Há poucos dias da votação do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, os atos de 1° de maio, Dia do Trabalhador, foram o termômetro para medir o potencial de mobilização dos movimentos sociais, das centrais sindicais, principalmente da CUT, dos sindicatos e dos partidos de esquerda contra o golpismo no Brasil.
Em São Paulo, no Vale do Anhangabaú, palco do mais importante ato de 1° de maio, contou-se com a presença da presidenta Dilma, do presidente da CUT, Wagner Freitas e do presidente do PT, Rui Falcão. Lula, que tinha confirmado presença, não apareceu no ato. Esse ato, organizado pela CUT, pela CTB, pela UNE, pelo MST e por partidos de esquerda integrantes da Frente Brasil Popular (FBP), mostrou o quanto as burocracias sindicais, populares e partidárias estão integradas ao regime político e distantes dos trabalhadores.
O ato de 1° de maio da FBP, em São Paulo, contou com no máximo 10 mil pessoas, bem menos do que todos os atos convocados recentemente contra o golpismo. A FBP chegou a dizer que contava com a presença de 1 milhão de pessoas. Um otimismo muito parecido a de que o impeachment seria barrado na Câmara dos Deputados.
O esvaziamento do 1° de maio chamou a atenção, principalmente, por ter sido muito mais esvaziado do que no dia 17 de abril, quando foi aprovada, na Câmara dos Deputados, a abertura do processo de impeachment contra a presidenta Dilma.
A direção da FBP não levantou nenhuma palavra de ordem em defesa dos direitos dos trabalhadores, suas bandeiras históricas ou suas reivindicações mais sentidas. Nem uma palavra foi dita contra o “ajuste fiscal”, que é a base material do golpe parlamentar contra Dilma e o PT. A defesa da “democracia”, em abstrato, era a única “reivindicação” dos manifestantes. Ou seja, uma defesa aberta da pseudo-democracia de um país como o Brasil, que não passa de uma caricatura de democracia burguesa.
Chamou atenção a ausência dos sindicatos com alguma mobilização de suas bases. Nenhum sindicato dos setores de ponta, como os metalúrgicos, os petroleiros, os correios, os bancários etc. mobilizaram suas bases. Nem sequer os burocratas que se organizam por detrás do aparato sindical foram mobilizados.
Os movimentos populares tiveram muito menos peso nesse 1° de maio. O MTST, que integra a Frente Povo Sem Medo, não se somou à CUT e ao PT, mas aderiu apenas formalmente ao ato que ocorreu na Praça da Sé, junto com outros grupos e partidos ultraminoritários, como o PCB e o PCR e os setores majoritários do PSOL (o MES de Luciana Genro e a APS de Ivan Valente).
A falta de mobilização por parte da direção do PT, que vem esvaziando seus atos ou transformando-os em uma “torcida organizada” de contagem de votos parlamentares (como ocorreu no dia 17/04) não deixa restar dúvidas de que a palavra de ordem de “Greve Geral contra o golpe” levantada por alguns setores da Frente Brasil Popular não passa de uma falsificação. Sem sindicatos de ponta mobilizados, sem os movimentos populares e sem a mobilização das bases operárias, a partir de suas bandeiras históricas de luta, não há greve geral alguma, tampouco uma que possa derrotar o avanço da direita.
Outro ato de 1° de maio aconteceu na Avenida Paulista. Esse ato foi convocado pelo “Espaço de Unidade de Ação” (o “EUA”). Quem o controlava era sua ala hegemônica, a CSP – Conlutas/PSTU. O ato contou com apenas algumas centenas de manifestantes que requentavam as palavras de ordem da direita. O “Fora Dilma” vinha escondido por trás do eixo “Contra Dilma/PT; Temer, Cunha e Renan/PMDB; Aécio, Serra e Alckmin/PSDB”, “Fora Todos” e “Eleições Gerais Já!”. A política refletia o completo distanciamento da burocracia sindical da Conlutas das bases operárias. Não havia nenhum bloco operário, da mesma maneira que não os havia nos outros atos. O Sindicato dos Metroviários de São Paulo, controlado pelo PSTU, chegou a assinar a convocatória para participar do ato na Praça da Sé, mas não mobilizou ninguém, nem para esse ato nem para o da Avenida Paulista. O mesmo aconteceu com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, igualmente controlado pelo PSTU.
BUROCRACIA: LUTA DE “MENTIRINHA” CONTRA O GOLPE
A etapa atual se caracteriza pelo golpe de Estado parlamentar, pelo avanço da direita contra o governo de Dilma e pela tentativa desesperada do PT em aprofundar os acordos com a direita para garantir a “governabilidade” e a manutenção de seu governo no poder.
Após a abertura do processo de impeachment contra Dilma, a Frente Brasil Popular e a CUT elaboraram um calendário de mobilizações onde o ato de 1° de maio seria, supostamente, o ponto de partida.
Os atos propostos pela direção do PT, e agora esse 1° de maio ultra-esvaziado, não fazem restar dúvidas de que a CUT está mobilizando os trabalhadores para usá-los como massa de manobra de barganha dos conchavos da cúpula do PT com a direita. Essa tem sido a política oficial da direção petista. A burocracia tenta sufocar e manipular qualquer amostra de radicalização, por parte das massas.
Quem saiu às ruas nos atos dos dias 18 e 31 de março pretendia derrotar a direita, mas a burocracia da CUT, da UNE e outras entidades têm manobrado para que a luta das massas contra a direita fique completamente subordinada à política da “governabilidade”, ou seja, de acordos e conchavos feitos por cima. A combatividade é desmotivada e em seu lugar é imposta a “esperança” nos acordos parlamentares com deputados e senadores direitistas para “barrar o golpe”. Isso tem feito com que os atos tenham ficado cada vez menores e contem menos com presenças populares. Esse 1° de maio esvaziado é um reflexo dessa política.
Essa política ataca os trabalhadores em cheio, porque não é possível confiar nos aliados direitistas do PT, que em um estalar de dedos se bandeiam para o lado dos golpistas. Segundo, porque isso representa uma traição às reivindicações populares associadas à luta contra o golpe, tais como: a derrota dos planos de “ajustes fiscais”, a defesa dos empregos e salários, contra os monopólios da comunicação, contra a completa destruição da Petrobrás e a entrega do pré-sal ao imperialismo, entre outros. Isso explica o completo abandono das bandeiras operárias e democráticas nos atos convocados pela burocracia e nesse 1° de maio.
A política oportunista e, na prática, pró-golpista da cúpula do PT escalou. Nos últimos dias Lula passou a defender um plebiscito para encurtar o mandato da presidenta Dilma e chamar novas eleições presidenciais. As principais lideranças da Frente Brasil Popular, como o PCdoB, passaram a defender a proposta. Essa política representa a outra cara da moeda da política da esquerda pequeno-burguesa, liderada pelo PSTU, que recorrentemente se posiciona no campo da direita e dos golpistas. O “Fora Todos” e “Eleições Gerais Já!” levam ao mesmo caminho de derrota dos trabalhadores.
A direção da CUT se encontra tão burocratizada que não consegue mobilizar as bases em praticamente nenhum lugar. Ela se transformou em um apêndice do regime político e do capital. Nos metalúrgicos do ABC paulista, controlado pela Articulação/PT, a corrente majoritária da CUT, a proposta de “luta contra o golpe”, aprovada em Assembleia, foi uma mera formalidade. Nas fábricas não há absolutamente nenhuma mobilização real, como pode ser visto nos atos, onde não há nenhum bloco de sindicatos operários.
Nesse cenário, não há a menor possibilidade de construção de uma “Greve Geral contra o golpe”. Essa proposta é na verdade palavra morta.
O QUE REPRESENTA A GREVE GERAL?
O Brasil não vive uma situação pré-revolucionária e tampouco insurrecional, ou seja, revolucionária. Nessas condições, uma greve geral somente poderia ser viabilizada por meio de palavras de ordem que refletissem as necessidades mais sentidas pelos trabalhadores, como, por exemplo, a luta contra as centenas de ataques impostos pelo plano de “ajustes fiscais”, que envolvem a reforma trabalhista e previdenciária etc.
Uma situação pré-revolucionária implicaria que a classe operária ultrapassaria os mecanismos de contenção que a burocracia sindical e dos movimentos sociais impõem às massas, por exemplo, como aconteceu na greve dos garis há dois anos, que não era uma categoria de ponta. Em uma situação assim, o estado de ânimo e de consciência das massas estaria mais propício para uma greve geral. Mas hoje é quase impossível que as massas se mobilizem para uma greve geral. Isso porque a direção da CUT está em um nível de burocratização tão profundo que não consegue mobilizar nem sequer os próprios burocratas que trabalham para o aparelho sindical. Quem dirá levantar as bandeiras operárias e democráticas.
Uma greve geral, que se preze como tal para enfrentar o golpe, deveria ser por tempo indeterminado. Deveria paralisar os setores fundamentais da produção e dos serviços afim de desorganizar a economia, o que só poderia acontecer depois de meses de greve intensa. Uma categoria de ponta como os petroleiros, ou os metalúrgicos, ou os ecetistas somente causariam grande impacto na sociedade depois de várias semanas de greve. O impacto imediato poderia ser conseguido por meio de uma greve geral dos setores dos transportes urbanos, rodoviários, interurbanos, interestaduais etc. Os setores dos transportes, no entanto, se encontram muito divididos ou controlados por uma burocracia sindical direitista, como a Força Sindical. Para que essa possibilidade seja real, é preciso estabelecer uma política de agitação em cima das palavras de ordem dos interesses dos trabalhadores e que consigam mobiliza-los. Caso contrário, não passa de enganação.
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