no sentido da viabilização de uma candidatura alternativa para novas eleições, uma candidatura que tenha condições de viabilizar duros ataques contra os trabalhadores e a serviço do grande capital imperialista, que consiga dar continuidade na prática às medidas que os governos do PT já vinham colocando em pé e que o governo fraco, golpista e errático de Temer tentou escalar.
O golpe “consensuado”
Para derrotar a votação do impeachment no Senado, a presidente Dilma Rousseff deveria negociar troca de favores com alguns parlamentares. Nada que ela e a cúpula do PT não tenham feito de maneira extensiva. Mas a falta do apoio do PT tem levado a Dilma não querer avançar nesse sentido.
O PT prefere se colocar na oposição dos golpistas, mas como parte do sistema golpista, mantendo paralisadas as massas em prol da “governabilidade” golpista. Nem uma palavra sobre o STF (Supremo Tribunal Federal), muito pouco sobre a PGR (Procuradoria Geral da República), hiper defensiva sobre a Força Tarefa da LavaJato, o juiz Sergio Moro e os procuradores. Para a cúpula do PT, o imperialismo quase no existe nas operações dos golpistas. E a defensiva em relação aos PIG (Partido da Imprensa Golpista), encabeçados pela Rede Globo, é absoluta.
A única força possível que pode conter o avanço do golpismo no Brasil é a mobilização das massas. Mas o papel do PT é justamente mantê-las paralisadas enquanto tenta desesperadamente manter os privilégios. Essa política se impôs sobre toda a esquerda “frentepopulista”, integrada ao regime. Nas empresas públicas, há algo em torno a 100 mil sindicalistas contratados em postos de chefias. Os movimentos sociais ainda mamam nas tetas das verbas públicas. Aldo Rebelo, um dos figurões do PCdoB, foi pedir a ajuda do pelego de direita, Paulinho da Força Sindical, para que intercedesse perante Michel Temer com o objetivo de manter os cargos do PCdoB nos segundos escalões dos ministérios.
A desmoralização generalizada da esquerda tem como pano de fundo a traição da cúpula do PT. O golpe que iria arrasar com tudo e a greve geral necessária para contê-lo não passaram de demagogia. O golpe aconteceu, como golpe de cunho parlamentar, do qual a cúpula do PT é cúmplice, e continua sendo cúmplice.
A greve geral não passou de uma farsa. E não poderia ser diferente. A situação política no Brasil não é revolucionária. Por esse motivo, uma greve geral política não tem a possibilidade de evoluir se não for preparada a partir das reivindicações mais sentidas dos trabalhadores.
O apoio à candidatura do candidato do DEM à presidência da Câmara, Rodrigo Maia, pela cúpula PT revela a essência da política de “fazer o que é possível”. Isso mesmo que sob a pressão das bases o PT tenha voltado atrás. O objetivo não é mobilizar a população para resistir ao “ajuste” que o imperialismo impõe, mas de criar pequenos problemas e desgastes ao governo golpista de Temer, que apoia a eleições Rogério Rosso (PSD-DF), e preparar o fortalecimento do PT para as eleições de 2018, quando o serviço sujo já teria sido feito pela direita, com o apoio do PT.
Implosão do centro, fortalecimento dos polos
A esquerda atual, brasileira e mundial, no grosso, se encontra fortemente integrada ao regime burguês, à “democracia” imposta pelo imperialismo. Não se trata de uma esquerda para lutar contra o capital e a favor dos trabalhadores. Se trata de uma burocracia política, sindical e dos movimentos sociais e universitário que busca defender os próprios privilégios contra os interesses dos trabalhadores.
A chamada “crise da esquerda” representa a crise da esquerda burguesa e pequeno burguesa. Essa crise reflete a crise do regime capitalista de conjunto.
A esquerda revolucionária foi colocada em xeque com a aplicação das políticas neoliberais, a partir da década de 1980. Mas há vários indícios de que o movimento operário começa a acordar do longo sono neoliberal. As movimentações que estão acontecendo na França, há três meses, contra a reforma trabalhista, ou a luta dos professores mexicanos contra a privatização da educação representam sintomas muito importantes nesse sentido.
As tentativas de colocar em pé uma esquerda burguesa reciclada para conter as massas têm enfrentado crescentes rachaduras na Grécia (Syriza), Espanha (Podemos), Portugal (Partido Comunista e Esquerda Unida), Irlanda e outros. No Brasil, o Psol tenta, desesperadamente, avançar com candidatura como a de Freixo no Rio de Janeiro e de Luíza Erundina em São Paulo, mas isso não passa da tentativa de reeditar uma caricatura do PT das origens.
Conforme o imperialismo pressiona na tentativa de garantir os lucros dos monopólios, os setores de centro do regime tendem a serem implodidos enquanto se fortalecem os polos. A extrema direita avança na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. Os instrumentos que estiveram no centro da ditadura militar estão sendo colocados em pé novamente: Lei Antiterror, recriação do temido SNI (Serviço Nacional de Informações) semi disfarçado de GSI, entre outros. Mas, enquanto a extrema direita é fortalecida, também se fortalecem as tendências no sentido da formação de partido operários, revolucionários e de massas.
Por uma greve geral a partir das categorias que estão no olho da privatização
A única alternativa para os trabalhadores dos Correios, para os petroleiros, para os bancários dos bancos públicos e para os aeronautas da Infraero, que estão na mira das privatizações, assim como para os demais trabalhadores, passa por enfrentar o grande capital que busca coloca-los na sarjeta para salvar os lucros. A burocracia sindical que tem como objetivo salvar os próprios privilégios é cúmplice desses ataques.
Os trabalhadores deve participar das greves deste ano e das demais ações contra a privatização. Se não o fizer, ele arcará com brutais consequências. E agora ficou claro que não há para onde correr. A conversa de que a saída seria fazer um concurso público para entrar em outra empresa estatal acabou. A única alternativa é lutar pelos próprios direitos. Mas é preciso ficar muito de olho com as manobras da burocracia sindical e da esquerda oportunista.
A partir da mobilização dos trabalhadores das empresas públicas, que são categorias nacionais, existe a possibilidade de colocar em movimento a classe operária de conjunto.
Os revolucionários devem organizar um trabalho político nas fábricas e mobilizar a partir das necessidades mais sentidas dos trabalhadores, contra os planos de “ajustes fiscais”, em defesa dos empregos, dos salários e de um alto padrão de vida. Para isso é preciso uma medição mais precisa do estado de ânimo das massas para poder traçar uma política de agitação com palavras de ordem que elevem a consciência e a organização dos trabalhadores perante a situação política.
A tarefa colocada para o momento é estruturar um órgão de imprensa que seja um sólido aglutinador de revolucionários para atuar como um grupo de agitação e propaganda dentro do movimento operário, conforme Lênin orientou no livro “Que Fazer?”. Esse grupo de agitadores e propagandistas deverá impulsionar a organização do movimento de massas contra o capital e contra o imperialismo.
Fora o imperialismo do Brasil e da América Latina!
Abaixo os golpistas e seus agentes!
Abaixo a política de preservar a “governabilidade”!
Não ao acordão do PT com a direita!
Não ao Ajuste, pelos Direitos dos Trabalhadores!
Que a crise seja paga pelos capitalistas!