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Diário Liberdade
Sábado, 25 Novembro 2017 21:45 Última modificação em Quinta, 30 Novembro 2017 22:04

Síria, 2017: A ocupação pelos EUA (chamada de "presença") é insustentável

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País: Síria / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Moon of Alabama

[23/11/2017, Tradução do Coletivo Vila Vudu] Os EUA estão agora ocupando o nordeste da Síria. Os EUA tentam chantagear o governo sírio e empurrá-lo para a tal "mudança de regime". A ocupação é insustentável, o objetivo dela é inalcançável. Os generais que conceberam esses planos são incapazes de ter visão estratégica. E estão dando ouvidos às pessoas erradas.

O chamado "Estado Islâmico" já não controla território significativo na Síria e no Iraque. O que resta dele são umas poucas vilas no vale do rio Eufrates que serão liberadas em poucos dias. Os remanescentes não passarão de algumas gangues terroristas na região. Forças locais podem assumir e em pouco tempo assumirão pleno e adequado controle sobre aquelas gangues que sobrarem. O que se chamouEstado Islâmico está extinto. Por isso o Hizbullah libanês anunciou que está retirando do Iraque seus conselheiros e suas unidades. Por isso a Rússia já começou a repatriar algumas das unidades que mantinha na Síria. Já não há necessidade da contribuição de forças estrangeiras para eliminar o que resta do ISIS.

A Resolução n. 2.249 (2015) para a luta contra o ISIS, do Conselho de Segurança da ONU:


"Reafirma seu respeito à soberania, à integridade territorial, à independência e à unidade de todos os Estados, de acordo com os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas,

...

Conclama os Estados-membros que têm a capacidade para fazê-lo, que tomem as medidas necessárias, nos termos da lei internacional, em particular da Carta da ONU... sobre o território sob controle do ISIL também conhecido como Daech, na Síria e Iraque, a que redobrem e coordenem seus esforços para impedir e suprimir atos terroristas cometidos especificamente pelo ISIL... e entidades associadas com Al-Qaeda... e para erradicar o paraíso seguro que aqueles terroristas estabeleceram em partes significativas do Iraque e Síria.


Já não há "território controlado pelo ISIL". Seus "paraísos seguros" foram "erradicados". A tarefa determinada e legitimada pela Resolução do Conselho de Segurança da ONU está cumprida. Já não há qualquer justificação, nos termos da Res. n. 2.249 do Conselho de Segurança da ONU, para que haja tropas dos EUA na Síria ou Iraque.

Outras justificações legais, como um convite feito pelos governos de Síria e Iraque, também se aplicam. O governo sírio convidou forças militares russas, iranianas e libanesas para que permanecessem na Síria. Mas não convidou forças dos EUA. As forças dos EUA hoje ocupam ilegalmente terra síria no nordeste do país. O governo sírio já as declarou explicitamente "forças de ocupação".

(Fico pensando quanto ainda falta para que a arrogante União Europeia imponha sanções aos EUA por essa agressão à lei internacional, com violação da soberania da Síria.)

Conforme documentos oficiais, mais de 1.700 soldados dos EUA permanecem atualmente na Síria. Oficialmente, só se fala de 500 soldados. Os 1.200 soldados além dos oficiais, são ditas forças "temporárias". (No total o número de soldados dos EUA no Oriente Médio aumentou 33% ao longo dos últimos quatro meses. Os números dobraram na Turquia, Kuwait, Qatar e nos Emirados Árabes Unidos, EAU. Ninguém deu qualquer explicação para a presença desses soldados dos EUA nesses países.)

Os soldados dos EUA que invadiram território sírio são aliados do YPG curdo. Esse YPG é o ramo ativo na Síria da organização terrorista curda de renome mundial, PKK. Apenas cerca de 2-5% da população síria é constituída de sírios-curdos. Comandados pelos EUA, os terroristas do PKK controlam mais de 20% de território do estado sírio e cerca de 40% de suas reservas de petróleo. É assalto à mão armada em grande escala.

Para disfarçar a cooperação com os terroristas curdos, os EUA rebatizaram o grupo: agora se chamam "Forças Democráticas Sírias" (ing. "Syrian Democratic Forces", SDF), às quais foram incorporados alguns militantes árabes de tribos sírias. Quase todos são ex-coturnos a serviços do ISIS e que mudaram de lado quando os EUA ofereceram melhor salário. Outros combatentes foram obrigados a se alistar. Os moradores da cidade árabe-síria de Manbij, que está ocupada por forças de YPG-EUA, protestaram quando YPG-EUA começaram a alistar com força violenta, jovens da cidade.

Nos últimos dias, mais soldados integraram-se às tais FDS, quando terroristas do ISIS escaparam de ser massacrados por forças sírias e iraquianas em Abu Kamal (também dita Albu Kamla e Bukamal). Fugiram para o norte, em direção a áreas onde estão EUA-YPG. Como fizeram com outros grupos do ISIS, os EUA ajudaram esses terroristas a escapar do castigo merecido e os rebatizarão para reuso.

O Ministério de Defesa da Rússia acusou os EUA de ter bloqueado o espaço aéreo de baixa altitude sobre Abu Kamal, quando os sírios, aliados da Rússia lutavam para expulsar dali os terroristas. Durante oito dias, foi preciso trazer da Rússia bombardeiros de alta altitude e longo alcança, para garantir proteção aos soldados em solo. Em recente fala pela TV, o secretário-geral do Hizbullah libanês, Hassan Nasrallah, acusou soldados norte-americanos na Síria de estarem fornecendo inteligência de drones aos terroristas do ISIS em Abu Kamal. ISIS serviu-se dessa inteligência para atacar soldados sírios e aliados. Vários altos oficiais do Corpo de Guardas Revolucionários do Irã foram mortos nesses ataques. Nasrallah disse também que os EUA usaram armas de guerra eletrônica para desabilitar os rádios da força que atacava os terroristas. O líder do Hezbollah também disse que os EUA resgataram terroristas do ISIS que fugiam. As acusações de Nasrallah são consistentes com relatórios de solo. (EUA e aliados também continuam a garantir suprimentos a outros grupos terroristas no noroeste e no sudoeste da Síria.)

Nem Nasrallah nem o Corpo de Guardas Revolucionários do Irã esquecerão esses crimes. O comandante do Corpo de Guardas Revolucionários do Irã, general Quasem Soleimani, reportou recentemente diretamente ao Líder Supremo do Irã, Aiatolá Khamenei:


Todos esses crimes foram concebidos e executados por líderes e organizações norte-americanas
, com conhecimento do mais alto funcionário dos EUA que é atualmente presidente dos EUA; ainda mais importante, esse mesmo esquema ainda continua a ser modificado e implementado pelos atuais líderes dos EUA.


Os EUA modificaram a regra de seus engajamentos e declararam não oficialmente uma zona aérea de exclusão (ing. no-fly zone) contra aeronaves russas e sírias na margem leste do rio Eufrates. Dizem que atacarão qualquer força que cruze o rio para perseguir os terroristas do ISIS. Os EUA estão abertamente protegendo seus próprios terroristas.

Há dez dias, o secretário de Defesa dos EUA general (aposentado) Mattis anunciou as intenções dos EUA, de ocuparem ilegalmente a Síria:


Os militares dos EUA combaterão contra o Estado Islâmico na Síria "enquanto quiserem combater" – disse o secretário de Defesa Jim Mattis na 2ª-feira, descrevendo um papel de mais longo prazo que as tropas dos EUA teriam, segundo o general, mesmo muito depois de os insurgentes (sic) terem perdido todo o território que controlam

....

"Não vamos simplesmente sair e ir embora agora, antes de o processo de Genebra ter tração" – acrescentou

....

A Turquia disse na 2ª-feira que os EUA têm 13 bases na Síria, e a Rússia tem cinco. A milícia curda YPG síria apoiada pelos EUA disse que Washington estabeleceu sete bases militares em áreas ao norte da Síria.

Matéria de hoje do Washington Post é mais específica. A manchete é clara: EUA movimenta-se para presença por tempo indeterminado depois de o Estado Islâmico ser expulso:


O governo Trump está ampliando seus objetivos na Síria mesmo depois de expulsar o Estado Islâmico, de modo a acrescentar a exigência, para sair, de que haja solução política para a guerra civil (sic) naquele país

....

Com forças leais ao presidente Bashar al-Assad e seus aliados russos e iranianos já se aproximando de controlar as últimas cidades ainda ocupadas pelos militantes, a derrota do Estado Islâmico na Síria pode ser iminente — bem como o fim da justificativa para a presença lá de forças dos EUA.

Funcionários dos EUA dizem que esperam usar a presença continuada de soldados dos EUA no norte da Síria, como apoio às Forças Democráticas Sírias, dominadas pelos curdos, para pressionar o presidente Assad a fazer concessões nas conversações de paz coordenadas pela ONU em Genebra

....

Uma saída abrupta dos EUA poderia completar a tomada de todo o território sírio por Assad (sic) e ajudaria a garantir a sua sobrevivência política – resultado que constituiria uma vitória para o Irã, seu aliado muito próximo.

Para evitar esse resultado, funcionários dos EUA dizem que planejam manter uma presença de tropas dos EUA o norte da Síria — onde os norte-americanos treinaram e deram assistência às Forças Democráticas Sírias contra o Estado Islâmico – e estabelecer nova governança local, separada do governo Assad, naquelas áreas

....

"Ao não determinar prazo para o fim da missão dos EUA (...) o Pentágono está criando um quadro para manter os EUA engajados na Síria por muitos anos" [disse Nicholas Heras do Centro para uma Nova Segurança Norte-americana que tem sede em Washington."

Até os 'marketeiros' propagandistas que escrevem no Washington Post admitem que já não há qualquer justificativa para os EUA permanecerem na Síria. O objetivo dos EUA é fazer chantagem: "pressionar Assad para que faça concessões". O método para executar a chantagem chama-se "presença" militar. Em nenhuma hipótese o povo e o governo sírios cederão a essa chantagem. Eles não lutaram durante mais de seis anos para, agora, desistir da própria soberania por efeito de uma intriga concebida pelos EUA. Os sírios pagarão para ver.

Não há, em nenhum manual militar, referência a alguma "presença". "Presença" não é missão militar. Se a 'tarefa' não tem definição, tampouco tem regras. 

A última vez que os EUA usaram o termo "presença" foi no início dos anos 1980s, durante a guerra do Líbano. A tarefa dos soldados dos EUA estacionados em Beirute foi definida como mostrar "presença" militar. Depois que as tais unidades e forças navais dos EUA "presentes" intrometeram-se a favor de um dos lados da guerra civil, o lado atacado, para vingar-se dos EUA, implantou forças militares francesas em Beirute. Os acampamentos dessas forças "presentes" foram atacados e explodidos: morreram 241 soldados dos EUA e 58 soldados franceses. E acabou-se ali a "presença" militar dos EUA em Beirute.

Do mesmo modo, a "presença" militar dos EUA na Síria já nasce condenada ao desastre.

A aliança dos EUA com os terroristas curdos YPG/PKK empurra a Turquia para uma aliança com Rússia, Irã e Síria. Vários milhares de soldados e civis turcos morreram em ataques perpetrados pelos terroristas do PKK. Semana passada, aviões russos de transporte cruzaram o espaço aéreo turco, em voos da Rússia à Síria. Foi a primeira vez. Os EUA ordenaram que seus aliados na OTAN, inclusive a Turquia, impedissem voos por essa rota e, antes, os aviões russos tinham de voar pela rota mais longa pelos espaços aéreos de Irã e Iraque. Resultado da aliança dos EUA com os terroristas do YPG e por muitas outra razões, a Turquia sente-se cada vez mais afastada dos EUA e da OTAN. Agora se aproxima ativamente do campo da "resistência".

A fronteira norte entra Turquia e Síria está portanto fechada como via pela qual os EUA faziam chegar suprimentos às suas tropas no nordeste da Síria. Para oeste e sul, forças sírias e seus aliados impedem a passagem de qualquer tipo de suprimento que venha dos EUA. O território curdo iraquiano a leste é agora a última via terrestre de suprimento que resta. Mas o governo em Bagdá é aliado do Irã e da Síria e está empenhado em recuperar o controle sobre todos os postos de fronteira do Iraque , inclusive os controlados por curdos e que ainda podem ser usados por soldados dos EUA. Muitos soldados e milícias iraquiana que combateram contra o ISIS comandados pelo governo do Iraque já anunciaram que não deixarão passar forças dos EUA. O governo do Iraque pode até tentar controlá-los, mas dificilmente essa dissidência desaparecerá. Implica dizer que a rota terrestre de suprimento que os EUA usam através de áreas curdas iraquianas pode ser fechada a qualquer momento. E vale o mesmo para todo o espaço aéreo em torno do nordeste da Síria.

O nordeste da Síria é cercado por forças hostis aos EUA. Além disso, muitos sírios, no hoje ocupado nordeste da Síria continuam leais ao Estado sírio. As inteligências de Síria, Turquia, Irã e Hizbullah trabalham juntas em solo. Há várias tribos árabes locais hostis às pretensões curdas. As bases e postos avançados dos EUA e todos os transportes norte-americanos na área podem ficar, em breve, sob fogo sustentado. Embora a Rússia diga que não intervirá contra as Forças Democráticas Sírias aliadas dos EUA, muitas outras entidades têm motivos e os meios para atacá-las.

A missão dos mais de 1.700 soldados dos EUA no nordeste da Síria continua indefinida. As rotas de suprimento com que contam não estão protegidas e podem ser bloqueadas pelos inimigos dos EUA a qualquer momento. A população local é extremamente hostil aos EUA. Todos os países e entidades em torno têm razões para, o mais rapidamente que possam, pôr fim a qualquer "presença" dos EUA na área. Para garantir segurança à "presença" dos EUA, às suas rotas de abastecimento e às comunicações dos norte-americanos naquele território, seriam necessários de dez a vinte vezes mais coturnos no solo, bem ali.

A "presença" dos EUA é tão imprestável e insustentável ali quanto foi mais ao sul, em al-Tanaf.

Trump manifestou-se contra mais essa ocupação e interferência no Oriente Médio:


O presidente dos EUA [..] fez campanha e foi eleito apoiado na promessa de não se deixar sugar para dentro de conflitos intratáveis.


junta militar que controla Trump e a Casa Branca, os ex-generais McMaster, Kelly e Mattis, não está agindo no interesse dos EUA, nem dos cidadãos, nem dos soldados norte-americanos.

O que estão fazendo é obedecer às instruções dos sionistas do Instituto Judeu para a Segurança Nacional da América [ing. Jewish Institute for National Security of America, JINSA] que trabalha para gerar uma guerra contra todas as entidades e interesses do Irã no Oriente Médio. O JINSA faz propaganda de sua gigantesca influência sobre o corpo de oficiais mais graduados dos EUA. 

Não por acaso, recente discurso no Centro Político Judeu [ing. Jewish Policy Center] em Washington teve por objeto As Forças Armadas dos EUA como Organização Sionista. Mas, como em outras tolices desse tipo, ninguém conseguiu explicar por que algum apoio não questionado a uma colônia de europeus racistas do leste europeu, em plena Ásia ocidental, teria algo a ver com "interesse dos EUA".

A missão militar da força norte-americana de ocupação no nordeste da Síria permanece indefinida. Não conseguirá manter as próprias posições. O objetivo que a tal "presença" diz que teria é inalcançável. Não há conceito mais amplo no qual possa ser incluído e que o torne inteligível.

Os generais que governam a Casa Branca podem ser, talvez, gênios táticos nos respectivos campos. Mas são neófitos, amadores incapazes, no que tenha a ver com estratégia. Estão seguindo cegamente o canto de sereia do Lobby pró-Israel, para outra vez levarem o barco do Estado norte-americano a se espatifar nas pedras da realidade do Oriente Médio.

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