O Secretário da Defesa britânico, Michael Fallon, reconheceu, ontem, na Casa dos Comuns, que os sauditas têm estado a usar bombas de fragmentação de fabrico britânico na ofensiva que lideram contra o Iémen desde Março de 2015.
Fallon teve de se dirigir ao Parlamento, nesta segunda-feira, depois de terem vindo a público os resultados de uma investigação interna do Ministério da Defesa britânico que confirmam as alegações de que Riade usa um tipo de armamento fabricado no Reino Unido que foi banido pela Convenção sobre as Munições de Fragmentação (2008) – de que o país europeu é signatário e que ratificou em 2010.
Estes novos elementos surgiram no jornal The Guardian; a fonte, anónima, revela que o Governo britânico estava a par do resultado das investigações há já um mês.
No Parlamento, Michael Fallon precisou que a Arábia Saudita tinha usado bombas de fragmentação britânicas no Iémen, mas que o Reino Unido não vende esse tipo de armamento aos sauditas desde 1989. «A coligação confirmou, hoje, que um número limitado de bombas de fragmentação BL-755, exportadas pelo Reino Unido nos anos 80, foram lançadas no Iémen», disse, citado pela RT.
Sauditas confirmam
Também na segunda-feira, um porta-voz das Forças Armadas sauditas admitiu que o seu país «usa as bombas de fragmentação fabricadas no Reino Unido, modelo BL-755, no Iémen».
O militar disse que nem a Arábia Saudita nem outros membros da coligação que têm estado a destruir o Iémen são signatários da Convenção sobre as Munições de Fragmentação, de 2008, pelo que «não têm estado a infringir o direito internacional». Acrescentou que Riade tinha decido deixar de utilizar este tipo de munições e que já tinha posto o Governo britânico ao corrente da decisão.
Profundo envolvimento britânico
Numa entrevista recentemente concedida ao canal britânico Sky News, o primeiro-ministro iemenita, Abdulaziz bin Habtur, acusou o Reino Unido de ter cometido «crimes de guerra» no seu país. «Eles sabem que os sauditas vão lançar [as bombas] no Iémen... Em Sa'ada e Saná e noutras províncias. Eu não acho que eles [os britânicos] sejam culpados de crimes de guerra, eu tenho a certeza disso. Eles estão a participar nos bombardeamentos do povo iemenita», disse.
Recorde-se que, em meados de Outubro, Michael Fallon reconheceu o envolvimento do país na intervenção militar no Iémen, ao admitir que «o Reino Unido tem treinado a Força Aérea saudita tanto no Reino Unido como na Arábia Saudita», com o propósito de «melhorar os seus processos de selecção de alvos» e assegurar o seu melhor enquadramento no direito internacional. Negou, no entanto, que os britânicos tenham estado envolvidos em processos de decisão na ofensiva levada a cabo pelos sauditas no Iémen.
Negócio lucrativo de milhões
No mês passado, o Governo britânico recusou-se a parar o lucrativo negócio de venda de armas à Arábia Saudita, rejeitando os apelos nesse sentido de várias organizações e de duas comissões parlamentares, por considerarem que os crimes de guerra estão hoje «bem documentados» e que o país deve deixar de ser cúmplice com a «campanha assassina» que dura há 21 meses.
De acordo com a Campanha contra o Comércio de Armas (CAAT, na sigla em inglês), o Reino Unido vendeu armas aos sauditas no valor de 3,3 mil milhões de libras só nos primeiros 12 meses de guerra no Iémen.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, tem sido uma defensora férrea dos laços anglo-sauditas. Na semana passada, insistiu na sua defesa, afirmando que a «intervenção no Iémen» tem o apoio das Nações Unidas e que, perante alegações de violações dos direitos humanos, o seu país solicita «a sua devida investigação». E já o fez... à Arábia Saudita.
May insistiu noutro aspecto: as relações com a Arábia Saudita mantêm a Britannia segura. «A segurança do Golfo é importante para nós [...] e as ligações de contra-terrorismo que mantemos com a Arábia Saudita, as informações secretas que recebemos da Arábia Saudita têm salvo centenas de vidas aqui, no Reino Unido», disse, segundo refere a RT.