Também ouvi que a educação era um banco, e que o saber era algo tão valioso que deveria ser pago. Assim, nosso dever era “depositar” apenas aquilo que fosse pago, nem a mais, nem a menos. Essa é a educação dos mercenários.
Há quem diga que educar é uma missão cívica de defesa da pátria, a escola é um quartel, o professor é o sargento, os alunos os recrutas e estamos em guerra contra os inimigos. Quem não obedece o comando é um traidor da educação e da pátria. Greve é motim e deve ser punida com a pena capital.
Eu acredito na educação como um instrumento de construção do conhecimento. O professor não deve carregar cruz alheia, ou depositar migalhas, ou obedecer cegamente ordens. Seu dever é instruir e estimular livremente seus alunos a verem o mundo de forma autônoma, engajada e crítica. Os educandos não devem repetir nossas experiências, mas a partir delas, terem um ponto de apoio para construírem sua própria caminhada.
Sempre acreditei que o professor de verdade prepara seus alunos para serem melhores que ele. Desejo ver meus educandos alçarem vôos muito mais altos do que eu. Desejo que o céu não seja o seu limite. Desejo que cheguem ao espaço.
Mas, não posso de forma alguma crer que faremos isso sozinhos. A escola, o sistema de ensino, os governantes precisam cumprir com suas obrigações. Quando trabalhamos vendemos “apenas” a nossa força de trabalho. Mas, querem fazer convencer que devemos vender nossa saúde, nossa dignidade, amor próprio e nossa consciência. A esses eu alerto que as primaveras às vezes tardam, mas não falham.
O professor não deseja ser melhor ou igual ao médico, ou advogado, ou engenheiro, ou aos políticos profissionais. O professor quer apenas trabalhar em um ambiente digno, com salário digno à sua formação e em condições de trabalho dignas. Qualquer tentativa de desmontar essa lógica nos dá sim o direito de nos levantarmos contra a tirania, o autoritarismo de estado, o absolutismo pedagógico e o estigmatismo da sociedade.
O dia de hoje não pode apenas ser simbolicamente usado para comemorar ou se indignar com o descaso da educação, e sim refletir sobre o tempo atual e organizar nossa justa luta por uma educação pública, gratuita, de qualidade e a serviço da classe trabalhadora e do povo pobre desse país. Desse modo, parabenizo essa categoria valente que chora, sofre e luta em busca de dias melhores. Porque como dizia Paulo Freire, “educar é um ato de amor, e por isso um ato de coragem”.