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Diário Liberdade
Sábado, 02 Junho 2018 15:23 Última modificação em Quarta, 06 Junho 2018 21:16

A queda de Rajoy: envolvimentos e consequências para a Venezuela

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País: Venezuela / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Resumen Latinoamericano

[Tradução de Carmen Diniz] Dois meses antes de sua queda como presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy afirmou que “Espanha teria um papel relevante na saída da crise da Venezuela” após uma reunião com Julio Borges e Antonio Ledezma. Nesse contexto, o anti-chavismo acaba de perder um de seus maiores aliados no gerenciamento de cerco e asfixia contra o país.

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Alguns contextos locais da passagem à nova vida de Rajoy.

Não é um dado político menor, dado que o antichavismo mais furibundo, d a mão de Mariano Rajoy e o Partido Popular (PP), obteve em Madri um dos eixos internacionais mais efetivos para atacar a Venezuela.  Desde esse ponto do globo terrestre, Lilian Tintori fez campanha a favor de Leopoldo López, Julio Borges do bloqueio econômico e Antonio Ledezma da intervenção humanitária, depois de lhe ser concedido o asilo político.

Desta forma, o antichavismo teceu uma série de relações apoiadas principalmente em um presidente e um partido que já não têm nem influência nem poder sobre as decisões de Espanha , que nos últimos dias tinha exercido pressão no seio da União Européia (UE) para aplicar mais sanções contra a Venezuela, baseado no desconhecimento das recentes eleições presidenciais vencidas pelo presidente Nicolás Maduro.

Neste contexto, dirigentes do antichavismo fugitivos da justiça lamentam-se nas redes sociais pela partida de Rajoy devido à sua “posição firme contra as violações aos direitos humanos de Maduro e a crise humanitária de Venezuela”. Paradoxalmente, o antichavismo se despede de sua luta contra uma das “ditaduras mais corruptas do mundo” a um dos políticos mais corruptos da história espanhola.

Cai Rajoy, fortalece-se o eixo a favor do diálogo em Venezuela?

Espanha, por outro lado, tem agora como presidente Pedro Sánchez do Partido Socialista Operário Espanhol com bem mais afinidade e aproximação política ao ex mandatário José Luis Rodríguez Zapatero, favorável a um processo de diálogo com a Venezuela

Nesse sentido, o antichavismo fica deslocado por carecer de um esquema (sob sua mediação) de relações, azeitado com um novo governo que busca recuperar a inspiração do “modelo Zapatero”, em referência a quem Julio Borges particularmente se encarregou de vilipendiar e atacar durante os últimos meses após o fracasso dos diálogos na República Dominicana.

Para além deste andar político, regressivo em aparência para o antichavismo, também impõe um palco onde o governo de Sánchez será bem mais dependente de uma coalizão respaldada fundamentalmente por Podemos, bastante alheio às posições mais beligerantes contra Venezuela.

O que estabelece certas condições para que Espanha possa dar um virada em sua forma de se aproximar ao gerenciamento diplomático com a Venezuela, podendo passar do eixo das sanções, às propostas de diálogo entre todos os venezuelanos.

Pode ser aberta uma janela na frente europeia

Desde esta tribuna também não vamos desconhecer o papel de gestor do poder financeiro e empresarial de Pedro Sánchez, nem tampouco de suas posições antichavistas no passado recente, em tentar projetar uma realidade feita na medida das expectativas positivas a favor do país. No entanto é um fato que a queda de Rajoy abre uma janela em um dos países europeus com mais interesses empresariais na Venezuela. Se ela pode ser aberta ou fechada, saberemos com o tempo.

Outros fatos também abonam este terreno, como a recente guerra comercial que Donald Trump iniciou contra a UE e o distanciamento de ambos a respeito do acordo nuclear iraniano, produzido em um contexto de crise política de vários países da zona do euro como a Itália.

Paradoxalmente, este cenário revela que a política comercial de Trump danifica a frágil estabilidade econômica da UE, principal fundamento da crise interna e as tendências desintegradoras (Brexit, Italexit, Grexit, etc.), em um momento em que Irã e Venezuela poderiam ser garantidores de fornecimento de energia que assegure este caminho para os europeus.

Também se contempla um cenário no qual, como se dá a respeito do caso russo (Skrypal, Ucrânia, etc.), a tecnocracia europeia pudesse terminar apostando por acompanhar cegamente Trump para seu próprio suicídio político. O tempo dirá quanta força possui esta possível sinergia entre Venezuela e Europa.

A frente internacional antichavista dá mostras de esgotamento.

Para além destas considerações e interpretações, a queda em desgraça do PP dá-se em um contexto de constantes baixas na coalizão de países mais ativos contra a Venezuela. Meses antes, a vez tinha sido do fundador do Grupo de Lima, o gringo-peruano Pedro Pablo Kuczynski, e agora o é o de Mariano Rajoy.

Uma tendência que parece não se deter aqui, se se tem em conta a iminente substituição de Enrique Peña Neto como presidente de México nas próximas eleições, também parte deste mesmo elenco a favor do gerenciamento do bloqueio de Donald Trump contra Venezuela.

Inclusive, a Administração Trump pode ficar mais sozinha ainda em sua imposição de medidas unilaterais contra Caracas se Manuel López Obrador ganha no México e se une a uma frente comum contra Estados Unidos em espaços institucionais de importância como a Organização de Estados Americanos (OEA), que atualmente instrumentaliza fatores de poderes para criminalizar juridicamente o Governo Bolivariano. Nesse sentido, o único aditivo positivo para a Administração Trump pode ser a vitória do uribista Iván Duque na Colômbia como forma de compensação.

Todo este panorama, para além de seu futuro imediato, outorga maior tempo político ao presidente Nicolás Maduro para administrar o conflito contra Venezuela e enfrentar a Casa Branca na arena internacional.

O que não é pouco em um contexto no qual os países com fragilidade institucional e política se colocam contra, e os de maior solidez a seu favor, como são os casos de China e Rússia, já que possibilita um espaço para que a iniciativa política da Venezuela possa prosperar, assim como tenta fazer o Governo Bolivariano com a convocação de um Grande Acordo Nacional. Um cenário que põe o chavismo em condição de aparente vantagem frente a seus inimigos de imediato.

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