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Diário Liberdade
Quarta, 15 Junho 2016 01:19 Última modificação em Sexta, 17 Junho 2016 19:16

Atentados à Boite Pulse: Quem é o verdadeiro terrorista?

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País: Estados Unidos / Batalha de ideias / Fonte: Gazeta Operária

[Rogério de Lucena] Há dois dias fomos surpreendidos pelas manchetes de todos os jornais, nacionais e internacionais, sobre o atentado à boate LGBT Pulse que aconteceu na Flórida, Orlando, nos Estados Unidos. O atentado deixou um saldo de 50 mortes e 53 feridos.

A imprensa imperialista entrou em campanha para impor a visão de que se tratava de um ato terrorista. O presidente Barack Obama declarou que o ocorrido se tratou de um “ato de terror e um ato de ódio”.

Chama a atenção de que um rapaz norte-americano, Omar Siddique Marteen, de 29 anos, nascido na cidade de Nova Iorque, descendente de afegãos, e sem envolvimento em qualquer crime, apareça como um frio e brutal assassino ligado ao Estado Islâmico.

O que está por trás? Quais são os fatos? A quem beneficia?

É preciso ter em vista que os atentados contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque, que aconteceram no dia 11 de setembro de 2001, foram a desculpa para que a extrema-direita, que controlava o fundamental do governo de George Bush Jr., passasse a aplicar a nefasta política denominada “Guerra ao Terror”.

Os Estados Unidos, no início da década passada, enfrentavam o esgotamento das políticas “neoliberais”. Os monopólios procuravam novos mecanismos para manter as taxas de lucro. A França e a Alemanha, que juntos compõem o coração do capitalismo europeu, estão passando por uma crise de gigantescas proporções agravada pela crise da ala hegemônica por causa das ondas de refugiados de guerra.

Por trás dos “prováveis” circos armados em, praticamente, todos os grandes atentados se encontram as garras dos serviços de inteligência e das agências de repressão a serviço da direita que, por sua vez, é o representante natural dos interesses dos monopólios. Apesar da campanha histérica e idiotizante da imprensa burguesa, há interesses reais e materiais, resultados concretos que foram e serão aplicados após os atentados terroristas.

QUAIS OS FATOS SUSPEITOS?

Marteen era afegão. No Afeganistão a atuação do Estado Islâmico é extremamente pequena. Quem atua em larga escala no Afeganistão, em primeiro lugar, são os Talibãs. Trata-se de um grupo guerrilheiro ligado aos Pashtu, que é uma das três nacionalidades mais importantes e que dominam uma boa parte do território. Eles lutam pela expulsão dos norte-americanos do país. Recentemente, o líder máximo dos Talibãs foi assassinado pelos norte-americanos por meio de um drone e o novo líder declarou que manterá a mesma política.

O nome de Marteen estava no radar do FBI. De acordo com Ronald Hopper, agente do FBI, Marteen fez ligações ao 911 (número de emergência) nas quais teria jurado lealdade ao líder do Estado Islâmico. Ele já havia sido investigado porque, supostamente, teria citado possíveis ligações com terroristas a colegas de trabalho. Na ocasião, ele foi interrogado pelo FBI em pelo menos três ocasiões.

Ainda segundo Hopper, em 2013, Marteen fez “comentários incendiários a seus companheiros de trabalho que deram a entender seus possíveis laços com terroristas”. Isso levou as autoridades a fazerem um registro de seus antecedentes, revisar imagens de câmeras, entre outras coisas.

Em 2014, Marteen voltou a ser investigado. Desta vez, por sua suposta relação com Moner Mohammad Abusalha, um terrorista com nacionalidade norte-americana que morreu em um ataque suicida na Síria. O FBI realizou uma investigação e novamente interrogou Marteen, mas depois concluiu que “o contato foi mínimo e não apresentou uma ameaça naquele momento”.

Nas ocasiões, as investigações foram fechadas alegando a falta de provas e a impossibilidade de confirmar a veracidade desses comentários. No entanto, é evidente que em cima da Lei Patriótica (Anti-terrorista), alguém que seja investigado por terrorismo continuará sendo vigiado, e de forma ostensiva. Principalmente com a intervenção direta da NSA (Agência Nacional de Segurança), com todos os mecanismos de espionagem eletrônica, como denunciou o ex-agente dessa agência, Edward Snowden.

Se Marteen fosse de fato membro do Estado Islâmico, o que não seria tão comum a um afegão, o que explica o fato do FBI e da NSA, por meio da Lei Patriótica, terem abandonado o caso?

O FBI estaria reproduzindo a “incompetência” do que aconteceu no “atentado” do 11 de setembro? Onde, apesar de todos os gastos e aparatos militares e de inteligência, não houve avisos sobre esses ataques e múltiplas falhas, algo reconhecido pelo governo dos Estados Unidos. Ou seja, poderiam ter impedido o êxito do grupo Al Qaeda.

Poderíamos enumerar mais uma centena de fatos suspeitos no caso do 11 de setembro e que se repetem agora no atentado a boate Pulse. O mesmo pode ser dito sobre todos os demais atentados que tem acontecido nos últimos 15 anos, como, por exemplo, os recentes atentados de Paris e o de Bruxelas.

“LEI PATRIÓTICA”: A BALA DA PISTOLA DO IMPERIALISMO

A chamada Lei Patriótica (US Patriotic Act) foi promulgada no dia 26 de outubro de 2001, nos Estados Unidos, pelo então presidente George W. Bush JR. Os direitos civis e as liberdades individuais foram colocados no foco dos ataques usando como desculpa o combate ao terrorismo. Uma grande campanha foi orquestrada por meio da imprensa capitalista, incentivando o medo de novos atentados, para justificar a suspensão de direitos e garantias constitucionais e a autorização dos crimes e de todo tipo de abusos por parte do Estado.

Foi institucionalizada a política oficial de “caça às bruxas” com a perseguição em massa aos muçulmanos e a qualquer opositor do regime, além da legalização da tortura, das execuções sumárias etc. Foi a volta intensificada do “macarthismo”, que, após a Segunda Guerra Mundial, condenou um grande número de intelectuais sob a acusação de atividades denominadas “antiamericanas”.

Tornaram-se práticas comuns, e livres de ordens judiciais, o rastreamento dos serviços de Internet e das comunicações telefônicas. As bibliotecas e livrarias foram obrigadas a informar sobre os livros procurados por determinados cidadãos. Foi permitida a detenção de “suspeitos” por períodos prolongados. A histeria atingiu um grau tão alto que o governo Bush aprovou em 2004 o projeto de lei conhecido como Tips (Sistema de Prevenção e Informação sobre Terrorismo), que foi rejeitado pelo Congresso, que institucionalizava mecanismos para que um grande número de profissionais, tais como eletricistas e carteiros, entre outros, colaborassem como informantes da polícia.

O grosso da imprensa capitalista publicou comunicados como sendo contra o terrorismo e a brutalidade do Estado Islâmico, seguindo a cartilha da campanha do imperialismo. O mesmo fazem inúmeros setores da esquerda.

Em cima dessa posição política oportunista e abertamente pró-imperialista, nós não deveríamos disputar com a direita o repúdio para posições democráticas. Na realidade, falar que é por causa dos terroristas que a repressão acontece ou aumentará é a mais cínica apologia da direita imperialista. Implica em justificar a Guerra do Iraque e do Afeganistão, os golpes de estado, os ataques contra os palestinos e os povos árabes em geral. E o mais grave, a escalada dos ataques contra os trabalhadores que está colocada para o próximo período em escala mundial.

HILLARY CLINTON, A DEUSA DA GUERRA

O site do Wikileaks anunciou, recentemente, que serão liberados dezenas de milhares de e-mails enviados e recebidos, inclusive com anexos, por Hillary Clinton.

Ela é ligada ao complexo militar industrial, aos grandes bancos e as petrolíferas. O caso dos e-mails que vazaram, e que está sendo investigado por várias agências nos Estados Unidos, pode afundar a campanha eleitoral de Hillary Clinton. Clinton usou para tratar de assuntos confidenciais a conta pessoal de e-mail ao invés de usar a conta segura do governo. Parecia ser um mero descuido. Mas, na realidade, têm aumentado fortemente as suspeitas de que ela realizou essa operação intencionalmente para facilitar o vazamento de informações confidenciais para países estrangeiros, principalmente Israel. Este está vinculado, estreitamente, com o AIPAC, o maior lobby sionista nos Estados Unidos.

A polarização entre Hillary Clinton e Donald Trump está colocada há vários meses. Trump tem levantado a política de que os Estados Unidos devem reduzir os gastos militares no mundo, alocando essas verbas em obras de infraestrutura no país. Seria preciso ver se ele conseguiria aplicar essa política passando por cima do complexo industrial militar ao qual os Clinton se encontram estreitamente ligados.

Trump tem crescido muito rapidamente nas pesquisas. Até duas semanas atrás, aparecia com 15 pontos abaixo de Clinton, mas agora há pesquisas que o estão colocando encostado em Hillary Clinton, e subindo. Somado ao problema dos e-mails, há toda uma investigação contra ela, inclusive com ameaças das revelações do Wikileaks.

O atentado na boate Pulse seria um excelente mecanismo para uma campanha demagógica por parte dos Democratas. Trump tinha feito declarações contra os LGBTs e também que, para resolver o problema da crise, pretende repatriar uma boa parte dos recursos alocados nas bases e nas intervenções militares no mundo. Somente na região Pacífico da Ásia estão alocados a metade do Orçamento do Pentágono. É óbvio que os monopólios, que se beneficiam dos grandes contratos militares, são contra essa política.

O imperialismo em crise toma qualquer tipo de ação para salvar os lucros dos monopólios. Portanto, a hipótese sobre a manipulação do atentado, para frear o crescimento de Trump não deve ser descartada e aparece como uma das mais prováveis. Ainda mais depois do caso dos “e-mails de Hillary Clinton” e a demagógica comoção dos Democratas.

O ex-presidente argentino Nestor Kirchner relatou que, ao participar de uma reunião com Bush, em 2004, a solução sugerida para enfrentar os grandes problemas que a Argentina estava passando, era repetir o que imperialismo faz, de maneira recorrente, em todo o mundo: inventar uma guerra.

O IMPERIALISMO DEFENDE OS INTERESSES DOS LGBTs?

A máquina de propaganda imperialista foca um grande esforço em apresentar os direitos democráticos existentes, principalmente nos países desenvolvidos. O imperialismo, supostamente, respeitaria os direitos dos LGBTs, dos negros, das mulheres, dos latinos etc.

A esquerda pequeno-burguesa “comprou” profundamente esse discurso e o assimilou de maneira vergonhosa, principalmente a partir da chamada “teoria das opressões”, que têm como origem as universidades norte-americanas, que funcionam em cima dos recursos providos pelas fundações vinculadas aos monopólios.

O fato do atentado ter sido feito contra uma boate LGBT é um dos componentes que geram uma enorme comoção. Quem é o prejudicado? Há uma política em curso, impulsionada pelos setores majoritários da burguesia imperialista. Não se deve esquecer que o atentado aconteceu apenas uns dias após o grupo de Bildeberg (que representa o 1% das famílias que controlam o mundo) ter realizado sua reunião anual, na Alemanha. Conter o ascenso do candidato do Partido Republicano, Donald Trump, que representa a extrema-direita “cachorro louco”, se tornou uma prioridade. Trump realizou declarações homofóbicas e contra todas as demais minorias. Ele falou em criar um muro para separar os Estados Unidos do México e, também, sobre proibir a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos.

A “Deusa da Guerra”, Hillary Clinton, tem se posicionado como uma grande defensora dos direitos das minorias.

Obama, declarou publicamente que se concentrará no próximo período em ajudar Hillary Clinton na campanha eleitoral. Isso ele definiu depois de ter se reunido com o pré-candidato derrotado, o “socialista burguês”, Bernie Sanders. Vários outros figurões da direita tradicional norte-americana, inclusive do Partido Republicano, têm se posicionado a favor de Clinton e contra Trump.

AS DUAS POLÍTICAS DO IMPERIALISMO

Há duas políticas colocadas. Uma delas é a da extrema-direita “cachorro louco”, que corre por fora do aparato do Partido Republicano, que é muito minoritária, neste momento, mas conta com consideráveis recursos, não somente do próprio Trump, que é um bilionário, mas também tem recebido apoio de alguns políticos da extrema-direita que podem puxar recursos das grandes empresas. Se bem a carta do terror da extrema-direita não está colocada para este momento, Trump está sendo usado para direitizar a campanha eleitoral e o regime político norte-americano.

Os monopólios precisam salvar os lucros. A crise capitalista acelera nos Estados Unidos e no mundo. A política preferencial dos Estados Unidos continua sendo a da “democracia imperialista”, mas cada vez mais direitizada.

Os mais incautos acreditam que os atentados são um fim em si mesmo ou que tudo não passa de uma “teoria da conspiração”. É preciso ter em mente que este é o mesmo imperialismo que mantem 1 bilhão de pessoas no mundo vivendo com US$ 1 por dia, 2 bilhões de pessoas vivendo com U$S 2 por dia, que no Iraque provocou 1 milhão de mortes, que na Segunda Guerra Mundial provocou 80 milhões de mortes, que com as bombas de Hiroshima e Nagasaki matou quase meio milhão de pessoas, que no Vietnã matou quase 5 milhões de camponeses semi-analfabetos. A pax norte-americana tem como um dos componentes a “governabilidade” em todos os países que ele domina, como, por exemplo, o Brasil.

Nos solidarizamos com todas as vítimas da boate LGBT Pulse. No entanto, jamais nos colocaremos a reboque da farsesca campanha imperialista e no campo da extrema-direita que impõe a todos os países do mundo versões sobre os atentados terroristas que além de manipuladas, são criadas para um determinado objetivo político, afim de sustentar as taxas de lucros dos monopólios a qualquer custo e manter o regime político burguês em pé, desnudando a podridão e a inescrupulosidade do 1% de famílias que dominam o mundo.

Se houve mais um atentado terrorista nos Estados Unidos, e mais uma chacina contra os LGBTs, seu responsável direto é o imperialismo norte-americano.

 Por Rogério de Lucena, gay e dirigente do Jornal Gazeta Operária

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