É o primeiro assalto direto dos EUA contra alvo de Assad em seis anos de guerra na Síria. Em 2013 o governo sírio foi acusado de usar armas químicas e o governo Obama cogitou de atacar o país. Mas a crise acabou por ser superada graças a esforços diplomáticos dos russos.
A nova crise foi disparada por um ataque com armas químicas na Síria, na 3ª-feira, que teria causado mais de 200 mortes de civis, incluindo crianças. Vários países, incluindo EUA, Reino Unido e França imediatamente anunciaram que forças do presidente Assad estariam por trás do ataque, embora o governo sírio tenha rejeitado veementemente a acusação. A Rússia acompanhou a posição do governo sírio. Quando o incidente chegou ao Conselho de Segurança da ONU verificou-se grande divergência de opiniões entre o campo ocidental e representantes russos e chineses.
O ataque militar norte-americano na 6ª-feira aconteceu apesar de não haver qualquer resultado definitivo da investigação por organização internacional, e foi levado a efeito sem resolução do Conselho de Segurança da ONU. O governo Obama agiu muito rapidamente nessa ação – marcando acentuado contraste com o governo que o precedeu.
A decisão de atacar o governo Assad é um show de músculos do presidente dos EUA. Quer provar que tem coragem para fazer o que Obama não ousou fazer. Quer provar ao mundo que não é "presidente empresário", e que usará força militar dos EUA sem hesitar, quando entender que é necessária.
A ação militar dos EUA abre a porta para outros ataques militares diretos contra o governo de Assad, sinal de que a interferência externa na Síria está entrando em rápida escalada. Antes do ataque e hoje [horário de Pequim], as forças de Assad vinham obtendo vantagem muito evidente na guerra, mas a interferência militar estrangeira pode pôr fim ao domínio dos sírios no seu próprio país.
Atualmente, há três forças em luta na Síria: o governo sírio, contra rebeldes e contra o Estado Islâmico. Até aqui o ocidente jamais parou de armar os rebeldes, ao mesmo tempo em que a Rússia apoia o governo do presidente Assad. E forças russas e ocidentais têm atacado alvos do Estado Islâmico.
Os ataques militares norte-americanos podem levar a "desinteligência" [ing. a "falling out"] entre os governos Trump e Putin, pondo fim à "lua de mel", quando os dois lados estenderam ao outro um ramo de oliveira. Reemergirá mais uma vez o conflito entre EUA e Rússia, repetição do mesmo ciclo que se viu no governo Obama, quando o bom entendimento inicial foi convertido em grave oposição.
Nem faz muito tempo, Trump disse que seria idiota atacar ao mesmo tempo o Estado Islâmico e o governo sírio. Agora, ordenou um ataque, permitindo-se bem pouco tempo para refletir antes de decidir. É o primeiro grande movimento de Trump em assuntos internacionais, e deixa a impressão de que a decisão foi tomada às pressas, sem ter sido discutida.
Mais uma vez, o Oriente Médio é posto no centro das atenções. Nem Rússia nem Irã manter-se-ão em silêncio, nem se deixarão ficar ociosamente à margem, aceitando a desinteligência. A guerra na Síria entra em nova fase. Mais refugiados fugirão da região, e a Europa pode vir a ter de pagar o preço.