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Quarta, 04 Mai 2016 16:08 Última modificação em Terça, 10 Mai 2016 17:59

PT: um grande organizador de derrotas Destaque

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País: Brasil / Institucional, Batalha de ideias / Fonte: Diário Liberdade

[Alejandro Acosta] Desde o Ato de 1° de maio que, supostamente, marcava o início do calendário de mobilizações proposto pela CUT e pela cúpula do PT para o combate ao golpismo e o avanço da direita no Brasil não tem restado dúvidas de que a debilidade e a profunda burocratização das lideranças sindicais e populares representa um fator de contenção dos trabalhadores.

O Ato convocado pela CUT, pela CTB, pela UNE, pelo MST e partidos de esquerda integrantes da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo reuniu no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, no máximo 10 mil pessoas, uma quantia bem menor do que todos as manifestações anteriores contra o impeachment. Foi menor inclusive que o ato do dia 17 de abril que sofreu boicote do próprio PT e que foi transformado em “torcida organizada” para a contagem de votos de parlamentares direitistas. As entidades organizadoras ainda tentaram embeleza-lo e noticiaram a presença de 100 mil pessoas, para minimizar o impacto da estimativa de que compareceriam um milhão de pessoas. Um “otimismo” muito parecido a de que o impeachment seria barrado na Câmara dos Deputados.

O Ato foi proporcionalmente ainda menor se levado em consideração que ele contou com a presença da presidenta Dilma Rousseff, do presidente da CUT, Wagner Freitas, do presidente do PT, Rui Falcão, do dirigente do MST, Gilmar Mauro, e do MTST, Guilherme Boulos, ou seja, os figurões da esquerda burguesa e pequeno-burguesa. Boulos discursou no Vale do Anhangabaú, mas o MTST também assinou a convocatória do Ato de 1° de maio que ocorreu na Praça da Sé, a poucos metros do Vale do Anhangabaú.

Chamou a atenção a completa ausência de participação popular e operária organizada nesse Ato. Ela foi convocada pelas organizações de massa dos trabalhadores e da juventude, controladas pelas burocracias que ainda mantêm paralisadas as bases. Não havia nenhum bloco operário dos sindicatos dos setores de ponta da produção, tais como os metalúrgicos, os petroleiros, os trabalhadores dos Correios e dos transportes. Nem mesmo os burocratas que se organizam detrás dos aparatos sindicais foram mobilizados. A APEOESP (Sindicato dos Professores de São Paulo), controlada pela ala majoritária do PT, a Articulação, por exemplo, não mobilizou nem mesmo a diretoria do Sindicato, tampouco sua base, isso porque se trata do maior sindicato da América Latina em número de filiados. O mesmo aconteceu com todos os demais sindicatos, com a UNE, com o MST, o MTST, a CUT etc.

1° DE MAIO SEM A CLASSE OPERÁRIA

A ausência de bases operárias e populares veio acompanhada do abandono de todas as bandeiras de luta da classe trabalhadora e mesmo as democráticas. Nenhuma palavra de ordem foi levantada sobre o plano de “ajustes fiscais” contra os trabalhadores, a engrenagem mestra do golpismo. Nenhuma bandeira em defesa dos empregos e salários foi levantada. O Ato foi usado apenas para reforçar as ilusões democráticas da esquerda burguesa e pequeno-burguesa na “democracia” tupiniquim, que é uma caricatura de “democracia” burguesa na comparação com o que existe nos países desenvolvidos.

A pergunta que fica após o 1° de maio da Frente Brasil Popular é por que Gilmar Mauro, do MST, e Wagner Freitas, da CUT, nem os demais dirigentes que lá estavam não mobilizaram as bases? A resposta a essa pergunta está nos indícios que surgiram após o Ato, com a posição da cúpula do PT de propor o encurtamento do mandato da presidenta Dilma e chamar eleições presidenciais para outubro, junto com as eleições municipais.

Se o 1° de maio unificado da Frente Brasil Popular será o modelo a ser seguido e reflete o espírito de luta da burocracia sindical e popular contra o golpe de Estado que avança no Brasil significa que as demais manifestações previstas no calendário de mobilizações serão um completo fiasco, a não ser que os trabalhadores consigam ultrapassar esses mecanismos de contenção.

A realidade é que a burocracia não quer luta alguma, não quer mobilização real e só está mobilizando as massas nas ruas, de forma muito contida, como massa de manobra para os acordos que desesperadamente o PT busca com a direita. A cúpula do PT “jogou a toalha” e agora defende a proposta de renúncia de Dilma e novas eleições. Mas essa saída não é unanimidade e encontra forte resistência das bases da Frente Brasil Popular.

A BASE MATERIAL DA CRISE DO PT

O PT é um partido que está enraizado no regime político burguês, assim como os setores fundamentais da “frente popular” (não confundir com Frente Brasil Popular), como o PCdoB e, por tabela, todos seus satélites. Conforme a crise do regime político se intensifica, essa esquerda é empurrada mais para a direita devido às pressões do imperialismo para salvar os lucros dos grandes monopólios. A desagregação do regime, que reflete o aprofundamento da crise em escala mundial, se intensificou em dois momentos principais, primeiro a crise geral do capitalismo em 2008 e, novamente, com o “escândalo do Mensalão”, em 2012. A direita tentava voltar ao governo desgastando o governo do PT para aplicar uma política neoliberal mais profunda.

A queda dos preços das matérias primas colocou em xeque a economia dos países atrasados. A América Latina se encontra na linha de frente da crise capitalista, em primeiro lugar, em países importantes da região, como a Venezuela, a Argentina e o Brasil. Após o mês de setembro de 2008, o governo da “frente popular”, encabeçado pelo PT, direcionou um grande volume de recursos públicos para as grandes empresas, com objetivo de manter e ainda aumentar a especulação com a dívida pública e a camada parasitária de impostos e juros. Esses recursos públicos e a exportação de matérias primas foram os pilares de sustentação da economia nacional que criaram a ilusão de que o Brasil passaria desapercebido pela crise que atingia os principais centros.

Em 2013, o governo Dilma, durante a gestão do ministro da Fazenda Guido Mantega, abriu um novo período no repasse de recursos públicos, por meio da concessão de diversas isenções aos fabricantes de eletrodomésticos.

De lá para cá, todas as medidas de contenção da crise têm entrado em colapso. A bancarrota capitalista tem levado o Brasil à linha de frente da crise. Mas isso representa apenas o “aperitivo” da crise. Está colocado para o próximo período o estouro de uma nova crise capitalista mundial que atingirá em cheio os grandes centros e que deverá ser muito maior que os anteriores devido ao brutal parasitismo e ao super endividamento dos estados burgueses.

A CÚPULA DO PT QUER IMPOR RENÚNCIA DE DILMA E ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Somado à crise econômica, o PT foi colocado contra as cordas pela Operação Lava-Jato, que é uma das principais engrenagens do golpismo no país. Sua cúpula, e principalmente Lula, estão ameaçados de irem presos e perder todos os seus privilégios. A direção do PT é composta por uma burocracia sindical e por políticos burgueses e pequeno-burgueses. O simples fato de não irem presos e manterem seus privilégios, contra os trabalhadores, para eles já é um grande ganho. Esses dois fatores estão na base da política da cúpula do PT de encurtar o mandato de Dilma e entregar o governo à direita.

O PT não tem chances de superar a crise econômica no país porque mantém os acordos com o imperialismo, o que não poderia ser diferente, pois a única alternativa para isso é uma política revolucionária. Com a política aplicada pelo governo do PT de manter a especulação financeira, sem promover os ataques contra os trabalhadores na intensidade que quer o imperialismo, principalmente o norte-americano, e emitindo títulos do Tesouro Nacional em grandes proporções com objetivo de pagar os serviços da ultrapodre e corrupta dívida pública é inevitável a “implosão” econômica do país. Nesse cenário, a moratória da dívida, ou a hiperinflação, em dois ou três anos, não permitiriam que a política “semi-nacionalista” do PT fosse levada adiante e muito menos a propaganda demagógica, impulsionada por setores da “frente popular”, de que mantendo as estruturas atuais seria possível aplicar medidas de desenvolvimento e de aumento dos programas sociais.

A presidenta Dilma apresentou a política de promover empregos e obras de infraestrutura no Ato de 1° de maio. O que está colocado em cima dos acordos que estão em andamento não é mais investimentos produtivos, mas um maior aperto contra a população para manter o parasitismo financeiro imposto pelo imperialismo.

A Frente Brasil Popular representa os interesses de setores da burguesia nacional e é por esse motivo que tem medo que a “situação política” e a “governabilidade” saiam do controle e conduzam o país a uma situação revolucionária. A cúpula da Frente Brasil Popular, formada por elementos da pequena-burguesia, está interessada em defender os próprios interesses, e, inclusive, entregar a presidência da República, por meio da renúncia de Dilma, à direita e ao imperialismo ao invés de mobilizar as massas contra o golpismo.

A POLÍTICA DA DIREITA PARA IMPOR O GOLPE CONTRA OS TRABALHADORES

Michel Temer assumirá a Presidência com a renúncia de Dilma. Ao contrário do que pensam os incautos petistas, ele não renunciará em seguida.

O governo Temer deverá ser um governo de transição para uma nova etapa de ataques contra os trabalhadores, de aumento da repressão e de recrudescimento do regime político em decadência.

O PT ainda conta com a possibilidade de, em seguida à renúncia de Dilma, convocar novas eleições presidenciais. No entanto, para fazer isso será preciso uma emenda constitucional que deverá ser aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal com dois terços dos votos. Na Câmara, isso representa o voto de 342 deputados. As chances disso acontecer são totalmente nulas. Basta ver a derrota acachapante que o governo Dilma sofreu quando foi aprovada a abertura do processo de impeachment no Congresso.

Caso aprovada na Câmara, a PEC para chamar novas eleições presidenciais, o que é impossível de acontecer. Ainda assim há o fator da Operação Lava-Jato. Sérgio Moro já deixou claro que a Operação Lava-Jato será encerrada até o final do ano, pois já atingiu seu objetivo que era depor Dilma. No entanto, antes de encerrá-la Moro quer atingir seu segundo objetivo que é colocar Lula na cadeia. Se isso acontecer, Lula estaria impedido de participar das novas eleições presidenciais e a direita teria o caminho ainda mais livre para voltar ao governo.

Com Temer, o governo será de mais “puro sangue” pró-imperialista e de aplicação de um brutal “ajuste” contra a população, para controlar a crise, contra os trabalhadores. O aprofundamento do “ajuste” passa pela redução dos salários, dos direitos trabalhistas e das condições de vida dos trabalhadores, com o aumento do repasse parasitário de recursos para os grandes bancos.

O governo Dilma destina mais de 45% do orçamento para sustentar os serviços da dívida pública. Mas os monopólios querem mais. Para isso, a pressão aumenta para que todos os recursos sejam concentrados nessa política. Setores da burguesia nacional que dependem do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), da especulação imobiliária ou dos repasses de recursos públicos por meio de outros mecanismos serão atingidos em cheio. A “receita” da direita é manter parcialmente esses repasses para a burguesia nacional, buscando salva-la parcialmente da bancarrota, mas não a partir da emissão de títulos públicos e sim a partir dos recursos que seriam liberados por meio dos ataques contra os trabalhadores como, por exemplo, a redução de salários e dos direitos trabalhistas.

O MODELO IMPERIALISTA PARA A AMÉRICA LATINA

O governo Temer seguirá o mesmo modelo que o imperialismo busca impulsionar em todos os países da América Latina. Na Argentina, essa política está sendo imposta por Maurício Macri em aliança com a direita do peronismo e do kirchnerismo, com os setores majoritários da burocracia sindical e setores ligados a Sérgio Massa, ex-candidato presidencial. Isso tem deixado os setores de esquerda do kirchnerismo, principalmente a juventude “La Cámpora”, contra as cordas. Com esse modelo, o Brasil seria um aliado fundamental para desmontar o Mercosul e promover acordos comerciais diretos com a Europa e os Estados Unidos.

Para controlar a crise, o imperialismo, por meio do governo Temer, tentará aplicar um brutal “ajuste” contra a população. Para sustentar o regime político burguês, a direita nacional, organizada em torno do PSDB, que já sinalizou que integrará o governo Temer, propõe a implantação do parlamentarismo.

Em meio a tantos ataques, os trabalhadores inevitavelmente entrarão em movimento. Para conter a mobilização das massas, o imperialismo e seus agentes nacionais deverão utilizar um de seus dois últimos recursos políticos na luta contra os trabalhadores. Em primeira instância, a “frente popular”, encabeçada pelo governo do PT, e quando não tiver mais opções, o regime abertamente de força.

Como a política da Administração Obama é a de evitar explosões sociais, que podem abrir um processo revolucionário, principalmente perante as eleições norte-americanas que tem aumentado as contradições entre as alas da burguesia imperialista, a “frente popular” continuará sendo um fundamental destacamento para impedir a mobilização das massas e sustentar os ataques do eventual governo Temer. Talvez seja por isso que a cúpula do PT propõe a renúncia de Dilma, para entregar o governo à direita e evitar a implosão do Partido devido à impossibilidade de recuperar a economia e sobre essa base o avanço das massas.

O que precisamos analisar com maior profundidade é qual o grau e o ritmo da implantação do parlamentarismo no país e a profundidade dos acordos entre a “frente popular” e a Oposição de direita e quais setores da direita se propõe a negociar com o PT. Há uma dificuldade por parte da direita tradicional em controlar a extrema-direita. Isso pode ser visto nos atos em que os figurões da direita como José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, João Dória Jr entre outros foram expulsos da manifestação da Avenida Paulista, no dia 13 de março, por esses setores.

 

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