Foi na passada sexta-feira que o novo presidente dos EUA assinou uma ordem executiva para suspender a entrada de refugiados no país por, pelo menos, 120 dias e impedir a entrada de viajantes oriundos do Irão, Iraque, Líbia, Somália, Síria e Iémen durante os próximos três meses.
A concretização da promessa proferida durante a campanha eleitoral foi justificada numa alusão ao terrorismo, com destaque para o 11 de Setembro, mesmo que nenhum dos envolvidos no ataque às torres gémeas, em 2001, fosse oriundo destes países.
«Vamos ter uma proibição muito, muito severa e vamos ter verificações completas, o que já devíamos ter neste país há muitos anos», anunciou.
A entrada em vigor da medida, na sexta-feira à noite, apanhou de surpresa as pessoas que já estavam no avião e prontas para seguir viagem, mas os defensores dos imigrantes conseguiram, entretanto, uma primeira vitória.
Ontem, a decisão de uma juíza do Tribunal do Distrito Federal de Brooklyn (Nova Iorque) impediu as autoridades de procederem à deportação de cidadãos dos sete países de maioria muçulmana, que foram autorizados a entrar e chegaram aos EUA. A decisão chegou depois de mais de uma centena de passageiros terem sido detidos ao chegarem aos aeroportos e ameaçados de expulsão.
Na manhã de ontem, várias associações tinham desafiado na justiça a nova medida de Donald Trump, por considerarem que se trata de uma medida discriminatória. Acrescentam que é igualmente anti-constitucional, uma vez aplicar-se aos cidadãos com os documentos em dia.
Outro juiz federal da Virgínia anunciou uma decisão semelhante, desta vez visando os passageiros detidos no aeroporto de Dulles, perto de Washington.
Os principais aeroportos dos EUA foram palco de manifestações contra a medida sem precedentes na história recente deste país, entre eles o John F. Kennedy (JFK) em Nova Iorque, mas também em Washington, Chicago, Minneapolis, Denver, Los Angeles, São Francisco e Dallas.
Entretanto, companhias aéreas como a holandesa KLM, a Air France e a Qatar Airlines já começaram a agir em função do decreto de Trump, impedindo passageiros dos países visados de viajarem para os Estados Unidos.
Realizador iraniano não participa nos Óscares
Por causa do veto presidencial, o National Iranian American Council confirmou na noite de ontem, em Washington, que o realizador de O vendedor, o iraniano Asghar Farhadi, não poderá entrar nos Estados Unidos para assistir à cerimónia de entrega dos Óscares da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, no dia 26 de Fevereiro.
Farhadi venceu o Óscar de melhor filme estrangeiro, em 2012, com o drama Uma Separação.
A protagonista d' O vendedor, a actriz iraniana Taraneh Alidoosti, já havia dito na quinta-feira que se recusaria a ir aos Estados Unidos, para assistir à cerimónia dos Óscares, em protesto contra a proibição de entrada de refugiados provenientes de países como o Irão e o Iraque.
Uma bola de pingue-pongue
Segundo anunciou, ontem, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohamad Javad Zarif, «depois da decisão insultuosa dos Estados Unidos respeitante aos cidadãos iranianos», o Irão vai proibir a entrada de norte-americanos.
De acordo com Javad Zarif, o impedimento de entrada a cidadãos norte-americanos durará pelo mesmo período (90 dias) ou enquanto se mantiver o fecho de fronteiras por parte dos Estados Unidos.
Considerou ainda que, «apesar de reclamar estar a lutar contra o terrorismo e a manter seguros os norte-americanos, a decisão (de Trump) ficará para a história como uma prenda para os extremistas e seus apoiantes».