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Diário Liberdade
Quinta, 08 Dezembro 2016 21:01 Última modificação em Terça, 31 Janeiro 2017 21:43

Um impossível Estado curdo

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País: Curdistám / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Blog de Nazanin Armanian

[Nazanin Armanian, traduçom do Diário Liberdade] Hoje em dia, o nascimento de um novo país nom depende da vontade dos seus habitantes, mas de que as potências mundiais o reconheçam como tal.

O último a ingressar na ONU foi o Sudám do Sul, e nom a Palestina ou o Curdistám.

A luita heroica dos curdos sírios contra o terrorismo, as medidas sociais que tomárom na sua pequena autonomia e a desintegraçom em marcha da Síria aumentárom as expectativas de criar um Estado do Curdistám da soma de “Rojava” e “Ba’ur”, ou seja, o Curdistám Ocidental (Síria) e o Curdistám Sul (Iraque).

Os curdos, junto aos balúchis, som os dous grandes povos de Oriente Próximo que, além de carecerem de um Estado próprio, vivêrom sob regimes despóticos. De origem meda, os curdos convertêrom-se em parte do Império persa, quando Ciro o Grande (séc. V a.d.n.e), de mae meda e pai persa, conquistou as suas terras. O termo Curdistám (-stám, do verbo indoeuropeo astán «estar, local de habitat») foi e é o nome de umha província do Irám desde 1150. Será em 1514, quando o Irám perda, numha guerra com os otomanos, parte dos seus principados curdos. Exatamente cinco séculos depois, outra guerra interimpérios volta a dividi-los: os curdos do derrotado Império otomano serám fechados nos limites de países inventados: Turquia, Iraque e Síria. A única populaçom curda que se salvará de repressom e da pobreza é a que viverá na Uniom Soviética, à qual aderem milhares de emigrantes esperançosos com a Revoluçom Bolchevique e o apelo leninista ao “direito de autodeterminaçom para todos os povos”. No Curdistám vermelho, pola primeira vez, poderám estudar “curdologia” na universidade e pesquisar sobre as suas origens, a sua língua e os seus apaixonantes credos. Em 1944, os curdos vivem outra experiência socialista, aproveitando a derrota do fascismo: os comunistas curdos e azeris do Irám tomam o poder e declaram as suas províncias “Repúblicas Democráticas”. Nom tinham em conta o equilíbrio das forças no país, na regiom e no mundo: Num ano, fôrom massacrados polo exército do Xá. As reformas que tinham realizado foram de índole lingüística e administrativa, nom económica, o que provocou a deceçom e a divisom no seio dos trabalhadores.

O novo mapa curdo traça-se numha outra guerra imperial: a de 1991 contra o Iraque, no ano do derrube da URSS. Os senhores feudais curdos conseguírom a Regiom Autónoma do Curdistám (RAC), em troca de venderem a sua alma ao diabo, colaborando na agressom militar da aliança liderada polos EUA ao Iraque e à populaçom árabe, esmagada com toneladas de bombas. Macabro e estúpido negócio, o de trocarem de amo e, além disso, por umha miséria: a partir de agora, som submetidos à vontade dos EUA.

Um projeto inviável

Para os EUA, os custos de um Estado do Curdistám som maiores que os benefícios: nom poderiam protegê-los das hostilidades dos seus vizinhos. Um Estado curdo sem acesso ao mar nom poderia vender as suas toneladas de petróleo sem passar polos países hostis à causa curda. Além disso, destruiria as suas estratégicas relaçons com a Turquia. A ditadura capitalista-religiosa de Erdogan nunca pensou que a sua interferência na Síria iria fortalecer a posiçom dos curdos (e turcos) de esquerda no próprio país. Daí que, enquanto param os curdos e bombardeiam as suas posiçons na Síria e no Iraque, negocie com a Rússia para sair do pántano e centrar-se em atacar os curdos.

Os EUA, por um lado, negam-lhes um Estado e, por outro, estimulam-nos a desintegrarem o Iraque. Barak Obama, em novembro do 2015, recusous-se a autorizar a declaraçom de independência da RACI, pois teria agravado a crise atual na zona e posto em risco o seu status atual.

Os curdos da Síria, que graças a umha calculada retirada do exército de Bashar Al Assad em julho de 2013 –cujo objetivo era dividir a oposiçom e atemorizar a Turquia–, nom consideram que quando Hilary Clinton di que “Os curdos fôrom os nossos melhores sócios na Síria, ao igual que no Iraque”, nom é um afago para umha força progressista. EUA e França já tenhem base militar na zona curda síria.

Erdogan prevê instalar na zona curda umha universidade religiosa, tentando substituir Marx (que coabitaba com Maomé) nos coraçons curdos. O seu Umma oculta a luita de classes. Prefere curdos armados no monte que desarmados no parlamento, e agora empurra o país para umha guerra civil.

O governo do Irám, que nom concedeu nem umha mínima autonomia administrativa a umha dúzia de naçons do país, também impediria qualquer projeto ao respeito.

Israel, na aplicaçom da “doutrina da periferia” de David Ben-Gurion -que propom a aliança de Israel com países e grupos nom árabes-, é o único país que apoia um Curdistám sobre as ruínas da Turquia, Irám, Iraque e Síria. Os líderes curdos confundem o seu povo ao identificarem o povo judeu com a extrema-direita que governa Israel, ocultando-lhes como o Mossad capturou e entregou Abdullah Öcalan aos militares turcos em 1999.

Os principais líderes curdos também nom querem a independência. No Iraque, depois do “nom” de Obama, tencionam um amplo federalismo dentro do Iraque; na Turquia, Öcalan, depois de abandonar o marxismo em favor do anarquismo de Murray Bookchin, renunciou à ideia, igual que à luita anticapitalista. Os curdos da Síria pedem umha “Confederaçom do Norte”, e os do Irám, nem isso. Nom tinham levantado cabeça desde o assassinato dos seus líderes na década de 1990 na Europa e é agora quando voltam a declarar umha luita armada sem sentido contra a República Islámica.

Um Estado do Curdistám, baseado numha sociedade tribal e nom numha naçom, viveria com grandes diferenças lingüísticas, culturais, políticas e religiosas (umha maioria sunita, com milhons de xiítas, importantes grupos fundamentalistas de ambas correntes, cristaos, izadis e judeus) às quais se soma o mais importante: as diferenças de classe. Na RAC, por exemplo, a corrupçom e o nepotismo das duas famílias milionárias de Barezani e Talebani que dominam a política, é monumental. Enquanto uns 70.000 curdos e curdas vivem na pobreza, desaparecêrom 1.107 milhons de dólares dos cofres públicos, e o governo congela os salários e encarcera e tortura as pessoas detidas.

Até houvo umha guerra civil entre os partidos curdos iraquianos em 1994, que deixou milhares de pessoas mortas.

O olhar mutilado do nacionalismo etnocêntrico, insolidário, e com ares de superioridade é incapaz de entender a luita de classes, igual que os interesses das elites regionais e mundiais. Tentou vender um conflito reacionário e imperialista na zona como umha luita romántica de libertaçom nacional, utilizando inclusive a imagem de mulheres belas e sem véu curdas. Neste cenário, onde ninguém procura soluçons à questom curda, e sim utilizá-la, os curdos deixam de ser jogadores do seu próprio destino para se converterem em peons doutros.

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