Introdução
Pepe Escobar
William F. Engdahl é um dos principais analistas geopolíticos do mundo. Seus livros – de Century of War a Full Spectrum Dominance – são absolutamente essenciais para compreender como a nação autodeclarada "excepcional" criou e expandiu seus tentáculos de hegemonia global.
Boa medida para aferir a influência de Engdahl é que por mais que a turma do Departamento de Estado o desqualifique, aqueles suspeitos de sempre leem tudo que ele escreve e não conseguem encontrar argumento que prove que Engdahl errou.
Essa longa entrevista, feita pelo jornalista especializado em finanças Lars Schall é em grande parte dedicada ao Capítulo 3 – "The Rape of Rússia" [O Estupro da Rússia] – do mais recente livro de Engdahl, Manifest Destiny: Democracy as Cognitive Dissonance [port. Destino Manifesto: Democracia como cognição dissonante, sem tradução em português do Brasil (NTs)].
Aqui vocês encontrarão tudo que precisam saber sobre a gênese dos oligarcas russos nos anos 1990s; os negócios sujos da máfia de Yeltsin; tudo sobre o roubo do ouro dos soviéticos, até as operações sujíssimas do irmão mais velho de Bush-pai; a incrível história do ouro de Yamashita; a sujeira dos "cupons de privatização"; o modo como a máfia de Harvard controla a economia russa – até a luta tenaz, duríssima, que o presidente Putin iniciou e combateu ao longo dos anos 2000s para fazer da Rússia uma economia funcional, ao mesmo tempo em que a OTAN continuava a avançar na direção da Rússia.
Como Engdahl observa, se não compreendermos o que aconteceu na Rússia nos anos 1990s é absolutamente impossível contextualizar a incansável campanha de ódio que os neoconservadores e a Think-tank(e)lândia norte-americana movem contra o presidente da Rússia, 24 horas/dia, sete dias por semana.
Assim sendo, sente-se, relaxe, curta essa corrida alucinada ladeira abaixo e conserve essa entrevista como referência essencial que você não encontrará em nenhum outro lugar.
O estupro da Rússia nos anos 1990
Lars Schall: Alô, William.
F. William Engdahl: Alô, Lars. Bom estar com você outra vez.
LS: Ótimo tê-lo conosco. Para começar, permita que eu leia algo para você e nossos ouvintes, escrito pelo economista Dean Baker no início do mês.
"Como colunista antigo no NYT [incansavelmente repetido e elogiado em UOL Notícias (NTs)], parece que Thomas Friedman já não se sente obrigado a saber coisa alguma que se aproveite, dos temas sobre os quais escreve. É o que explica o comentário sarcástico de que Putin bem podia ser agente da CIA, tantos foram os males que teria causado à Rússia.
Por mais que tivesse tendências autoritárias, o mais provável é que, em todos os casos, a maioria dos russos pensem, antes de tudo, no impacto de Putin na economia, exatamente como fazem os eleitores nos EUA. E nesse front Putin fez muito bom serviço.
Segundo dados do FMI, a economia da Rússia naufragou nos anos 1990s da presidência de Yeltsin. Quando Putin assumiu, em 1998, a renda per capita no país havia caído mais de 40% em relação ao nível de 1990. É queda mais funda do que a que os EUA conheceram na Grande Depressão. Desde que Putin está no governo, a renda per capita subiu mais de 115%, e o país teve crescimento anual médio de mais de 3,9%.
Ainda que o crescimento tenha sido muito desigual, a desigualdade já estava lá nos anos Yeltsin, quando a economia entrou em colapso. O russo médio deu-se muito melhor nas últimas duas décadas de governo Putin, do que quando Yeltsin estava no poder.
Por essa razão são provavelmente poucos os russos que aceitariam com simpatia a especulação de Friedman sobre supostos laços entre Putin e a CIA. Se falasse de Boris Yeltsin, sim, seria outra coisa."
Aí está. Acho que é um bom ponto de partida para nossa discussão, William, porque no seu livro há um capítulo intitulado "O estupro da Rússia: o golpe de estado de Yeltsin da CIA". Por que você fala de estupro nesse caso?
FWE: Falo ali do governo de George Herbert Walker Bush, Bush-pai. O que fizeram, organizado com a CIA, com as velhas redes de contato de Bush-pai,[1] em termos de aleijar a União Soviética, com saque e destruição de patrimônio nacional, roubo à vista de todos, destruição de aposentadorias, pensões, seguridade, sistema de saúde e tudo. A única palavra adequada aí é "o estupro da Rússia". Roubaram tudo que puderam roubar.
Isso que você leu, do Sr. Friedman, é caca de cavalo, mas o quadro da CIA, realmente ativo em todo o processo de colapso da União Soviética no final da década dos 1980s foi mesmo Boris Yeltsin e a chamada Família Yeltsin, a Máfia de Yeltsin. No meu livro, Manifest Destiny, documento e exponho muito detalhadamente a relação de um punhado de altos funcionários da KGB que trabalharam com as redes de veteranos da CIA chefiados por Bush-pai no ocidente e um grupo de oligarcas em torno de Yeltsin, você conhece, os famosos oligarcas russos. Sim, o The New York Times e outros jornalões no ocidente falavam deles como a "Máfia Russa". Eram mesmo uma espécie de máfia. Mas o ponto importante é que eram uma máfia dirigida pela CIA. Eram dirigidos pelo ocidente. Traíram o próprio povo, o próprio país e roubaram da Rússia literalmente bilhões e bilhões e bilhões em dinheiro e em bens. Por isso o capítulo fala de estupro.
LS: E Boris Yeltsin foi essencial no processo.
FWE: Foi a figura chave. Era governador regional, levado para Moscou. Num dado momento, Gorbachev viu-o como estrela em ascensão, como alguém que poderia ajudar com uma imagem um pouco mais liberal que a perestroika. A economia russa estava em frangalhos nos anos 80s, Guerra das Estrelas de Reagan, Nicarágua e, principalmente, a guerra no Afeganistão que é projeto da CIAassociada aos Mujahideen, que durou dez anos e sangrou a economia soviética, o "Vietnã da União Soviética", como Brzezinski costumava dizer.
E o ocidente, as redes de Bush-pai, recrutaram um punhado de agentes da KGB em torno de Yeltsin, que literalmente promoveram Yeltsin até o topo, quando arquitetaram o falso golpe de estado de agosto de 1991. Você lembra, tenho certeza de que muitos lembram, a foto de Boris Yeltsin corajosamente sobre um tanque soviético em frente à 'casa branca' dos soviéticos, de onde leu um discurso em que desafiava Gorbachev e tal e tal. Foi um golpe de estado arquitetado por KGB+CIA, em junho de 1991. E mediante essa rede, essa rede corrupta dentro da KGB que trabalhava com a CIA, trabalhando com o general Philip, Bob [ininteligível] é um deles, chamado naquele tempo de 'cérebro da KGB'. Foi o comandante do 5º Diretorado da KGB. Depois passou a trabalhar para [#ininteligível 00:06:40-0#] petróleo e até hoje continua como membro do Parlamento, o que lhe garante imunidades e foro privilegiado.
Quero dizer é que alguns desses ainda estão por aí, depois de 23, 25 anos, e é quase incrível; outros morreram, foram mortos, eliminados ou seja o que for. Mas a operação pôs Yeltsin no poder, essa rede de russos corruptos dentro da KGB e trabalhando com a CIA levaram Yeltsin à presidência da Federação Russa.[2] E quando afinal já tinham o homem deles no comando da Federação Russa, a maior da União Soviética, a República Socialista, estavam em condições de pôr em prática, mediante o Fundo Monetário Internacional, tudo que fosse preciso para supervisionar a 'privatização' da economia soviética.
Arquitetaram e executaram uma abertura completa de todos os bens da Federação Russa, do que hoje se chama Federação Russa, a maior parte da União Soviética. E fizeram isso de tal modo que a Federação Russa assumiria todas as dívidas da Ucrânia, do Cazaquistão e de outras repúblicas socialistas soviética e todos os bens desses estados, todos os bens e propriedades estatais que havia dentro da Federação Russa, como a empresa de alumínio Rusal (foi privatizada, ainda ontem estava nos jornais), a empresa de níquel, o petróleo, o gás, centenas de bilhões, se não de trilhões de dólares em patrimônio público, que ficaram sob controle de Yeltsin.
LS: Essas empresas foram vendidas por preço ridículo.
FWE: Houve estimativas de que entraram no esquema de privatização por cupons [também 'vouchers privatisation'] montada no governo Yeltsin nos anos 90s. A 'privatização por cupons' emitia um cupom por cada homem, mulher ou criança russos, 140 milhões de cupons no total. E o valor desses cupons foi tal que houve quem estimasse que a totalidade de todos os bens da Federação Soviética Russa vendidos equivaleria ao que valem hoje as ações da General Electric Company na Bolsa de Valores de New York. Quero dizer, foi cômico. Rússia estava em bancarrota financeira, por causa da terapia de choque que Jeffrey Sachs e outros de Harvard e de outras universidades levaram para lá, George Soros e gente dele. Criaram-se empresas falidas, que ontem estavam sobre as próprias pernas e de repente... estavam quebradas, sem nada, recurso algum. Mas as empresas, o patrimônio construído, o níquel, o alumínio, o urânio – sobre o qual Hillary Clinton sabe não pouca coisa –, tudo isso foi estimado em trilhões de dólares. Precisamente o butim que interessava à operação de Bush-pai. E usaram ONGs, usaram o National Endowment for Democracy, usaram a Open Society de George Soros e tal e tal, para fazer acontecer.
LS: Você já falou da tentativa de golpe de Estado de agosto de 1991. Muito importante para o que aconteceria foi algo que teve lugar no início de 1991: o roubo do ouro dos soviéticos. Por favor, fale-nos sobre isso.
FWE: É momento crucial, ainda na União Soviética, para a transição que Washington impôs à Federação Russa, porque Yeltsin, acho que desde que não lhe faltasse vodca, ele não protestava muito. Mas no sistema soviético, e a Federação Russa manteve, havia um banco estatal, não um banco central privado como o Federal Reserve ou o Banco Central Europeu hoje, mas um banco estatal, que foi entidade do aparelho do Estado Russo e era chamado de Gosbank. Um homem chamado Viktor Gerashchenko era presidente do Gosbank quando Yeltsin começou, em 1991.
E esse Gerashchenko fez um discurso, mais ou menos naquele momento, em novembro de 91, perante o Parlamento (Duma) Russo ou o parlamento que lá estivesse, e disse "Devo relatar a vocês, senhoras e senhores, que, das estimadas 3 mil toneladas das reservas em ouro do Gosbank estatal, só podemos apresentar 400 toneladas." Na sequência, teve de explicar, a membros do Parlamento, lá, em estado de choque, que ninguém tinha nem ideia do que acontecera ao ouro, como e por que sumira – o que, claro, era mentira. E Gerashchenko havia criado, pouco depois de 1989, para preparar esse golpe de estado – o golpe de estado da CIA e dos 'meninos' de Bush-pai –, ele havia criado uma coisa chamada Financial Management Co. (FIMACO) na Ilha Channel, nas Ilhas Jersey, para movimentar as reservas russas em moeda estrangeira.
E Jersey estava fora da supervisão europeia. Era portanto lugar perfeito para esconder dinheiro sujo ou roubado, e movimentaram algo como $37 bilhões entre 1993 e 1998. Gerashchenko e o Gosbank chegaram a contratar uma empresa de detetives em Nova York, especializada em investigações financeiras, uma CIA financeira, que naquele momento chamava-se Jules Kroll Associate. Receberam ordens para rastrear o ouro soviético, descobrir o que acontecera ao ouro e a algo como $14 bilhões de fundos do Partido Comunista que também haviam sumido. E a Kroll, ligada à CIA ligada a Hank Greenberg do AIG Insurance Group, nome que você recorda, de 2008, nos 'resgates' de Henry Paulson.
LS: Lembro.
FWE: Passados poucos meses, a Kroll Associates anunciou que não encontrara coisa alguma, na investigação para descobrir o ouro do Gosbank soviético. Então, acrescentando insulto à injúria, o FMI intrometeu-se e reescreveu a Constituição da Federação Russa no governo de Yeltsin e assumiu o poder de emitir dinheiro, assim como o Federal Reserve tirou do Congresso o poder de criar dinheiro, em 1913. Tiraram do estado o poder de criar dinheiro e criaram o Banco Central da Federação Russa, o Banco Central da Rússia, e lhe deram mandato para duas coisas. Uma, para controlar a inflação; a outra, para criar estabilidade monetária.
Quero dizer, na Rússia, naquele dia, significou estabilidade do rublo em relação ao dólar norte-americano. Assim sendo, a criação de dinheiro russo, a partir daquele dia, foi soldada ao EUA-dólar. E infelizmente, essa emenda à Constituição lá está, vigente até hoje. É uma das dificuldades que Vladimir Putin enfrenta para persuadir o Banco Central Independente a reduzir mais rapidamente as taxas de juro, dado que a inflação está simplesmente administrada, como problema, na Rússia, nos últimos dois anos.
Equivale a dizer que, assim, saquearam o ouro e garantiram que o rublo jamais alcance a estabilidade. Se você não tem lastro em ouro, os investidores ocidentais passarão a não confiar em você, que foi mais ou menos o que aconteceu. Em seguida, começaram a trabalhar com grupo muito seleto de banqueiros ocidentais, para tirar da Rússia o dinheiro que ainda tivessem lá.
LS: Valmet and Riggs foi importante para tirar o dinheiro da Rússia. Você pode falar por favor sobre pessoas chaves que então trabalhavam para Valmet and Riggs?
FWE: Valmet and Riggs era uma espécie de fusão de um banco suíço com o Banco Riggs de Washington, DC. E o Banco Riggs, realmente é aspecto fascinante e muito pouco discutido da questão russa nos idos dos anos 1990s.
Havia, sim, uma coisa chamada Banco Riggs em Washington, criado décadas antes, desde a operação dos anos 1960s, da CIA, na Baía dos Porcos, e desde então era conhecido como o banco ligado à CIA. Investiam dinheiro de gente como Marcos das Filipinas, enquanto foi íntimo da CIA. E havia um ex-embaixador à OTAN de nome Alton Keel, em 1989, e os generais da KGB soviética mantinham um grupo de 'protegidos', que Bush-pai chamava de "os meninos". Os protegidos tinham todos em torno de 30 anos, uns poucos já chegavam aos 40, mas bem jovens. Esses foram nomeados para serem os oligarcas, os homens de frente que controlariam as empresas e valores privatizados, alumínio, petróleo e tudo mais que foi saqueado da Federação Russa.
E Alton Keel, justo quando os russos estavam reunindo pessoal num banco pelo qual os oligarcas pudessem movimentar as respectivas fortunas roubadas, roubadas mesmo, Keel deixou a OTAN e o Conselho de Segurança Nacional para se tornar diretor da operação internacional e vice-presidente do Banco Riggs em Washington.
Agora é que vem o mais interessante, porque a operação internacional do Banco Riggs incluía uma nova entidade que havia sido criada, chamada Riggs Valmet S.A, na Suíça, e Riggs Valmet fora criada por um homem de nome Jonathan J. Bush, banqueiro privado, e irmão de Bush-pai. Assim aconteceu que o irmão de Bush-pai e Alton Keel montaram a Riggs Valmet. Havia um aparelho para lavagem de dinheiro em Genebra, e Riggs então, com a ajuda desse aparelho, comprou o controle acionário da Valmet de Genebra, criando Riggs Valmet.
Assim temos afinal o irmão do então presidente dos EUA, metido até a testa nessa grande operação Yeltsin-CIA de lavagem de dinheiro. Foi quando Jonathan Bush foi posto na presidência executiva de algo chamado Riggs Investment em Connecticut onde vivia. Desse ponto em diante, tornou-se simplesmente impossível deter o saque e a retirada do patrimônio russo de dentro da Rússia. Foram bilhões, dezenas de bilhões de dólares.
LS: William, há um sujeito que trabalhava muito perto dessa gente e estava trabalhando em Wall Street, mas depois foi pessoalmente recrutado por George Tenet, então diretor da CIA, para ser o número três na CIA: Alvin Bernard “Buzzy" Krongard.
FWE: É verdade. Aí encontramos “Buzzy" Krongard, no Bankers Trust, trazido por Alex Brown, e Krongard tornou-se vice-presidente do Bankers Trust, com outro sujeito de caráter exemplar, de nome Carter Beese. E, no momento do colapso de 1998 do rublo, Krongard foi nomeado formalmente, como você destacou, número três, diretor-executivo na CIA de George Tenet. Isso, para que se veja que foi uma rede da CIA do começo ao fim, desde o lado banking até diretamente o lado CIA. Tem-se Carter Beast, tem-se “Buzzy" Krongard e Jonathan Bush e Alton Keel e eram os sujeitos que trabalhavam com Valmet, como eu disse, com o Banco Riggs Valmet em Genebra, para arrancar todo esse dinheiro mediante empresas de fachada.
E os oligarcas. Parte interessante de toda essa coisa é quando se vê hoje, precisamente hoje, Theresa May e o secretário de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Boris Johnson – que acusam Putin de ter assassinado todos os mortos desde o nascimento de Jesus Cristo. E justamente um desses assassinados recentes (Nikolai Glushkov) era a pessoa de mais confiança, seu guarda-costas pessoal, de um dos oligarcas que vivem em Londres, Boris Berezovsky.
E Berezovsky é um dos oligarcas mais sujos. Financiou a Revolução Colorida na Ucrânia, em 2003-2004, como vingança contra Putin, porque pensou que Putin pudesse ser comprado como Yeltsin; e de repente se viu em luta contra a facção dos nacionalistas, dentro do que fora a KGB, e que queriam estabilizar e preservar a Rússia como a nação funcional que é hoje. E também Mikhail Khodorkovskyi, Roman Abramovich, cujo nome está na lista de sanções de ontem, e Berezovsky eram alguns dos principais oligarcas gerados nessa operação dos Bush.
LS: E temos de falar também de algo que é... francamente, que é mais estranho, mais estranho que qualquer ficção, uma coisa chamada "Ouro de Yamashita". Se alguém que nos ouve agora tiver interesse nessa história, pode ler, por exemplo, artigo assinado por Chalmers Johnson, conhecido especialista em questões asiáticas, intitulado The Looting of Asia, que foi publicado na London Review of Books dia 20/11/2003, porque lá se encontra facilmente alguma coisa sobre esse assunto do ouro de Yamashita, na Internet. Acho justo oferecer mais essa indicação...
FWE: É verdade.
LS: … porque fato é que ninguém realmente conhece essa história completa. Por favor, conte-nos tudo.
FWE: A história do Ouro Yamashita é uma dessas histórias, como você disse, realmente inacreditável do pós 2ª Guerra Mundial. Durante a 2ª Guerra Mundial, a Família Imperial Japonesa saqueou o ouro de todo o Arco da China ocupada. Saquearam o ouro detodas as partes da Ásia que o Império Japonês havia conquistado.
LS: Basicamente, de 1895 até 1945.
FWE: É. É. E dado que não havia qualquer garantia de que o Japão pudesse vencer a guerra, o imperador ordenou que o ouro fosse escondido fora de lá, sobretudo nas Filipinas, tanto quanto se sabe, e literalmente número até hoje ignorado de toneladas de ouro foram enterradas em túneis subterrâneos fundos, pelas Filipinas, e o pessoal que escavou os túneis foram, muitos deles, mortos a tiros, para que não revelassem a localização dos túneis. Mas Marcos, que de início foi quadro da CIA e depois ditador das Filipinas ao longo de quase toda a década dos 70s, e já entrados nos 80s, Ferdinand Marcos, sabe-se lá como, acabou por encontrar parte desse ouro. E os soldados japoneses, no início dos anos 40, antes do fim da guerra, receberam ordens do Imperador Hiroito para enterrar o ouro, se perdessem a guerra.
E num dado momento, nos anos 1970s, Marcos descobriu alguns desses pontos onde os soldados de Hirohito haviam enterrado o ouro, o ouro roubado da China, da Coreia, das Filipinas, da Indonésia e de outros países ocupados pelas forças japonesas. E Marcos – e acho que aí está uma das principais razões pelas quais a CIA acabou com ele, tornou-se um pouco ambicioso demais, e passou a mão naquele ouro e começou a vender por fora do mercado, servindo-se dos serviços secretos de alguns seletos bancos suíços. Mas usou um quadro da CIA, o bilionário saudita Adnan Khashoggi para ajudá-lo a vender o ouro fora do mercado. E sequer suspeitou de que Khashoggi lhe passaria a perna [risos]. Mas passou, no instante em que conseguiu melhor negócio oferecido a ele por Bush-pai e os tais "meninos" dele.
LS: É preciso dizer que Khashoggi é nome envolvido, por exemplo com o Bank of Credit and Commerce International, BCCI, fundado em 1972; e envolvido também no caso 'Irã-Contras'.
FWE: Nos anos ‘70s, estava envolvido em todas as sujeiras em que operavam os Bush e a CIA. No Banco B.C.C.I., banco que lavava dinheiro para a CIA, nos negócios de armas, Khashoggi era grande comerciante de armas durante a guerra Irã-Iraque que a CIA estava alimentando. Participou de praticamente todos os negócios sujos que a CIA estava fazendo.
LS: E sabia do ouro.
FWE: O que se sabe é que ele ajudava Marcos a vender o ouro fora do mercado. Quer dizer: não apenas sabia. Ele estava bem no centro da coisa toda. Mas depois que Marcos deixou de ter utilidade, a CIA de Bush livrou-se dele, em 1986. Foi quando um homem chamado Paul Wolfowitz, com Richard Armitage e Khashoggi começou a trabalhar com alguém no Canadá para criar – o nome é Peter Munk, empresário muito dúbio –, para criar algo chamado Barrick Gold do Canadá, que viria a ser, depois, a maior empresa de mineração de ouro do mundo.
Mas Barrick Gold... Todas as provas de que se dispõe mostram que essa empresa foi usada para fundir o ouro – não quero entrar muito nesses detalhes, mas Barrick Gold foi usada basicamente para fundir o ouro do Imperador Hirohito que Marcos encontrou nas Filipinas. Para fundi-lo e usar como colateralidade para derivativos, que seriam declaradamente usados para passar a mão no patrimônio russo.
LS: Basicamente, o dinheiro foi basicamente transformado em empréstimos bancários na Rússia, de modo que os que viriam a ser os oligarcas pudessem comprar aquele patrimônio…
FWE: Sim, exatamente. Assim, Yegor Gaidar, conselheiro de Yeltsin para a privatização da economia, e seu assecla Anatoly Chubais mais ou menos orientaram todo esse processo, junto com Jeffrey Sachs e um grupo da Universidade Harvard.
LS: É. Vamos falar sobre isso. É o que se conhece como Terapia de Choque Jeffrey Sachs, ou Terapia de Choque de Harvard.
FWE: Bem, a Terapia de Choque Jeffrey Sachs, mas a Terapia de Harvard é... – Bem, o que aconteceu, a próxima fase dessa história incrível. É importante ter isso em mente e essa é uma das razões pelas quais escrevi o livro, por causa do que estava já claro depois do golpe de estado da CIA em 2014 na Ucrânia e todas as sanções contra a Rússia de Putin e tal.
Porque se não se compreende isso, se não se compreende o que realmente aconteceu nos anos 1990s, não se compreende o ódio profundo, insuperável, que há nesses neoconservadores de Washington e seus think-tanks e no establishment político dos EUA, contra a Rússia de Putin e o nacionalismo que anima a Rússia. Não é possível compreender o que está acontecendo hoje com todas essas mentiras inconcebíveis e acusações ensandecidas contra a Rússia por todos os crimes imagináveis.
Isso posto, o que aconteceu foi que, como já disse, o Fundo Monetário Internacional, FMI, fez belo serviço para Washington e George Soros e outros, em termos de saquear patrimônio das economias assassinadas na América Latina, Iugoslávia, Polônia e outros, durante a crise do petróleo nos anos 1970s. O FMI foi usado, bem como um grupo de economistas que cercavam Jeffrey Sachs, então jovem professor na Universidade de Harvard, para impor o que Sachs chamou de "terapia de choque".
E a ideia, da qual Sachs convenceu Yeltsin, foi que ele deixasse os preços subirem nos mercados ocidentais, que isso aumentaria a oferta de bens, você sabe, havia falta de itens de consumo no tempo dos soviéticos, e Yeltsin deveria livrar-se de todas as barreiras comerciais, para que produtos estrangeiros pudessem encher as prateleiras na Rússia. Problema, só, que começa com uma mentira. As lojas estavam repletas. Claro, havia 'falta ' de Flocos de Milho Kellogg, de Frango Frito Sei-lá. Mas havia suprimento suficiente de alimentos produzidos na Rússia, até novembro de 1991, quando Yeltsin anunciou que exatamente dia 31/12/1991, o controle de preços desapareceria. Claro que instantaneamente os donos de lojas esconderam os produtos e esperaram que chegasse 31/12. Então, sim, as lojas ficaram vazias e o racionamento foi imposto. Eu sei. É inacreditável.
Esse foi o serviço de Jeffrey Sachs em matéria de terapia de choque, e de um grupo da Universidade de Harvard sob os auspícios do Harvard Institute for International Development, um grupo de, dentre outras coisas adiante descobertas, de agentes da CIAestabelecidos em Moscou e que trabalharam com a equipe econômica de Yeltsin, Gaidar e Yegor Gaidar e Anatoly Chubais e eles mesmos, e economistas de Harvard especialistas em Rússia Oriental. Depois, com o governo Clinton, quando Lawrence Summers, ex-professor de Harvard e ex-economista-chefe do Banco Mundial foi nomeado vice-secretário do Tesouro, responsável por saquear a Rússia, efetivo responsável pela transição da Rússia para bem longe do ouro, veio o período chamado de "a transição em 1993". [3]
E todos os atores chaves foram nomeados por Summers e estiveram envolvidos na privatização da Rússia. Todos eram da Máfia de Harvard. Por exemplo, David Lipton, ex-sócio da consultoria de Jeffrey Sachs, tornou-se vice-secretário do Tesouro assistente para a ex-União Soviética e Europa oriental, e o próprio Sachs foi nomeado diretor do Harvard Institute for International Development (HIID) que supervisionou o saque da Rússia mediante cupons de privatização e tal e tal. E todos receberam doações da USAID, que trabalha muito próxima da CIA em diferentes partes do mundo – o que está documentado. Quero dizer: foi realmente uma gangue firmemente entretecida em torno de Lawrence Summers, que supervisionou o assalto e o furto de bens da Rússia, mediante aqueles papéis chamados de "cupons de privatização".
E a situação econômica no governo de Yeltsin tornou-se tão grave, quero dizer, o emprego sumiu, porque os preços cresceram descontroladamente, ninguém tinha meios para comprar e nada se vendia, ou quase nada. Nessa situação, muita gente, milhões de russos, venderam seus cupons de privatização nas esquinas das cidades, a quem oferecesse melhor preço. Claro que os futuros oligarcas seriam sempre os que tinham mais dólares e compraram tudo, como já vimos antes, quando falamos sobre eles. Tinham crédito. Esse crédito lhe era garantido pelos amigos ocidentais, o Banco Riggs Valmet e outros semelhantes, para que comprassem os tais cupons. Assim, quando os preços subiram, eles simplesmente já haviam roubado a propriedade de alguns das mais valiosas empresas, indústrias e das mais valiosas reservas minerais do mundo.
LS: E pode dizer que foi caso clássico de leveraged buyout ["aquisição alavancada": compra de uma empresa por outra que usa quantia significativa de dinheiro tomado por empréstimo"], mesmo que tenha sido aquisição alavancada 'maquiada', não é?
FWE: Bem, pode-se falar de aquisição alavancada, sim. E sei que Anne Williamson usou a expressão nas primeiras análises. Para mim, não passou de roubo. Roubo legalizado. "Aquisição alavancada" acrescenta muita dignidade à coisa. Foi roubo. "Aquisição alavancada" é termo que foi muito popular no mundo das finanças nos idos anos 1980s e início dos 90s. Mas seja o nome qual for, certamente não foi aquisição alavancada padrão. Foi operação bizarra em todos os sentidos da palavra.
LS: Figura influente nisso, que você já mencionou, foi George Soros. E em 1994, como você registra no seu livro, Soros foi descrito nos seguintes termos, no The Guardian em Londres: "O extraordinário papel de Soros, não só como o mais bem-sucedido investidor do mundo, mas hoje, possivelmente e fantasticamente como a mais poderosa influência estrangeira madura em todo o antigo Império Soviético, desperta mais suspeita que curiosidade". O que, afinal, Soros estava fazendo na Rússia?
FWE: Soros tinha conexão intermitente com Jeffrey Sachs e toda Harvard, que se tornava então um grupo de terapia de choque e trabalhava com o grupo de Lawrence Summers no Tesouro dos EUA no governo Clinton. E em 1993 já havia oposição interna no que restara da Rússia, com o velho Partido Comunista que estava no Parlamento, e tal, e a oposição popular era tanta que os opositores ameaçaram ficar incontroláveis. E Yeltsin teve de aceitar submeter toda a privatização a um referendum nacional.
O referendum, de abril de 1993, tinha quatro perguntas, sim ou não. Você apoia Yeltsin? Sim ou não? Você apoia a política econômica de Yeltsin? Sim ou não? Você deseja eleições antecipadas para a presidência? Sim ou não? Você deseja eleições antecipadas para o Parlamento? Sim ou não?
Chubais, que era conselheiro de Yeltsin e pessoa chave na economia, conseguiu então um encontro secreto com George Soros. E Soros concordou com financiar, evidentemente a favor de Yeltsin, a campanha do referendum. Canalizou mais de um milhão de dólares para algumas contas em paraísos fiscais preparadas para serem movimentadas por Chubais para subornar jornalistas e empresas de mídia. Quando começou a campanha, praticamente todos os jornalistas e empresas de mídia já estavam 'na gaveta' dos oligarcas que cercavam Yeltsin, e atuaram para influenciar a opinião pública, ilegalmente e imoralmente, claro. O resultado foi um 'sim' à privatização que o grupo de Harvard, Jeffrey Sachs e George Soros e outros já tinham posto em andamento há muito tempo. E evidentemente, nesse quadro, as empresas do próprio Soros beneficiaram-se enormemente da tal privatização, pouco depois do referendum, quando os leilões aconteceram.
LS: Uma figura que conecta o passado e o presente é Vladimir Putin, que surgiu no cenário internacional pela primeira vez em 1998, mesmo ano em que aconteceu a crise do rublo.
FWE: Apareceu em 1999; o colapso do rublo acontecera em agosto de 1998. Foi parte do projeto original da "Operação Hammer" [Operação Marreta], dos Bushs. Aconteciam coisas inacreditáveis no mercado dos bônus russos das privatizações [orig. GKO Russian Bond], cujas taxas de juros eram inacreditavelmente altas. Por isso, circulavam lá todos os tipos de dinheiro especulativo, que apareciam, realizavam lucros e pulavam fora, incluindo o Fundo Soros, Fundo Quantum e tal e tal.
Até que, com o tempo, Yeltsin esgotou, praticamente, sua capacidade de manter as coisas no lugar. E ele, que fora nomeado em agosto de 1999, nomeou seu substituto, um jovem ex-oficial da KGB que durante a Guerra Fria estivera preso na Alemanha Oriental, de nome Vladimir Putin. Bem resumidamente, Putin fora vice-prefeito de São Petersburgo e durante algum tempo estivera no comando do corpo que sucedeu a KGB chamado FSB. Ouvi de várias fontes russas que não há dúvidas de que Berezovsky, Brzezinski e outros, os oligarcas de Yeltsin tinham certeza de que manobrariam o jovem Putin, que fariam negócios com ele e, claro, que era muito jovem e não tinha nem base nem experiência política.
As coisas não aconteceram bem assim. Putin imediatamente fez um ultimatum a Yeltsin – ou renuncia ou encare as consequências. Como logo ficou claro, Putin, que logo seria confirmado no cargo, era o porta-voz de um grupo, dentro da comunidade de inteligência, nacionalistas, patriotas, chame como quiser. Mas eram nacionalistas pró-Rússia. Yeltsin ouviu que "Se você renunciar e afastar-se da política, não será incomodado", aproveitou a chance e fugiu. Antes de fugir, nomeou Vladimir Putin ao cargo de presidente interino, até as eleições, em março do ano seguinte.
Putin chegou ao poder e imediatamente convocou uma reunião com todos os oligarcas mais poderosos que haviam acumulado fortunas impressionantes à custa do patrimônio nacional russo. E os denunciou como criadores de um estado corrupto, erguido com golpes e negociatas. Acusou-os formalmente e iniciou processos judiciais contra gente como Vladimir Gusinsky e o grupo Media-Most, grupo financeiro comandado por Vladimir Potanin, que hoje está na indústria da mídia, e naquele momento deixou uma empresa de petróleo controlada por Roman Abramovich e Boris Berezovsky. Aconteceu assim. Daquele momento em diante Putin iniciou e deu andamento à batalha morro acima, duríssima, para tentar estabilizar a Rússia como país de economia viável. A recente reeleição de Putin indica que ampla maioria do povo russo compreende e apoia esse esforço do presidente e de seu governo.
LS: Ao mesmo tempo, o presidente Putin também teve de enfrentar algo que já acontecia e continua a acontecer até hoje: a marcha da OTAN para leste, em direção às fronteiras da Rússia.
FWE: Até o ex-embaixador dos EUA à Rússia Jack Matlock confirmou que as negociações entre o governo Bush em 1991, a Alemanha e Gorbachev incluíram uma garantia solene, nas palavras de Jack Matlock, embaixador Matlock, que esteve em Moscou de 1987 até 1991. Disse que, sim, que os EUA oficialmente prometeram a Gorbachev, ainda quando existia a União Soviética que, se a Alemanha reunificada pudesse permanecer na OTAN, a OTAN não avançaria para o leste. Claro que esse compromisso, como tantos outros que Washington assumiu também no governo que sucedeu Bush, não foi respeitado. E criou-se a National Endowment for Democracy, NED, sobre a qual escrevo bastante em Manifest Destiny.
Naquele momento, Vin Weber presidia a NED e foi quem usou dinheiro dos contribuintes dos EUA transferido para a NED para 'levar a democracia' aos países da União Soviética. Weber também participou do Projeto para o Novo Século Norte-americano [ing. PNAC], othink-tank neoconservador que realmente formou e modelou o pessoal de Bush-filho nos anos 2000 e 2001. E Vin Weber também trabalhava como lobbyista para o maior grupo empresarial militar-industrial doa EUA, Lockheed Martin.
Foi portanto muito útil, com outro ex-vice-presidente da Lockheed Martin, Bruce Jackson, ex-vice presidente de Assuntos Estratégicos, para o serviço de levar a democracia a países ex-soviéticos inclusive a Rússia.
Começaram o serviço expandindo a OTAN para o leste, violando abertamente os compromissos assumidos no início dos anos 1990s. Em 2003, já haviam começado toda a expansão da OTAN para a Polônia, Hungria e todos os países ex-soviéticos.
LS: E para os países do Mar Báltico.
FWE: Sim, do Mar Báltico, bem ali à porta da Federação Russa, e Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Romênia, Bulgária e tal. Aí já se pode ver movimento bem claro para cercar a Rússia. Até que, em 2003-2004, a National Endowment for Democracy, a Fundação George Soros, todo o braço 'civil' das ONGs de Washington, de democratização fake, começaram a organizar e logo promoveram e puseram nas ruas a chamada "Revolução Cor de Laranja" na Ucrânia; e a "Revolução Cor de Rosa" na Geórgia, ali ao lado.
Se você examina num mapa, logo se compreende. Se você põe um governo pró-OTAN no poder na Ucrânia – o que fizeram com Gerashchenko em 2004, lá estará implantada ameaça militar realmente grave à segurança nacional da Rússia.
Mas, naquele momento, 2003, a Rússia absolutamente não tinha condições para fazer grande coisa, além de protestar um pouco, o mais que conseguiram. Evidentemente foram ignorados. Em 2006, houve evento bastante dramático, no final de 2006. No governo de Bush-filho, o secretário de Defesa Donald Rumsfeld anunciou que estavam instalando mísseis balísticos de defesa – voltarei a isso, mas aqueles mísseis eram qualquer coisa menos mísseis de defesa. Na Polônia, na República Tcheca e todas aquelas instalações de defesa antimísseis que incluíam mísseis, lá estavam para impedir ataque nuclear que viria... do Irã. Ataque nuclear.
No início de 2007, Vladimir Putin foi pessoalmente, como presidente da Federação Russa à Conferência de Segurança de Munique, realizada aqui, na Alemanha, e pronunciou um discurso no qual definiu a posição da Rússia, sobre segurança, vigente até hoje. Disse, claro, que nada do que se via em campo naquele momento tinha qualquer coisa a ver com Irã ou Coreia do Norte, como diz Washington. Washington mente. Seria como coçarem a orelha esquerda com a mão direita, como se diz em russo. Tudo ali tem por alvo a Rússia. E a Rússia considera essa ação intolerável, como ameaça à segurança nacional russa. E que os russos seriam forçados a responder.[4]
LS: Claro que tudo tem por alvo a Rússia, como possibilidade de primeiro ataque [nuclear].
FWE: É. Quanto aos mísseis de defesa... Na pesquisa para o livro, entrevistei, para livro que escrevi antes, entrevistei o coronel Robert Bowman que por curto tempo foi diretor do programa 'Guerra nas Estrelas', de mísseis de defesa, de Ronald Reagan. E que se tornou crítico muito, muito severo das políticas temerárias e irresponsáveis do governo Bush, de retirar os EUA do Tratado dos Mísseis Antimísseis e tal. E ele me disse que a ausência de qualquer atenção à defesa é precisamente o elo que falta no projeto de buscar a primazia nuclear, em que os EUA investem há tanto tempo. EUA só pensam em capacidade para o primeiro ataque. É programa muito gravemente vulnerável.
Mas é a opção dos planejadores do Pentágono desde os anos 1950s. Como me explicou o coronel Bowman: "Se você consegue impedir o contra-ataque do adversário, você tem a possibilidade de fazer um primeiro ataque e varrer o inimigo do mapa, porque ninguém pode simultaneamente atacar e contra-atacar com eficácia. Sem impedir o primeiro ataque, você se condena a atacar, atacar, atacar sempre, sem parar nunca." Significa, em resumo, que essa noção destroi toda a doutrina da guerra fria de mútua destruição garantida, a doutrina que havia conseguido manter longe da mesa, até aquele momento, as opções nucleares.
Os russos sabem muito de estratégia militar, são especialistas, eu diria. Avaliaram a situação e concluíram que a situação criada pelo governo Bush é "simplesmente intolerável. Temos de responder, e responderemos. Mas responderemos à nossa maneira. Vocês verão."
LS: E os russos reagiram.
FWE: E os russos reagiram. Se pudermos falar um momento do presente...
LS: Claro, por favor.
FWE: Dia 1/3, o presidente Putin fez um discurso à Assembleia da Federação Russa, em Moscou, televisionado para todo o país. A primeira parte do discurso foi como todos os anos, relatório da situação da economia russa e planos para o futuro. Aconteceu pouco antes das eleições russas que garantiram, por grande diferença, mais um mandato ao presidente Putin.
Mas a parte crucial daquele discurso é a segunda parte, sobre as novas tecnologias militares da Rússia, como diz o presidente. Putin faz referência àquele discurso de 2007 em Munique, e lembrou que "dissemos lá que dessa vez a Rússia teria de responder", e que, dada a expansão da OTAN para o leste... A qual, para ser honesto, verdade é que nunca houve qualquer razão para a existência da OTAN depois de 1991 ou com certeza depois de 2000, além do que disse o primeiro-secretário geral da OTAN, na criação: que serviria para "manter os russos fora, os alemães por baixo e os norte-americanos dentro" [risos].
Mas o discurso de Putin falou sobre primazia nuclear e a resposta russa e expôs os desenvolvimentos militares que a indústria russa empreendeu, os novos produtos, projetos nos quais trabalham silenciosamente desde que Washington rompeu unilateralmente o Tratado dos Mísseis Antimísseis, 2002/2003. E mostrou ali uma coleção impressionante de mísseis, de planadores hipersônicos de baixa altitude, invisíveis aos radares e armados com ogivas nucleares, trajetórias imprevisíveis, invisíveis para os mísseis de defesa e sistemas de defesa aérea, drones submersíveis para grandes profundidades, manobrados à distância e que viajam em velocidades muito superiores às dos mais modernos torpedos. Colhidos de surpresa, 'especialistas' ocidentais de TV, como na rede CNN só conseguiram responder que 'é blefe', 'está mentindo', 'isso não existe', e assim por diante.
Gente que conhece bem a tecnologia militar russa e a qualidade e intensidade do tipo de pesquisa e desenvolvimento focado na defesa do país, já confirmou que Putin não blefava. Aviões hipersônicos que voam a velocidade de cinco vezes a velocidade do som (chamam-se "hipersônicos") e o míssil Kinzhal (Adaga), que voa em velocidade Mach 10, dez vezes a velocidade do som, e que, como disse Putin diante das imagens (vídeo, 1:38"09'), "Esse míssil voa dez vezes mais rápido que o som; é manobrável em todas as fases da trajetória e escapa de qualquer sistema de defesa antimísseis em qualquer ponto, até 2.000 quilômetros de distância do ponto de disparo."
Putin apresentou seis ou sete dessas armas, que são o estado da arte da tecnologia militar no planeta e, como The Saker comentou depois do discurso (traduzido no Blog do Alok ) pôs à vista de todos o fim do jogo para o Império. Hoje, no mundo, ninguém tem alternativa militar para opor à Rússia.
Só assim, afinal, se compreende a avalanche de acusações falsas contra Putin, como se a Rússia tivesse algum interesse em se intrometer nas eleições nos EUA, para escolher entre Hillary Clinton e Donald Trump. Para acusar Putin e a Rússia de violar a lei internacional, para realizar um referendum limpo na Crimeia depois do golpe de estado da CIA em Kiev, depois de a CIA, como hoje se sabe, ou gente paga pela CIA ter posto atiradores mercenários trazidos da Geórgia para atirar contra civis na praça Maidan [ininteligível 00:55:08-0], em fevereiro de 2014, com o quê se criou o caos que levou ao colapso do governo e ao golpe de estado.
Quer dizer, como você está vendo, que não é a Rússia que anda pelo mundo como valentão, procurando briga em cada beco. Não é a Rússia que está desgraçando a Síria. A Rússia está tentando impedir que OTAN, sauditas e outros continuem a tentar destruir e semear o caos no Oriente Médio e no mundo. Qualquer um que se interesse pela verdade e por fato, pode ler meus comentários no blog, mas não só os meus. Há muitos comentários aproveitáveis em toda a internet.
A mídia especializada em distribuir fake news é a mídia controlada pela estratégia de relações públicas da OTAN em todo o ocidente, e nada tem de mídia crítica – que nesse exato momento é alvo de censura e de sanções.
LS: Falemos um pouco sobre o presente, William, para fechar um ciclo de nossa entrevista. Como já discutimos, os cofres russos já não guardavam ouro algum, desde o início dos anos 1990s. Mas isso já mudou basicamente desde que eclodiu a crise financeira em 2007, 2008, 2009. A partir de então, o Banco Central da Rússia compra ouro como absolutamente nenhum outro país, em ritmo acelerado.
FWE: Desde a crise financeira e especialmente desde que começaram as sanções contra o país, depois da reintegração da Crimeia em 2014. Essa tem sido a política do Banco Central Russo e da Federação Russa, comprar a maior quantidade possível de ouro para garantir lastro ao rublo. Acho que os russos já são número 5, ou número 6 no mundo, em termos de reservas em ouro, e corrija-me se estiver errado, mas acho que a Rússia já está pouco atrás da República Popular da China, que também está comprando ouro vigorosamente, para garantir lastro ao seu yuan.
Acho que a Rússia está acumulando ouro, como proteção, dado que, pelo que entendo, o ouro nunca deixou de ser o valor que garante solidez às moedas. Moedas Fiat como o dólar, sobretudo depois que Nixon, em 1971, pôs o dólar ao relento. [Incompreensível] O que a Rússia está fazendo é construindo a própria segurança em termos de moeda, e agora, quando essa segurança muito provavelmente será testada pelas divisões de guerra econômica do Tesouro dos EUA, nas novas sanções.
Mas a Rússia está-se postando ao lado da China. Muito interessante que, depois de 2014, quando aconteceu o golpe de estado da CIA na Ucrânia, Putin não reagiu metendo-se na guerra de destruição que se travava no Leste da Ucrânia. Em vez disso, virou-se para o oriente, estreitando as relações com a China. E o então novo presidente chinês, Xi Jinping rapidamente entendeu a importância da União Econômica Eurasiana, da qual a Rússia é a principal economia, com Belarus e Cazaquistão, Armênia, e viu a coerência que havia entre a UEE e a Iniciativa Um Cinturão Uma Estrada. Juntos os dois movimentos acelerariam o processo de conectar infraestruturas, dutos de energia, oleodutos e gasodutos, as redes de ferrovias para trens de alta velocidade, os portos de águas profundas e tudo mais. Está-se criando o que para muitos é uma ponte terrestre eurasiana. De fato, é um espaço econômico na Eurásia, onde viverá a maior parte da população do planeta, rico em recursos naturais de que o mundo muito precisa, incluindo metais nobres e as terras raras das quais a China é hoje principal fornecedora mundial.
A Rússia tem vastas reservas de petróleo e gás, tem tecnologia militar, tem tecnologia civil, tem força de trabalho com excelente escolarização e formação, provavelmente das mais bem educadas e formadas do mundo hoje, e é país de importante produção científica. E é independente das economias falidas da Grã-Bretanha e dos EUA e também da União Europeia, onde a crise bancária, desde a crise de 2008 foi apenas varrida para baixo do tapete, mas está em ebulição e pronta a explodir a qualquer momento.
Assim se tem um mundo OTAN carregado de dívidas. Chamemos "mundo OTAN", mundo dos países membros da OTAN, de um lado. E de outro lado tem-se a Rússia, unida. E não se pode deixar de registrar que a Rússia tem hoje uma inacreditavelmente reduzida...
LS: ... dívida!
FWE: Sim, dívida interna inacreditavelmente mínima.
LS: Exatamente.
FWE: Algo entre 13 e 17% do PIB.
LS: E com essa montanha de lastro ouro, para uma mínima dívida soberana. É quase a perfeição.
FWE: Sim. E foi planejado. Essa independência foi construída, sempre foi essa a intenção de Putin: criar condições de independência para a Rússia.
Vou muito frequentemente à Rússia, tenho amigos muito, muito especiais na Rússia, que fui fazendo ao longo dos anos. Estive na Rússia pela primeira vez em 1994. Era muito diferente! Era o auge dos tempos de Yeltsin e daquela insanidade. Os russos são, não só povo muito orgulhoso, mas são, principalmente, povo determinado, aplicado a fazer acontecer o que seja decidido. Aprenderam a defender a própria existência e o fizeram sempre, há muito mais de mil anos, desde o grande cisma entre a igreja do ocidente em Roma, e do oriente, em 1054. Entendo que foi data crucial, decisiva na história moderna, aquela divisão.
Mas os russos atravessaram duas Guerras Mundiais e o estupro da própria nação, no governo Yeltsin, processos judiciais, condenações e prisões inacreditáveis e nem assim jamais afrouxaram na defesa da própria existência nacional. É algo que acho que Washington e aqueles neoconservadores nem fazem ideia do que seja.
1:03
LS: Ainda uma coisa que quero perguntar, e é minha pergunta final. Você é especialista renomado no campo da geopolítica e história do petróleo. E a partir desse mês, abril de 2018, temos um contrato futuro em Xangai, denominado em yuan, para o petróleo. E também ouvimos que os chineses planejam fazer preço em yuan para o petróleo que compram internacionalmente. A Rússia é candidata número um como exportadora?
FWE: Com certeza é. Com certeza. Rússia e China estão conectando os seus mercados financeiros, cada vez mais profundamente. O governo russo está no processo, acontecerá ainda esse ano, para emitir papéis russos denominados no yuan chinês. O anúncio do petroyuan, os contratos futuros de petróleo vendidos em Xangai, claro que nada acontecerá da noite para o dia, mas está tudo pronto para início positivo na aceitação pelo mercado. Tem as bases necessárias para ser aceito nos negócios do petróleo.
Voltemos um pouco aos anos 1970s – e documento o processo em detalhes em dois de meus livros Myths, Lies and Oil Wars e A Century of War. No início dos anos 1970s, quando Nixon separou o dólar e o ouro, o dólar relativo ao marco alemão e ao yen japonês caiu como pedra, coisa de 40% no período de New York estavam sofrendo, houve um choque no preço do petróleo, orquestrado. Não vou entrar em detalhes, há farta documentação nos livros.
LS: E Xeique Yamani também falou sobre isso.
FWE: Sim. E me convidou, depois de ler meu livro, para sua casa em Londres, onde ele recompõe as energias, em 2000, setembro de 2000. Convidou-me para um jantar e discussão privada, para conversar sobre o que lera. E depois, foi a uma entrevista na CNN e mencionou o assunto, meu livro, título e autor. Na transcrição da entrevista, todas as referências ao livro foram omitidas, de modo que nem se desconfia que algum dia existiram. Mas Xeique Yamani disse-me que você é o primeiro jornalista, ou a primeira pessoa, exceto eu, que explica corretamente o que foi aquele choque do petróleo.
Sem dúvida foi manipulado, dentre outros, por Henry Kissinger, secretário de Estado, e por um grupo no establishment atlântico, chamado Grupo de Bilderberg, que se reuniu em Saltsjöbaden, Suécia, em maio, antes da Guerra do Yom Kippur.
Seja como for, os círculos dos EUA em torno de Rockefeller, que naquele momento era presidente de USA Inc., pode-se dizer. Eles arquitetaram um aumento de 400% no preço do petróleo; para garantir que Alemanha e Japão não pudessem negociar petróleo em marcos alemães, o que derrubaria a demanda e o valor do dólar. Mandaram uma delegação do Tesouro dos EUA para assinar um acordo com a agência monetária da Arábia Saudita, para um novo relacionamento, pelo qual o superávit de petrodólares ou petrodólares da OPEC compraria dívida dos EUA.
LS: E por fora dos leilões normais de condições especiais.
FWE: Sim. Em troca, Washington daria aos sauditas dezenas de bilhões de dólares em equipamento de defesa.
LS: E a Arábia Saudita usaria seu status de produtor decisivo na OPEC, para só aceitar dólares nos negócios de petróleo.
FWE: E esse troca-troca aconteceu depois de 1975, formalizou os sauditas na posição de produtor decisivo na garantia pela OPEC de que só venderia seu petróleo em dólares. Funcionou assim até o tempo de Saddam Hussein, durante as sanções, pouco antes de os EUA invadirem o Iraque, e Saddam Hussein começar a comprar petróleo através de um banco francês, e em euros, não em dólares.
LS: E ele ganhou muito, porque realmente vendeu seu petróleo em euros.
FWE: Sim, sim. É isso. Aí está. Tudo que aquele negócio nos EUA conseguiu até hoje foi segurar o EUA-dólar, apesar da evidência de que a atividade industrial importante nos EUA foi-se toda pelo ralo ao longo dos últimos 40 anos, desde que separaram o dólar e o ouro e [putting of English dollars for the world economy?]. Assim, a ideia de que China e Rússia negociariam em energia, e de que outras economias começariam a vender petróleo para a China – o Irã, por exemplo, é candidato evidente –, em petroyuan, não em petrodólares... Tudo isso começou lentamente, como gotas de ácido que começaram a corroer o status do EUA-dólar como moeda de reserva. E se a coisa continuar, acabou-se o jogo para os EUA como potência financeira global.
LS: Esclarecendo para nossos ouvintes e leitores. Se você é obrigado a usar dólares para pagar pelo petróleo que compra, você fica também obrigado a comprar dólares para poder comprar petróleo.
FWE: Exatamente.
LS: E se esse o mecanismo de que estamos falando continua, os EUA têm um problema, porque o dólar que anda voando internacionalmente pelo planeta rapidamente terá de trilhar o caminho de volta aos EUA pátria-mãe.
FWE: É. E acontece outra coisa também. A dificuldade para vender agora, quando está em curso essa magnífica Trumpeconomia [orig.Trumponomics], como chamo. Há projeções de que o déficit dos EUA, diferença entre a arrecadação e o dispêndio, dentro de dois anos, em 2020 excederá um trilhão de dólares ao ano por ano, até onde a vista alcança. Ao final da década, em 2028, me parece, estimada pelo gabinete de orçamento do Congresso, a dívida pública dos EUA estará bem acima de $33 trilhões. Hoje está em 20. Deve chegar talvez a 38, simplesmente está fora de controle. Implica dizer que, se a capacidade do EUA-dólar para se impor ao uso na economia mundial ficar muito gravemente comprometida, será preciso subir tanto as taxas de juro para vender essa dívida, que todo o sistema torna-se disfuncional.
LS: Sim, mas já é a situação que se viu nos pagamentos de juros nesses últimos anos sobre a dívida já existente, $400 bilhões por ano.
FWE: É.
LS: E se as taxas de juro subirem...
FWE: Isso, com juros negativos, abaixo de zero, mas agora, você sabe, se tiverem de subir os juros para 5, 6, 7, 8% como aconteceu nos anos 1980s, a coisa toda explode.
LS: Assim, voltando ao ouro, o ouro tem vantagem relativa sobre bônus, ações, o EUA-dólar ou outra dessas moedas Fiat. Se você tem dólar físico, não há risco de calote.
FWE: Exatamente.
LS: Assim sendo, você entende que o ouro será o vencedor final da crise financeira em curso, quando realmente estiver em plena rotação?
FWE: Bem... Está bem documentado o movimento de J. P. Morgan, Chase e outros bancos seletos, nessa colusão com o Federal Reserve, estão há anos deprimindo artificialmente o preço do ouro. Cada vez que há nova crise financeira, eles intervêm e mantêm o ouro preso numa faixa bem estreita. Até que isso deixará de funcionar. Gente que acompanha mercados do ouro muito mais do que eu diz que os preços podem chegar rapidamente a $10 mil por onça, e até mais.
Seja como for, o ouro, como você disse, não tem risco de contrapartida, risco de calote, e é formato histórico para entesourar valor. É uma das belas mercadorias que há por aí. Tem também hoje um significado especial, além do significado econômico e histórico. Falo do fato de a China, hoje, ser a principal produtora de ouro, de mineração de ouro, em todo o mundo. Não é a África do Sul. África do Sul já ficou em 2º lugar, muito para trás...
LS: ... E a Rússia é a terceira maior produtora, na mineração de ouro.
FWE: Sim, China, África do Sul e Rússia, Rússia é número três.
LS: E muitos estados-membros da Organização de Cooperação de Xangai ou produzem ou estão comprando ouro.
FWE: As conexões das ferrovias construídas como parte da Iniciativa Um Cinturão Uma Estrada, da China, são orientadas em parte para as áreas onde há reservas conhecidas de ouro, mas onde os soviéticos não construíram a necessária infraestrutura para levar o ouro aos mercados. Tudo isso para dizer que as possibilidades são fascinantes. Não só para China e Rússia, de fato para todo o mundo, possibilidades para construir e integrar, não para dividir e destruir e bombardear e levar à bancarrota – que são as únicas políticas que Washington parece compreender atualmente.
LS: Sim, sim. Podemos resumir com uma frase que os chineses usam muito: "Que você viva tempos interessantes"... Você e todos.
FWE: Com certeza chegaremos lá.
LS: OK. Muito bom. Obrigado, muito obrigado, William, por essa entrevista.
FWE: Eu que agradeço, Lars.
* Ing. Cognitive dissonance. Optamos nessa tradução por "cognição dissonante", como se encontra em traduções ao francês, e expressão que nos parece mais correta, por boas razões de semântica e pragmática linguística, que não caberiam nessa nota. Correções e comentários são bem-vindos [NTs].
[1] Bush-pai foi diretor da CIA, "dos mais amados diretores que jamais tivemos", como se lê na página oficial da Agência. De 1981 a 1989 foi vice-presidente; e dali até 1993, foi presidente dos EUA, depois de Reagan. Na disputa para a reeleição, foi derrotado por Bill Clinton [NTs].
[2] Deve ser verdade, posto que, em 2000, The Telegraph (Londres) noticia o exato oposto disso. Para a 'mídia' ocidental, o perigo que surge no horizonte, contra o esquemão da CIA, e que tem de ser abatido, é Putin [NTs].
[3] Como nunca falta na mídia-empresa do Brasil algum evento sempre suposto muito democrático, a cada vez que os golpes-estupro do Brasil pela CIA dão um passo, 1993 foi o ano em que os brasileiros tiveram oportunidade de escolher entre "Regime Republicano" e "Monarquia" e entre "Parlamentarismo" e "Presidencialismo". A votação, marcada inicialmente para setembro, foi antecipada para o dia 21/4/1993, e os resultados podem ser encontrados aqui. Tudo superficialmente muito democrático. Amanhã, esse 'evento' completará 25 anos.
Em setembro de 1992 Collor sofrera impeachment e renunciara em dezembro, quando o vice-presidente Itamar Franco assumiu a presidência. Em seguida, o "Plano Real" iniciado dia 14/6/1994 criaria a ficção de que teria 'salvo' o Brasil e elegeria FHC, Clinton e a CIA para governarem o Brasil até 2002, quando afinal, embora com Carta aos Brasileiros e timidez, o Brasil conseguiu eleger Lula, presidente de 2003 e 2010, depois Dilma. Com isso, e ajudados, nós, pelas guerras de Bush, quando EUA afundaram-se no Oriente Médio e deram uma folga à América Latina, vivemos tempos de prosperidade no Brasil.
Mas a folga acabou quando Iraque, Irã, Síria, Rússia e Trump derrotaram Clinton e a CIA no Oriente Médio, e o "Estado Profundo & Grana EUA-Sionista". Então, imediatamente, a CIA, com STF e o juiz Moro, derrubaram a presidenta Dilma e completaram, no Brasil, a "revolução colorida cor-de-a-bandidagem-no-poder". Nesse ponto estamos hoje, sob golpe, em 2018. Segue a luta [NTs].
[4] Ver também 5/3/2012, "Agora é encarar: o Czar voltou!", Pepe Escobar, Al-Jazeera (de Bangkok, Tailândia), ing. “Get over it: The Tsar is back”, port. em Redecastorphoto [NTs].