A agência Kyodo de notícias repete fontes que teriam dito que em Pequim Tillerson conta com reunir-se com o presidente Xi Jinping e espera conseguir um encontro nos EUA, de Xi com o presidente Donald Trump, "para o início de abril."
A mídia chinesa indicou recentemente que o conselheiro de Estado Yang Jiechi, que esteve em Washington há uma semana e foi recebido pelo próprio Trump, esperava trabalhar para agendar uma reunião de cúpula entre os dois presidentes. Sem dúvida, os eventos estão andando muito depressa. As predições apocalípticas que Trump andou distribuindo a mancheiras, de um confronto militar com a China no Mar do Sul da China já se revelaram puro nonsense.
Analistas indianos, especialmente, andaram lendo o futuro em folhas de chá, mas erraram horrivelmente; previram uma estratégia de movimento de pivô ainda mas robusto, na Ásia, do que o de Barack Obama, orientado para "conter" a China. Um colunista chegou a ponto de fantasiar que o estrategista chefe de Trump, Stephen Bannon, considera(ria) que o primeiro-ministro [indiano] Narendra Modi seria "'Reaganesco' e homem do seu tempo" –, o que significa que PM será a nêmese da China, como Reagan foi a nêmese da URSS!
Tais fantasias à parte, todas as indicações disponíveis sugerem que Trump teria priorizado um engagajamento construtivo com a China. (Em meu blog, escrevi sobre isso: Trump prioritizes meeting with Xi Jinping.) O xis da questão é que a agenda doméstica de Trump para reconstruir a economia norte-americana e criar empregos numa grande escala exigirá investimento massivo. E a simples verdade é que os EUA enfrentam desesperante falta de dinheiro.
Adiante, alguns excertos para contexto, de documento intitulado "Como Trump pode afetar a Dívida Nacional" [ing. How Trump Could Affect the National Debt], que foi distribuído pelo Conselho de Relações Exteriores [ing.Council of Foreign Relations] em New York no fim-de-semana:
- Desde o início da crise de 2007, a dívida total do governo dos EUA praticamente dobrou (...). Praticamente dobrou desde 2007, subindo, de 40% para perto de 80% do PIB. (Contando a dívida governamental intragovernamental, ou dívidas contraídas por uma agência governamental norte-americana contra outra, o total chega próximo de $20 trilhões, mais de 120% do PIB.) (...) Sem qualquer outro gasto, o Gabinete do Orçamento no Congresso estima que a dívida crescerá $9,4 trilhões ao longo da próxima década. Trump ainda tem de expor muitos detalhes de orçamento dos seus planos de governo (...). Mas baseados em suas promessas de campanha, muitos analistas dizem que as políticas de Trump têm tudo para ampliar significativamente o déficit no orçamento (...). Infraestrutura é outra área na qual Trump prometeu maiores gastos, deixando aflorar a ideia de um plano de $1trilhão.
Conhecido autor do CFR, Michael O’Hanlon escreveu na revista Foreign Affairs que Trump está sendo realmente bombástico quando fala de aumentar o gasto militar, porque simplesmente não há esse dinheiro disponível no porquinho do Tio Sam, para gastar nessa ampliação militar extravagante.
Entra a China. Uma sequência de comentários deliciosos apareceu na mídia chinesa em semanas recentes para repercutir a ideia de que os investimentos chineses são precisamente o que o médico receitou a Trump (aqui, aqui eaqui). O ponto é que Trump não tem alternativa que não seja persuadir a China a ampliar o mercado para exportações dos EUA e encorajar os chineses a fazer grandes investimentos na economia norte-americana. De fato, que outro país, exceto a China, poderia investir dinheiro nessa escala massiva com que Trump conta? Jack Ma, fundador e CEO de Alibaba, encontrou-se com Trump, ainda presidente eleito, e ofereceu que sua empresa chinesa, que pode acrescentar um milhão de empregos à economia dos EUA.
O frenesi com que Trump e Xi estão marcando encontros de curto prazo reforça a impressão de que os dois lados já sentiram a convergência estratégica de Trump e Xi. Para Trump, o sucesso de toda essa aposta para um segundo mandato nas eleições de 2020 dependerá, em grande parte, de sua capacidade para manter ao seu lado o próprio eleitorado. Tudo isso se manifesta na necessidade de atender às aspirações dos que o apoiam – criando empregos. Dito de forma resumida, Trump precisa de resultados rápidos.
Também para a China, tem sido objetivo estratégico trabalhar na direção de aprofundar a interdependência entre os dois países, para assim eliminar as chances de confronto mutuamente destrutivo e fútil. A China fará tudo que possa, não importa o que custe, para escapar da chamada "armadilha de Tucídides". As declarações dos chineses batem sempre na tecla da prontidão, de Pequim, para cooperar com os EUA em toda a ampla gama de questões regionais e internacionais.
Sem dúvida, a dinâmica potência asiática está passando por transformação fenomenal. Todos os países asiáticos dedicarão concentrada atenção á surpreendente virada de Trump na direção da China. Em termos claros, a mensagem que está circulando é que os EUA estão desgastados pelo esforço terrível para perpetuar sua dominação na Ásia, e vão-se abrindo para partilhar o peso com a China. (Escrevi sobre isso em Asia Times, dia 10 de fevereiro, na coluna Trump’s larval-pupal metamorphosis on China policy).