A decisão, noticiada dia 3 pela Reuters, foi tomada depois de se constatar que o PIB não se adapta à especificidade da economia irlandesa.
De fato, a concentração na Irlanda de sedes europeias de grandes multinacionais, como a Google ou a Apple, para beneficiarem de condições fiscais altamente vantajosas, tem gerado fluxos artificiais de capitais que falseiam as estatísticas.
Esta "relocalização" fiscal acaba por provocar uma hipertrofia ilusória do PIB, que está longe de traduzir a riqueza criada, como as autoridades agora reconhecem abertamente.
Por exemplo, em 2015, a Irlanda registou o extraordinário crescimento de 26,3 por cento do PIB, valor revisto em julho do ano passado, que triplicou o aumento previsto de 7,8 por cento, já em si muito elevado.
Muito mais modesto foi o aumento do consumo, que se ficou pelos 4,5 por cento, ou a criação de empregos (2,6%).
Os fluxos de capitais das multinacionais instaladas na Irlanda geraram um tal "crescimento", que a dívida pública da Irlanda caiu repentinamente para 79 por cento do PIB, ou seja, para um nível inferior ao da Bélgica, da França e Áustria, e praticamente o mesmo que o da Alemanha.
Na realidade, tudo não passa de uma "fantasia", segundo a expressão do economista norte-americano Paul Krugman.
A dívida pública irlandesa continua a ser uma das mais elevadas da União Europeia (em resultado da crise financeira de 2008), representando 286 por cento da receita fiscal, contra 195 por cento da média europeia.