«Entrámos [na Síria] para acabar com o regime do tirano al-Assad, que aterroriza com o terror de Estado. [Não entrámos] por qualquer outra razão», disse o presidente turco, citado pelo diário Hurriyet.
Erdogan disse que Ancara não tem reivindicações territoriais na Síria e que quer entregar o poder ao povo sírio, acrescentando que pretende restaurar «a justiça». «Por que razão entrámos? Nós não estamos interessados no solo sírio. A questão é entregar as terras aos seus verdadeiros proprietários. Quer dizer, estamos lá para estabelecer a justiça», disse.
De acordo com «estimativas» de Erdogan, quase um milhão de pessoas morreram na guerra da Síria, embora nenhuma organização tenha reportado tal número. Os últimos dados avançados pelas Nações Unidas apontavam para 400 mil mortos no conflito que dura desde 2011, refere a RT.
Erdogan, que se mostrou muito crítico com o papel das Nações Unidas – no encontro de ontem disse ter-se questionado sobre «onde estava» e «o que andava a fazer» a ONU –, afirmou que, a dada altura, a Turquia «perdeu a paciência» e «teve de entrar» no país árabe vizinho para lutar «ao lado do Exército Livre da Síria».
Invasão turca da Síria
As tropas turcas invadiram a Síria a 24 de Agosto, lançando a operação denominada Escudo do Eufrates. Tropas terrestres e aviação entraram no Norte do país vizinho, tendo como objectivo declarado combater o Estado Islâmico e retomar as regiões por ele controladas.
Para muitos observadores, a operação turca visa, de facto, atacar as forças curdas e impedir que as três regiões autónomas curdas no Norte da Síria venham a formar um só enclave, mesmo junto à fronteira turca e colado à região curda no seu território. Ali, as forças de Ancara há muito que exercem uma repressão brutal sobre a população curda, ao mesmo tempo que combatem os guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), com ou sem tréguas declaradas.
Síria não admite ingerências do «tirano» Erdogan
O Governo de Damasco denunciou a violação da sua soberania e a ingerência nos seus assuntos internos, depois de, ao longo dos anos, ter reiteradamente incluído a Turquia no rol de países que apoiam activamente as forças terroristas que operam no seu território. A Turquia foi acusada, também pela Rússia, de comprar petróleo aos terroristas, bem como de lhes permitir a passagem para entrar na Síria.
Hoje, o Governo sírio criticou as declarações de Erdogan, a quem chamou «mentiroso», e sublinhou que não irá deixar a Turquia interferir nos seus assuntos internos. Uma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio disse à agência SANA que o presidente turco «tornou o seu país numa base para terroristas, que minam a segurança e a estabilidade na Síria e no Iraque, e provocam sofrimento aos inocentes».
«É irónico que um tirano como Erdogan venha falar de democracia, quando transformou a Turquia numa grande prisão para todos os que se opõem à sua política», disse a mesma fonte.