De acordo com as projecções e com os primeiros resultados da segunda volta das legislativas de hoje, o partido República em Marcha (REM) e o MoDem, que apoiam o presidente Emmanuel Macron, devem eleger entre 350 e 370 deputados, claramente abaixo dos 385 que garantem uma maioria de dois terços e dos mais de 400 que chegaram a ser apontados nas sondagens, durante a última semana.
A abstenção ultrapassou os 58%, o valor mais alto de sempre, confirmando os dados da primeira volta e a desilusão dos franceses com sucessivos governos alinhados com os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros do seu país.
Apesar de o resultado ser inseparável, como o das presidenciais, de uma fortíssima penalização do projecto político protagonizado, nos últimos anos, por Sarkozy e Hollande – com pesadas derrotas para os Republicanos (do primeiro) e, particularmente, para o Partido Socialista (do segundo) –, a vitória com maioria absoluta do partido de Macron e seus aliados não rompe com essa política.
Aliás, os protagonistas destes resultados (que estão a ser apresentados pelos próprios como uma ruptura com o sistema político francês) foram-no também desses governos – com o presidente Macron à cabeça, ex-ministro da Economia de François Hollande.
O sistema eleitoral francês, com círculos uninominais a duas voltas, voltou a provar ser um eficaz seguro de vida para as forças políticas que vêm controlando a V República francesa desde a sua formação – apesar das recomposições internas, como é o caso recente da formação do REM, com a cooptação de membros dos Republicanos e dos Socialistas.
Recorde-se que, na primeira volta, o REM e o MoDem recolheram apenas 32% dos votos. Com apenas 28% na primeira volta, o partido de Macron sozinho deve mesmo conseguir a maioria dos deputados na Assembleia Nacional Francesa.
À esquerda, apesar de a aliança registada em 2012 em trono da Frente de Esquerda (que conseguiu eleger dez deputados) não se repetir, tanto o Partido Comunista Francês como a França Insubmissa (do candidato presidencial Jean-Luc Mélenchon) devem assegurar, pelo menos, entre duas e três dezenas de deputados, em conjunto.
Um registo muito próximo do Partido Socialista francês, de onde Macron é originário e o mais fustigado com a debandada rumo ao REM e a desilusão com os últimos cinco anos de governação, que deve registar o seu pior resultado, com menos do que os 57 deputados eleitos em 1993 – quando Jacques Chirac alcançou uma maioria esmagadora de 472 lugares entre os 577 eleitos para a Assembleia Nacional.
O secretário-geral do Partido Socialista, Jean-Christophe Cambadélis, em reacção aos resultados, anunciou a sua demissão e disse que o partido tem de «mudar tudo, as suas ideias como a sua organização».
Outra realidade escondida pelo sistema eleitoral é o progressivo reforço da extrema-direita francesa. Apesar de terem recolhido cerca de 13% dos votos na primeira volta e pouco mais de 10% hoje, a Frente Nacional deve eleger menos de dez deputados – seguramente o melhor resultado de sempre para um partido que apenas entrou na Assembleia Nacional nas últimas legislativas, com apenas dois deputados.