O objetivo deste texto será não abordar os meandros específicos de cada episódio ou o do enredo completo, isto caberia mais à blogs dedicados exclusivamente à StarTrek, ou sites mais ligados a cultura geek e nerd.
Uma vez que a coluna Analisando Obras trata mais os aspectos políticos das obras abordadas, falaremos mais da ambientação e do cenário da série (ou das séries) de StarTrek, do que propriamente “detalhes e curiosidades” sobre o enredo.
1 – “O universo fictício da série”
Diferente de Star Wars, onde temos um cenário galáctico fantástico distinto do nosso mundo (isso é, George Lucas criou um cenário que não tem “nada a ver” com o mundo real), o cenário de StarTrek é ambientado em “nosso próprio” universo, com a diferença de que eles estão contando uma história sobre a humanidade (e de certo modo, sobre o planeta terra) em alguns séculos à frente.
Em StarTrek, temos o mesmo planeta terra, o mesmo sistema solar, e o mesmo passado humano – que viveu duas guerras mundiais, uma guerra fria, possuiu etapas históricas e civilizacionais mais ou menos definidas (história antiga, medieval, etc.) –, a mesma galáxia, e tudo que você imaginar que hoje conhecemos no nosso universo. Em Star Wars, todavia, apesar de existir a ‘raça humana’ que habita e governa a maior parte da “galáxia” (uma galáxia fictícia), temos uma grande variedade de planetas total e completamente fictícia, praticamente um cenário criado do “zero”, semelhante ao cenário fantástico de Senhor dos Anéis (a Terramédia).
Assim, mesmo tratando de uma obra de ficção científica, temos uma ficção elaborada em cima de um cenário mais ou menos real, e sobre uma história de passado civilizacional mais ou menos real.
2 – “Os antecedentes históricos de StarTrek”
A história do mundo de StarTrek até o século XX e primórdios do século XXI são as mesmas ou, no mínimo, muito semelhantes. Temos a sucessão de duas guerras mundiais, a guerra fria, a “hegemonia do capitalismo norte-americano”, e assim sucessivamente até como é nos dias de hoje. Todavia, há alguns fatos que ocorrem na cronologia do StarTrek que “ainda não vivenciamos” em nosso mundo.
Ao contrário da ideia de que a “queda da URSS traria a vitória definitiva do capitalismo e a paz mundial”, o “fim da história” (do liberal Fukuyama), a humanidade ainda permaneceu em intensos conflitos e sucessivas crises sociais e econômicas. O estopim dessas tensões causou a III Guerra Mundial de 2049 à 2053, e o mundo viverá uma atmosfera de caos e “terror nuclear” até 2079.
Foi um período de grande caos. Dominaram por certo tempo os “senhores de guerra”, proprietários de armas e recursos essenciais a vida humana que dominavam a vida política do mundo de modo territorialista, despótico e militarista. Seu domínio era exercido de uma forma “direta” sem a necessidade de intermediários como o Estado (algo próximo do que seria uma realidade “anarco-capitalista”, com “feudos” modernos e caóticos, cenários mais ou menos semelhante ao da obra Mad Max).
Assim, boa parte do mundo estava beirando ao caos em localidades sem governos constituídos, e os poucos governos humanos que sobraram em nosso planeta estavam em grande instabilidade.
Só a partir de 2080 a humanidade começa a se reconstituir a partir de suas ruínas, construindo um novo tipo de sociedade. Neste meio tempo, do período do terror-nuclear à reconstrução da sociedade humana, os vulcanos (raça alienígena do famoso Spock) entram em contato pela primeira vez com a humanidade, em 2063.
Essa reconstrução da sociedade humana, a partir de 2080, que acabei de citar é a principal questão que eu quero abordar aqui. É o principal objetivo do texto, porque o caráter da sociedade de StarTrek – a partir das últimas décadas do século XXI – que delimita a história de todas as séries (e filmes) da franquia.
3 – “O Terror Nuclear e Reconstrução da Sociedade”
De 2053 a 2079 a humanidade passa por uma fase chamada “terror nuclear”. Após o colapso da maioria dos governos e da ordem capitalista mundial, a humanidade entra em uma espécie de barbárie, isto logo após boa parte da população mundial ter sido dizimada.
Os primeiros passos para a saída desta barbárie têm seu início em 2063. É neste ano que um engenheiro desenvolve um propulsor inovador, que permite um objeto se locomover ultrapassando a barreira da luz de modo que este objeto mantenha suas propriedades enquanto matéria (no atual conhecimento de física que nós temos, atingir essa velocidade faz com que qualquer partícula se converta necessariamente em energia e “deixe de ser” partícula; este propulsor, todavia, conseguia romper a barreira da luz sem esta conversão).
Uma raça inteligente, com tecnologias de exploração já desenvolvida, “detecta” essa atividade humana e fica bastante impressionado com nosso potencial. Eles são os vulcanos, seres pertencentes a uma cultura de grande admiração à razão e à lógica, que condicionam culturalmente seus descendentes a controlarem suas emoções. Assim, após a utilização do propulsor espacial desenvolvido em 2063, os vulcanos resolvem visitar nosso planeta e compartilhar seus conhecimentos com a humanidade.
A partir daí a humanidade volta, aos poucos, a se estabilizar socialmente, acabando com as sequelas do terror nuclear e da III Guerra Mundial, em todos os confins do planeta terra. A estabilidade é “restaurada” apenas no final da década de 2070, onde o ano de 2080 é marcado com o início de uma nova Era, e o fim do período de caos generalizado, isso é, da barbárie, e o fim do terror nuclear.
Obviamente, quando a sociedade humana é reconstituída das cinzas, ela não retorna para a ordem capitalista mundial que gerou o caos e a III Guerra. Desta vez, a sociedade é reconstruída a partir de outro prisma, e com novos tipos de tecnológicas e forças produtivas (algumas, digamos, “incompatíveis” com o capitalismo).
A verdade é que, a reconstituição da sociedade humana se dá por formas mais ou menos semelhantes a concepção que temos, entre marxistas, do que é o socialismo científico.
Obviamente, a diferenciação é clara: não estamos tratando da reconstrução de uma sociedade onde temos um partido marxista-leninista como vanguarda que orienta a sociedade neste caminho tempestuoso. As razões são simples: o criador da série, apesar de ter uma perspectiva altruísta do futuro da humanidade (pelo menos no campo da ficção), busca não “se envolver politicamente” em debates de ordem “ideológica”, assumir com nomenclaturas que esta reconstrução da sociedade fosse por meio do socialismo e orientada por um partido político, seria aferir um posicionamento político pró-socialista em plena Guerra Fria. Todavia os autores desejavam passar uma impressão de neutralidade (“nem capitalismo, nem socialismo”), ainda que, na prática, toda a premissa da obra se inclinasse a uma determinada posição, a uma determinada “concepção de futuro”.
Apesar de todas essas ressalvas, a reconstrução da sociedade de 2080 em diante terá estas semelhanças com o socialismo científico, por razões óbvias. Afinal ela vai atender a estes requisitos básicos: 1) Desenvolvimento tecnológico de ordem pública, 2) Gradual abolição de instituições como propriedade privada e herança, 3) Participação dos membros da sociedade no seio Estado ou no órgão de representação correspondente de uma maneira sempre crescente, etc.).
E não só a sociedade humana a partir de 2080 começa a se reconstruir em cima desses pressupostos, como algumas décadas depois (ou até alguns séculos), ela adentra em um modo de produção superior e bem consolidado, do que nós, marxistas, podemos chamar de Modo de Produção Comunista.
4 – “Comunismo em StarTrek?”
Sim, você leu corretamente.
Dentre as obras conhecidas (literárias, televisivas, etc.), a ficção científica de StarTrek é que põe a humanidade em condições mais próximas do que se concebe como um modo de produção comunista.
Ainda que sob um aspecto menos “realista” e mais “fantástico e aventureiro” (afinal, as descobertas e missões extraordinárias é que dão o tom da série), as normais sociais, políticas e econômicas do cenário são ditadas por estes preceitos. Isto sem contar a noção de moralidade que permeia a humanidade no futuro, uma noção de humanidade enquanto uma “grande família”, muito distinta da nossa noção “egoísta” dominante na humanidade sob uma sociedade baseada em pressupostos liberais.
5 – “A Economia e o Trabalho em StarTrek”
Com o pleno desenvolvimento das tecnologias produtivas da sociedade humana, a sociedade é dotada de meios concretos para plena satisfação de nossas necessidades. Para além do desenvolvimento absoluto da automação, nanotecnologia, etc. a humanidade desenvolveu o que chamam de “replicadores”, máquinas capazes de converter energia em matéria.
Os replicadores podem, por assim dizer, converter determinada quantidade de energia, em determinada quantidade de matéria, sob formas desejadas e a apropriadas: você pode criar uma ferramenta, uma roupa, uma peça de computador ou nave, ou qualquer outro objeto maior ou menor. O conceito dos replicadores de StarTrek lembram em alguma medida as atuais impressoras 3D, com a diferença que tais impressoras lidam diretamente com a matéria-prima, enquanto em StarTrek, trata-se também da conversão de qualquer tipo de energia em matéria-prima. Dado que o universo contém uma quantidade absurda de energia (nas estrelas, por exemplo), isto acarreta a plena abundância de recursos, e a satisfação plena e crescente das necessidades humanas.
Isto também proporciona a libertação do trabalho humano. As forças produtivas estão desenvolvidas em tal nível que não há mais fronteiras entre o dito “trabalho manual e intelectual”. Por exemplo, produzir um novo computador não significa mais a divisão do trabalho absoluta entre o inventor, os engenheiros e os milhares de operários que irão “pegar a mão na massa”; o operário (ou os operários) terão de ser necessariamente também o engenheiro e vice-versa. As tecnologias desenvolvidas em prol dos interesses da humanidade proporcionam uma realidade em que, para um ser humano, produzir materialmente, significa produzir intelectualmente.
A libertação do trabalho proporciona que a humanidade absolva, muito mais do que antes, a carga cultural da humanidade. Somos mais realizados culturalmente e intelectualmente. Libertamos concretamente toda a humanidade, de um ponto de vista econômico, e não a mera “liberdade política” ou “subjetiva”. Agora os homens estão livres para produzirem arte ou conhecimento, para, enfim, produzirem sob uma sociedade não-pautada pela divisão do trabalho (intelectual e manual).
Outro fator memorável da “economia” em StarTrek, além do nível das forças produtivas e da libertação do trabalho manual, é o fato de que tudo isso proporcionou a perca do sentido do dinheiro: se as forças produtivas realizam a satisfação crescente das necessidades humanas, qual a necessidade de algo como o “dinheiro”? A economia agora é baseada em preceitos racionais e coletivos (“interesse toda a humanidade”) e não mais em preceitos de mercado e individuais (“meus interesses pessoais”).
6 – “A Política e as Instituições em StarTrek”
A humanidade em StarTrek vive num planeta terra onde já superamos noção de Estado (ou de Estados), mas isto não quer dizer que os mesmos vivem sem Instituições sólidas, nem muito menos que vivem sob uma “anarquia”.
Existe ordem, instituições e existem hierarquias. A própria dinâmica da exploração espacial, que é o central das franquias da série, é sempre pautada por patentes “militares”: Capitão, Primeiro Oficial, e entre outras instâncias hierárquicas.
A sociedade em geral possui um órgão político chamado “Federação dos Planetas Unidos” que tem por função realizar a “administração das coisas”, gerindo o interesse comum da sociedade (não só da sociedade humana como dos outros planetas que dela participam).
Politicamente falando, a Federação é como um órgão para gerir os interesses comuns da sociedade, de um ponto de vista “interno”.
Além disso, subordinada aos interesses da sociedade em geral, e submetidas à Federação, existe a “Frota Estelar”, que é um órgão de: defesa (militar), pesquisa, diplomacia e exploração. Um órgão até mais disciplinar e rígido que a própria Federação (mas submetido a ela).
Politicamente falando, a Frota Estelar é como um órgão para propagar os interesses comuns da sociedade a um âmbito “externo” (além dos limites da Federação).
A Federação é, pois, o órgão político da sociedade, e a Frota Estelar é o braço científico, militar e diplomático da Federação.
As obras de StarTrek, sejam em séries ou filmes, nunca retrataram com profundidade o funcionamento da Federação, e da própria Frota Estelar eles dão ênfase em retratar as missões e “aventuras” da frota. Todavia, alguns episódios e recortes de filmes nos levam a crer que as mesmas (Federação e Frota) se organizam por meio de Assembleias.
No primeiro filme da mais recente sequência de filmes do StarTrek, o jovem Kirk, em finais do filme, é nomeado como capitão da Frota – e de certo modo prestigiado pelos seus feitos em missão – em algo que se assemelha em alguma medida à uma assembleia militar da RPDC (a Coreia socialista). Não parece haver algo como “eleições democráticas” (no sentido das eleições de países capitalistas), e o que vemos são apenas cientistas, pesquisadores, intelectuais, etc. isso é, setores da sociedade em geral (praticamente toda a humanidade) interferindo de maneira direta nas decisões da Federação e da Frota a nível local, internacional ou até interplanetário. Não há “partidos que concorrem as eleições”, mas sim a sociedade, de forma direta, participando e discutindo questões pertinentes.
Todavia, por razões óbvias, pessoas mais qualificadas, tanto na sua formação quanto na sua experiência, podem ser designadas para executar funções mais definidas (como o capitão de uma nova ou em uma missão, ou mesmo para ser Presidente da Federação ou da Frota).
Assim, pode-se dizer que as fronteiras entre Estado e sociedade civil, em Star Trek, são cada vez mais inexistentes ou até mesmo inexistente, já que não há uma distinção clara entre o que é a “Federação” e o “povo”. A população constitui os alicerces da Federação, e a Federação é formada pelo povo, e os postos de liderança e de maior importância são indicados e ratificados pelo próprio povo, utilizando critérios qualitativos, de preparo e de experiência.
Todos estes princípios estão de pleno acordo com a concepção marxista de comunismo: Definhamento do conceito de Estado (enquanto órgão de uma classe dominante da sociedade para dominar ou hegemonizar os setores restantes da sociedade), que existe no socialismo científico (para garantir a transição), mas gradualmente se dissolve como órgão de administração da sociedade para a própria sociedade (ou seja, povo se torna Estado e Estado se torna povo), depois que não existem mais distinções de classe no seio da humanidade.
Todavia, endossa a noção de uma sociedade “sem Estado” de tipo marxista, e não de tipo “anarquista”, justamente porque ainda há existe a continuidade de instituições sociais.
A sociedade se tornou (ou substituiu) o Estado, que é a Federação; existe algo que “ressignificou” as instituições militares, que é a Frota Estelar; existem tribunais e prisões; existem instituições sólidas que ainda são regidas por hierarquia. A desigualdade em StarTrek foi superada, mas sobretudo a desigualdade social e econômica (não existem mais classes), mas as noções de “liderança”, “hierarquia”, etc., ainda fazem parte da sociedade humana, ainda que as classes sociais tenham sido superadas.
Mas a noção de “igualdade” de boa parte dos anarquistas, a noção de que não devemos ter (nem seguir) líderes, hierarquia, que tudo (as assembleias e grupos coletivos) devem ser absolutamente horizontais, etc., esta noção, não é a noção que prevalece no universo de StarTrek. Assim, os paralelos de StarTrek com as teorias políticas reais aproximam o universo fictício muito mais do marxismo e do socialismo científico do que do anarquismo.
Assembleia da Frota Estelar (braço científico e de defesa da Federação) por ocasião da nomeação do Capitão Jim Kirk.
7 – “A Nova Moralidade e outras questões”
Ao mesmo tempo em que estamos falando de um novo tipo de sociedade, um novo tipo de economia e um novo tipo de fazer política, tudo isso engendra novas formas dos humanos se relacionarem, reverberando necessariamente em novas formas de ver o mundo, novas formas de se comportar… ou seja, uma nova moralidade.
Em StarTrek a humanidade está em um patamar em que se enxerga de forma distinta de como já se enxergou de em outros modos de produção. Enquanto a humanidade no século XXI ainda se vê de uma forma egoísta, sempre motivada por seus próprios interesses individuais, no século XXIV, por exemplo, domina uma concepção altruísta sempre motivada pelos interesses da humanidade enquanto uma coletividade (ou no caso, dos interesses da Federação, que vão além da humanidade).
Não mais empresários sedentos por poder e dinheiro, o “desafio” não é acumular posses e propriedades, o desafio agora, é engrandecer a humanidade em geral, se engrandecer moralmente e culturalmente. Os membros da sociedade, então, trabalham para fazer a humanidade chegar onde ela jamais esteve, ultrapassar as descobertas que ainda não realizamos no “ontem” e realiza-las “hoje”, sempre de forma contínua e incessante, sempre se melhorando enquanto membro de uma coletividade, de uma “família”.
A franquia “StarTrek: Next Generation” (nova geração) parece ser a que melhor exemplifica este espírito altruísta e de superação das classes sociais que há entre a humanidade no século XXIV.
Em um dos episódios da série, um grupo de empresários do século XXI, acidentalmente, acaba viajando no tempo e são obrigados a ficarem no século XXIV, e o diálogo de um dos empresários com um membro da frota e com o Capitão Picard é memorável. Segue abaixo a transcrição do mesmo:
– Membro da Frota: “Sei que isto pode ser muito confuso para vocês, mas tentarei explicar. Estão a bordo da nave estelar USS Enterprise”.
– Empresário: “Dos Estados Unidos?”.
– Membro da Frota: “Não, é uma nave da Federação Unida de Planetas, do qual a Terra é um Membro”. (…)
– Capitão Picard: “É disso que se trata. Avançamos muito nos últimos 300 anos. Não estamos mais obcecados por acumular coisas. Eliminamos a fome. O ‘desejo’, a necessidade das posses. Temos crescido enquanto espécie e superamos nossa infância”.
– Empresário: “E o que será de nós? Não há sinal do meu dinheiro! Meu escritório desapareceu. O que faremos? Como viver?”.
– Capitão Picard: “Este é o século XXIV, supostas necessidades ‘materiais’ não existem mais”.
– Empresário: “Então, qual o desafio?”.
– Capitão Picard: “O desafio, sr. Offenhouse, é ‘enriquecer-se’, melhorar a si mesmo. Desfrute-o”.
(Vídeo do diálogo: https://goo.gl/azLdtt)
8 – “Comentários finais”
StarTrek é uma grande franquia de entretenimento. Tanto em suas séries quanto em seus filmes, este universo encantou fãs e nerds por todo o mundo. Todavia, para quem compreende os postulados marxistas sobre o modo de produção comunista (superação das classes, abundância das forças produtivas, esvaziamento do conceito de Estado, etc.), StarTrek pode ser uma referência ficcional sobre possibilidades do nosso próprio futuro (obviamente, sem o aspecto “fantástico” e “aventureisco” da série).
Não há como não ver a “Londres do futuro” de StarTrek e ver a “avenida Mirae” de Pyogyang, capital da Coreia Socialista, sem perceber a semelhança que há entre as duas. Podemos até dizer que Pyongyang tem, dentro de si, um “pedaço do futuro da sociedade pós-socialista/comunista”.
Não podemos deixar de notar como se constitui as assembleias da Frota Estelar, a compreensão da necessidade da hierarquia e de instituições sólidas (mesmo findada a sociedade de classes), e como tudo isso se assemelha aos princípios de países socialistas (atuais ou os passados) que se organizam em assembleias e organismos de representação dos diversos setores da sociedade civil.
Até do ponto de vista “estético”, as assembleias ambientadas no cenário de Star Trek possuem semelhanças com o Soviet Supremo (da URSS) ou com a Assembleia Popular Suprema (APS, da RPDC).
E o mais importante do que nós, marxistas, podemos absolver da obra, é a noção da história: StarTrek trata-se da humanidade em um estágio de superação das classes, ou seja, não há mais contradições movidas por questões de ordem socioeconômica, e não é mais a luta de classes o motor da história. Todavia, isto não significa que as contradições e outros “motores” da história desapareceram, nem significa que outras contradições e outros “motores” não surgirão.
De certo modo, o que StarTrek demonstra (ainda que de uma forma “fantástica” e bastante ficcional) é que o que hoje entendemos por história, na verdade é a nossa “infância” enquanto espécie, ou mesmo a nossa “pré-história”, e que, para a humanidade realizar de forma plena as suas verdadeiras potencialidades e a sua verdadeira história, é necessário superar esta infância.
Apesar do criador da obra não ter pretensões socialistas claras, e de tentar se passar por alguém “isento” deste debate político, é quase impossível não compreender certas congruências do universo StarTrek com a realidade e com as possibilidades de nosso futuro.
Nós, marxistas, sabemos do que se trata esta infância histórica, e sabemos muito bem como a humanidade pode atingir a sua maturidade.
Complex Sci-Tech e Avenida Mirae (fotos reais) da RPDC, acima. “Nova Londres” de Star Trek (ficção), abaixo.
StarTrek, por detrás de suas aventuras fantásticas e mirabolantes, traz reflexões pertinentes e necessárias sobre a nossa sociedade e o futuro da humanidade. Se visto como um algo para além do mero entretenimento, contribui para compreensão de certos conceitos teóricos e para compreensão da própria história.
Se vocês ainda não assistiram, tanto os filmes quanto as séries (em particular a série “Next Generation”), façam-o pra já. Garanto que será divertido e enriquecedor.
À todos: Vida Longa e Próspera!