Na costa Ocidental, sobretudo ao largo da Nigéria, de 2015 para 2016 registou-se um incremento de 76 por cento nos assaltos a navios. A organização não-governamental One Earth Future revelou que, em 2016, foram inventariados no Golfo da Guiné 95 actos de pirataria, contra 54 no ano anterior. Desde 2012 que o número de incidentes tem subido.
Os piratas da zona mudaram o modo de operar e, agora, privilegiam a captura de tripulantes como reféns e a exigência de resgates. Uma técnica mais simples e menos arriscada e dispendiosa do que o desvio de cargueiros e petroleiros.
Para além da Nigéria, vários países da região – do Gana a Angola, passando por Togo, Benim, Camarões, Guiné Equatorial, Gabão, Congo e República Democrática do Congo – têm coordenado esforços para combater a pirataria. Mas a Nigéria, em cujas águas ocorreram dois terços dos casos verificados, está no centro do problema. Segunda grande economia africana, rica em petróleo, está em guerra com os radicais do Boko Haram, no Nordeste, atingido nos últimos meses também pela fome.
Não por acaso, forças navais de 31 países realizaram em finais de Março, no Golfo da Guiné, que banha 5700 quilómetros de costa, exercícios militares para melhorar as capacidades das marinhas de guerra africanas na luta contra a pirataria.
Baptizadas Obangame Express 2017 (obangame significa união, na língua da etnia fang, da África Central), as manobras foram organizadas pelo Africom, o comando militar dos EUA para África.
No Leste do continente, altos responsáveis norte-americanos reconheceram o recrudescimento da pirataria também nas costas da Somália.
Numa visita ao Djibuti, em Abril, o secretário da Defesa, James Mattis, e o comandante do Africom, general Thomas Waldhauser, afirmaram que a seca e a fome estão a «impulsionar o ressurgimento» da pirataria no estratégico do Corno de África.
Nas águas da Somália, país em guerra há um quarto de século, registaram-se seis ataques de piratas no último mês.
Os maiores piratas
Pirataria sempre houve ao longo de séculos de História. No Atlântico, no Mediterrâneo, no Índico, no Pacífico. Piratas vikings, árabes, berberes ou turcos. Chineses, indianos, malaios. Portugueses, espanhóis, holandeses, franceses e ingleses. Aventureiros sanguinários a maioria, alguns até heróis nas suas terras (no século XVI, o corsário Francis Drake, pirata encartado pela Coroa inglesa, foi armado cavaleiro).
A ironia é que, hoje, os africanos – que sofreram na pele a escravidão e a dominação colonial – estão a ser «ajudados» na luta contra a pirataria, no Golfo da Guiné ou no Corno de África, pelos EUA, a grande potência imperialista. Responsável, sobretudo desde a II Guerra Mundial, pelos maiores actos de pirataria em África e em todo o mundo, ateando guerras, destruindo estados, explorando trabalhadores, saqueando e pilhando as riquezas dos povos.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2267, 11.05.2017