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Diário Liberdade
Quarta, 18 Abril 2018 20:25 Última modificação em Domingo, 22 Abril 2018 11:22

Homenagem na Sorbonne a Jean Salem

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País: França / Batalha de ideias / Fonte: O Diário

[Os Editores do Diário] Rémy Herrera fez-nos chegar textos lidos na homenagem a Jean Salem realizada na Sorbonne.

 São belos e sentidos depoimentos, vindos de todos os continentes, que destacam a dimensão do grande amigo e camarada agora irremediavelmente ausente.

Homenagem de Stephen Cho, Saenal Jeong e a equipa dos seus muito amigos coreanos em França. 

«O nosso coração sofre desde que soubemos do desaparecimento de Jean. (…) Perdemos uma parte de nós mesmos. Jean era um homem de combate, modesto e profundamente generoso que manteve a luta pela democracia na Coreia do Sul e da paz na Coreia. (…) Vamos publicar a sua obra Resistências em coreano e vamos construir um monumento comemorativo na Coreia (em sua honra). Vamos recordar de Jean o seu eterno combate, o exemplo de solidariedade internacional. O nosso coração está em cinzas. (…) Em nós, ele viverá para sempre. Lutaremos sempre juntos até à vitória do povo e (…) vamos partilhar com ele a nossa alegria.»

Homenagem do Comité Internacional para as liberdades democráticas na Coreia do Sul (CILD) e da Associação de amizade franco-coreana (AAFC).

«Jean Salem era presidente do CILD desde a sua fundação e um membro fiel, activo da AAFC. Esse compromisso era-lhe natural para (esse) homem de combate, modesto, aberto e de uma generosidade rara. (…) Não gostava de estar em destaque, achando que as causas justas exigiam ultrapassar as clivagens e as lutas de corredor. A este respeito, o seminário «Marx no século XXI: o espírito e a letra» da Sorbonne [é] um momento insubstituível de mudança (…) Tendo participado nas manifestações do 1.o de Maio de 2015 em Seoul, pôde testemunhar o compromisso de todo um povo para defender as liberdades democráticas duramente adquiridas na luta contra a junta militar, depois para afastar do poder a presidente Park, muito autoritária e corrupta. (…) Como homem fiel às suas convicções entrou, sem fraquejar e até ao fim, no combate ainda largamente ignorado pelos direitos humanos na Coreia do Sul. (…) Jean Salem era um homem integro, um intelectual combativo, um amigo indefectível.»

Pepe Mujica. José Alberto Mujica Cordano, antigo Presidente da Republica do Uruguai (de Março de 2010 a 2015), ex-guerrilheiro dos Tupamaros nos anos 60, que foi preso e torturado (aliás, como Henri) pela junta militar uruguaia nos anos 70, depois participou no restabelecimento da democracia, também nos enviou uma mensagem para Jean, por intermédio do nosso amigo João Pedro Stedile.

«[O desaparecimento de Jean é] uma grande perda para os povos e sua dignidade.

João Pedro Stedile
, a quem agradeço fraternalmente, coordenador do Movimento dos Sem Terra do Brasil (MST), saúda igualmente a memória de Jean e o seu jornal Brasil de Fato republicou a entrevista que Jean lhes concedeu (deve ter-se realizado na Escola Florestan Fernandes).
«Uma filosofia para transformar o mundo. (…) Lutar pela felicidade, de acordo com Salem, é um dever no meio da escalada da barbárie capitalista.»

Os camaradas do jornal odiario.info e a equipa da Universidade Popular de Portugal, por intermédio de Catarina Almeida, viúva de Miguel Urbano Rodrigues, ex-deputado europeu do PCP e um imenso amigo de Jean, de Henri e de vários outros de nós, enviam-nos esta mensagem:

«Recebemos a dolorosa notícia da morte de Jean. Perdemos um ser humano excepcional, um dos grandes filósofos marxistas do nosso tempo, revolucionário combativo cuja inteligência fulgurante cobria todas as expressões do humano, que, reflectindo profundamente sobre a felicidade, sabia que ela era totalmente inseparável da ideia de revolução, cuja coerência (…) de pensamento e de acção suscita a admiração e respeito através do mundo. Era um grande amigo de Odiário.info. Agora que chegamos ao ano do bicentenário do nascimento de Marx, encontramo-nos frente a frente com o vazio de tudo o que tinha ainda a dizer-nos, mas também com o rico património de reflexão criativa que nos deixa.»

Homenagem de John Catalinotto, responsável pelas relações internacionais do Worker’s World Party (WWP) dos Estados Unidos.

«É com grande desgosto pessoal e um sentimento de perda política que recebi a notícia de que Jean Salem já não estava entre nós. (…) Estava sempre pronto a demonstrar a sua solidariedade com os camaradas. (…) Foi um dos raros intelectuais do mundo a defender constantemente as contribuições mais importantes e mais revolucionárias de Lénine. (…) A sua vida levou-o para um lado das barricadas de classe: com o povo argelino contra o colonialismo francês; com o campo socialista contra o imperialismo; com os trabalhadores e os povos oprimidos do mundo contra o capitalismo. Aderiu a esse lado. A classe dirigente tentou apagar a memória de Lénine, o líder político do século passado que representava o lado dos trabalhadores na luta de classes. Os ideólogos da classe dirigente tentavam frequentemente transformar os dirigentes populares em ícones inofensivos após o seu desaparecimento. No caso de Lenine, foram obrigados a apresentá-lo como um demónio. Homenagem à inteligência e coragem de Jean Salem que defendeu a contribuição de Lenine. Que esta luta continue!”»

Angeles Maestro. Nines, amiga muito querida de Jean e grande militante comunista espanhola:

«Como é doloroso escrever sobre a morte de Jean, simultaneamente um amigo muito querido e um combatente. Acabo de saber que um tumor no cérebro acaba de ceifar-lhe a vida aos 65 anos. Jean Salem com toda a sua modéstia e grandeza era um especialista dos grandes filósofos materialistas. Demócrito, Epicuro e Lucrécio. Um dos objectivos do seu trabalho era a crítica do culto do sofrimento e da negação da felicidade (…); enquanto pela mão de Epicuro disse que somos de hoje e não de amanhã, e que a filosofia é a arte de fazer a nossa viagem através da existência, efémera, tão sabia e feliz quanto possível. Uma das suas conferências era intitulada com a frase do filósofo grego «a morte nada é para nós». De Lucrécio, explicou-nos que a morte não nos diz respeito porque, durante a vida ela não existe e quando morremos também não. O mais importante, sublinhe-se, é que o alter ego do medo da morte é o desejo vão da eternidade. (…) Os primeiros filósofos materialistas disseram que a procura da riqueza, o desejo louco de honras e a sucessão de crimes que o acompanham, alimentam o medo da morte. Se na realidade, a morte «nada é para nós», o desaparecimento de gigantes como Jean Salem bloqueia o pensamento tomado pela tentativa irracional de negar a perda.»

De Dakar, Demba Moussa Dembélé, director do Fórum Africano das Alternativas e coordenador de Estudos Africanos de Pesquisa e Cooperação para Apoio ao Desenvolvimento endógeno (ARCADE), membro do Conselho Internacional do FSM e da Rede Franz Fanon:

«Caros amigos. É com uma tristeza imensa que soube da notícia da morte de Jean. É uma grande perda para a humanidade progressista. Era um homem de convicções e de coração, que manifestava uma grande solidariedade para com todas as vítimas da repressão e da perseguição pelos seus ideais e as suas convicções, em toda a parte do mundo. (…) Pude admirar a sua generosidade, a sinceridade, mas também a modéstia de Jean Salem, homem cortês, amigo, extremamente gentil. Possam o seu exemplo e as suas acções continuar a inspirara todos aqueles e aquelas que estão engajados no combate por um mundo melhor contra o fascismo, o domínio imperialista e a opressão capitalista. Paz à sua alma!»

Homenagem do Circulo Barbusse, pela voz de Claude Langlet, que gostava muito de Jean:

«É com uma dor profunda que acabamos de saber da morte (…) de Jean Salem, filosofo, professor na Sorbonne. Digno filho de seu pai, Jean Salem foi principalmente em 1982 o iniciador — com Jeannette Thorez-Vermeersch e mais outros sete responsáveis veteranos do PCF — da «Carta dos nove ao Comité Central do PCF» intitulada «Para onde vai o Partido?». Sabia ser um notável panfletário anticapitalista, anti-imperialista e um disseminador excepcional dos grandes clássicos do marxismo-leninismo, como Politzer ou Cogniot. Ao contrário de muitos intelectuais membros do PCF «que deitaram fora o bebé com a água do banho», Jean Salem sempre (…) com as suas obras, trabalhou como pensador, intelectual e pedagogo para o rearmamento ideológico do proletariado. Diz o adágio que «certos mortos têm o peso de uma montanha», é o caso do nosso querido e saudoso Jean.

Mensagem de Bernard Paulré, professor de Economia (actualmente reformado) da Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne.

«O desaparecimento de Jean entristeceu-me profundamente. Não só por termos estado ligados, com muitos outros colegas, no combate contra a reforma de 2009, mas também porque Jean era um universitário profundamente imerso no seu trabalho de ensino, na pesquisa (grande número de publicações, principalmente em Vrin); e no funcionamento da Universidade. Dirigiu o Centro Histórico dos sistemas de pensamento moderno durante muitos anos e animava, há muito, todos os sábados à tarde, um seminário na Sorbonne sobre Marx. Jean Salem honrava a nossa Universidade. Num plano pessoal tenho de sublinhar a cortesia, a abertura e a atenção que Jean dava aos outros. Era evidentemente um homem de convicções que sabia expressar e defender as suas opiniões. Mas em muitas discussões Jean estava sempre pronto a entregar-se a propostas positivas e de consenso. [Ele] desaparece durante um período especial, marcado mais uma vez por uma nova prova em que a Universidade e os universitários são confrontados. Na realidade pedem-lhes de novo para preparar uma reforma, de envergadura ambígua senão perigosa, sem discutir as suas modalidades, sem clareza nos objectivos procurados, nem meios novos. E se quisermos ver os símbolos, não podemos deixar de observar que o seu desaparecimento acontece, coincidência funesta, no momento em que a Universidade humanista, livre, aberta e exigente tal como existia no fim do século XX arrisca ser dissolvida? Com vários outros, lembro-me sentidamente de Jean Salem. Sinto orgulho em tê-lo conhecido e com ele privado. E a nossa Universidade tem de orgulhar-se e fá-lo-á sem duvida por ter contado com ele no seu corpo de ensino».

Mensagem de Catherine Mills mestre de conferências na Universidade de Paris1:

«Jean, que tristeza, o teu desaparecimento deixa um vazio. A teu convite apresento a obra de Paul Boccara, Teorias sobre as crises, a sobre-acumulação e a desvalorização do capital. Vais criar um grande vazio em todos os marxistas. Possa esse seminário dar frutos. Temos necessidade do marxismo. Tinhas a paixão da história do pensamento. Encontrámo-nos. Depois de um primeiro alerta parecias curado e essa doença terrível e injusta levou-te, muito cedo, cedo demais. Fazes-nos falta. Lembro-me dos nossos combates comuns e do teu pai.»

Francis Arzalier de Polex:

«O Colectivo Comunista vem saudar a memória de Jean Salem, que foi nosso companheiro de luta como seu pai Henri Alleg. Este é o momento, nestas circunstâncias dolorosas, para a união de todos os que o conheceram e apreciaram as suas actividades intelectuais e militantes».

Michel Gruselle do Circulo universitário de Estudos marxistas:

«É com profunda tristeza que soubemos da partida do nosso amigo Jean Salem. Conhecíamos a gravidade do seu estado e receávamos esta notícia. Jean, Professor de Filosofia na Sorbonne, animava o seminário MARX no Século XXI, o espírito e a letra. Fazia parte dos intelectuais que achavam que o marxismo é sempre actual num mundo sacudido por uma luta de classes intensa e os choques violentos no seio do imperialismo. Tinha dado uma conferência no CUEM e a partir daí as nossas relações aprofundaram-se. É com entusiasmo que aceitou organizar conjuntamente uma homenagem à Revolução de Outubro no seu centenário. Se Jean não pôde estar fisicamente entre nós, esteve através da sua obra Lenine e a revolução. Com ele, perdemos um grande camarada de combate. A melhor maneira de lhe prestar homenagem é precisamente continuar [esse] combate.

Mensagem de Jean-François Riaux, professor honorário de Filosofia na Classe preparatória das Grandes Escolas:

«É durante os anos 80, no crisol de seminários de Olivier Bloch e de Jean Deprun, que nos encontramos. Levados pelas mesmas «paixões alegres» que os nossos mestres sabiam alimentar, adorava partilhar com Jean este júbilo que se sente no fim de um curso, ficamos sempre com vontade de não abandonar a fonte onde matamos a sede, apreciando o tempo à porta das salas na Sorbonne, a interpelar o que ficara em nós, surgira desde logo a germinação de uma amizade (…) para que não encontro com facilidade as palavras devidas para expressá-la.

Quando das nossas primeiras conversas vi logo que a afeição que me concedia estava marcada pelo selo da renúncia a qualquer satisfação narcísica, o que não era comum nesses momentos em que qualquer jovem «intelectual» quer sobressair através de uma originalidade altiva. Rapidamente percebi que a originalidade de Jean, independentemente das suas qualidades de investigador, contava menos na sua ligação ao mundo do que na sua ligação aos outros, principalmente devido ao que ele me revelava do seu modo de ser «militante». O meu passado de social-esquerdista pouco se nota ao lado do teu percurso atípico. Também com o teu humor e a tua bonomia me despertaste para um discernimento político que, sem dúvida, me fazia falta. A [tua] clareza de pedagogo incitava-me a convidar-te para as minhas aulas preparatórias e espontaneamente aceitavas com um entusiasmo inigualável, fazendo os meus estudantes viverem um momento filosófico excepcional! Que recordações magníficas, jamais querelas de capelinhas, pecados de vaidade. Meu caro Jean, por esses instantes arrancados à mediocridade do decurso das coisas como o faz este seminário de Marx onde plana a tua fecunda presença (…) Aproveito para te saudar meu velho amigo, meu companheiro.»

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