Quem quer mais e mais guerra, e por que Rússia e Irã se autoimpedem de responder às incontáveis provocações que recebem na Síria?
Tambores de guerra soaram alto sobre a Síria ao longo dos últimos poucos meses, depois que a Síria e seus aliados, principalmente a Rússia, libertaram o sul do país e dirigiram todos os seus recursos militares para a cidade de Idlib, ao norte. Essa cidade está sob controle turco, mas tem menos de dois milhões de habitantes, dos quais dezenas de milhares são jihadistas e agentes turcos pesadamente armados. EUA e Europa manifestaram o desejo de atacar a Síria, “se fossem usadas armas químicas contra a cidade”. Foi como um convite para que grupos especializados em Idlib encenem um ataque e forneçam o pretexto para que forças dos EUA e da União Europeia usem seu poder de fogo para destruir a o exército, a força aérea e aeroportos sírios. Essa é, na verdade, a chave para a falta de reação de russos/sírios/iranianos às incontáveis provocações de Israel e para o acordo russo-turco para suspender a guerra em Idlib.
Fontes com poder de decisão disseram que “a Rússia ficou seriamente preocupada com a intenção de EUA e Europa destruírem o Exército Sírio, no caso de acontecer um ataque químico mesmo que cenografado pelos próprios agressores. Os EUA deram jeito de se esconder por trás de uma coalizão que inclui Grã-Bretanha, França e Alemanha para bombardear a Síria, tornando muito difícil qualquer reação militar dos russos.
Putin sabe das intenções dos norte-americanos e não está na Síria para iniciar a 3ª Guerra Mundial, mas para pôr fim à guerra local. Mas aos EUA não interessa que a Síria se recupere e não querem ver a Rússia ampliar seu controle sobre o Oriente Médio”.
O acordo turco-russo para adiar a batalha por Idlib, abençoado pelo governo central em Damasco e ao qual se chegou depois de várias intervenções do Irã como mediador, visa a manter Ancara próxima da linha Moscou-Teerã-Damasco e a impedir guerra mais ampla na Síria.
Por exemplo, o Exército Árabe Sírio precisou de três anos para preparar e equipar o aeroporto militar Shuay’rat, e os EUA em três minutos o tornaram absolutamente impraticável por outros três anos. Rússia, Síria e Irã esforçam-se para evitar que cresçam as dificuldades econômicas e reduzam-se as capacidades da Síria. Além disso, um Exército Árabe Sírio esgotado seria como um incentivo para os mais de 60-70 mil terroristas e rebeldes em Idlib e arredores romperem o sítio e avançarem para Aleppo – o que ampliaria a guerra e daria novas oportunidades aos inimigos da unidade síria, para voltar a acumular forças.
Damasco aprecia que a atmosfera de guerra dilua-se, e Ancara tenham mais tempo seja para desarmar os jihadistas, seja para atacá-los, ou agregar muitos deles nos grupos de agentes turcos. O governo sírio muito se beneficiar do acordo, se for respeitado, porque se todo o armamento pesado for confiscado pela Turquia, como estipula o acordo, a capacidade militar dos jihadistas e rebeldes estará consideravelmente reduzida.
Além disso, o que não foi oficialmente anunciado é que a Turquia deu uma garantia de que não se encenará qualquer tipo de ‘ataque químico’ em Idlib para “provocar” o tão longamente anunciado ataque de EUA+UE contra a Síria.
No domingo à noite, Israel atacou com mísseis um avião cargueiro iraniano na pista do aeroporto de Damasco. Os mísseis israelenses não miraram diretamente o avião e caíram apenas perto do avião. Mas perto o suficiente para incendiar o avião e matar o copiloto. É ação sem precedentes dos israelenses, primeira vez que buscam esse tipo de alvo, em sete anos de guerra na Síria.
Segundo fontes em nível de decisão na Síria, Israel pediu à Rússia que “impedisse o fluxo de armas do Irã para Hezbollah e Síria”. Moscou respondeu a Tel Aviv que essa luta não é parte do que os russos fazem na Síria, e a Rússia não tem interesse em servir fiscalizar movimento de armas do Irã para seus aliados.
Assim também, quando o Irã pediu à Rússia que forçasse Israel a pôr fim aos ataques na Síria contra forças iranianas e aliados, Moscou respondeu do mesmo modo: “não estamos aqui para participar na luta de vocês com Israel”.
Mas depois que o ministro da Defesa do Irã prometeu fornecer à Síria (a Rússia não entregou até hoje o sistema S-300) mísseis antiaéreos, capazes de atacar jatos israelenses sobre a Síria e o Líbano, Israel decidiu dar um passo adiante. Por isso Israel decidiu bombardear qualquer cargueiro que possa aumentar as capacidades sírias e qualquer fábrica de armas na Síria que fabrique mísseis de precisão.
Mesmo assim, segundo fontes na Síria, o Irã importou suficientes tecnologia e mísseis para seus aliados, de modo que os jatos de Israel não podem agredir capacidades sírias, nem capacidades do Hezbollah no Líbano.
“Mesmo que o Irã perca 15 aviões cargueiros na Síria, nada impedirá que os iranianos deem o necessário apoio aos próprios aliados”, disse a fonte.
Poucas horas depois do acordo de Idlib entre russos e turcos, jatos israelenses dispararam contra uma instalação militar que opera para desenvolver capacidades militares sírias. Quatro mísseis atingiram o alvo e outros foram interceptados pelo sistema de defesa sírio. Mesmo assim, um avião russo de vigilância também foi atingido por um míssil sírio, quando manobrava para pousar, a 27 km de Banias (onde os pedaços do avião foram encontrados).
“A Rússia pagou preço altíssimo por se recusar a servir-se da posição de superpotência na Síria, e por não ter conseguido impedir que inimigo externo (EUA, UE ou Israel) bombardeasse seus aliados num teatro controlado e dominado pelos russos. Para proteger um perímetro no qual havia forças suas, os EUA atacaram e mataram centenas de sírios nas montanhas al-Tharda, no governo Obama; e mais muitos outros sírios em Deir-Ezzour e al-Badiya. Muito diferente disso, os mísseis israelense voaram sobre o aeroporto sírio-russo de Hmaymeen, e os Tomahawks dos EUA que atacaram o aeroporto Shuay’rat voaram sobre a cabeça das forças russas” – disse a fonte, que é parte do comando russo na Síria.
Espera-se que a derrubada do avião russo resulte em se impor a Israel completa coordenação e a exigência de aprovação para sobrevoar a Síria, a ser solicitada e obtida horas antes de qualquer ação, de modo que os russos possam manter a posição de neutralidade. Isso também dará à Síria e aliados a possibilidade de se preparar para os jatos e mísseis de Israel, removendo armas sensíveis, para diminuir as perdas.
Moscou pagou um preço, mas Israel perdeu um privilégio – o que beneficia os aliados da Rússia. O passeio dos israelenses sobre a Síria pode não ficar nisso, porque Israel jamais se limitou a “defender a própria segurança nacional”, como Tel Aviv vive a repetir para justificar qualquer ato de guerra ou de agressão contra outro estado ou grupo. As violações de Israel contra o espaço aéreo da Síria talvez não cessem completamente, mas serão reduzidas por alguns poucos dias, o suficiente para que Irã e aliados possam recompor qualquer capacidade que tenha sido destruída.
Irã, Rússia e Síria não detiveram a batalha por Idlib – para evitar uma guerra –, para, agora, se verem apanhadas numa nova armadilha disparada por Israel ou pelos EUA. Não faz sentido que Rússia, Irã e Síria cuidem de não dar aos EUA, Israel e Europa qualquer pretexto para dispararem uma guerra, se isso custar aos russos e aliados o preço de aparecerem como fracos e intimidados aos olhos do mundo.
Todas essas difíceis e perigosas decisões são tomadas para dar à Síria o tempo necessário para novamente se pôr em pé. São ações essenciais para frustrar o projeto belicista do establishment nos EUA. E são também necessárias, se os três países querem efetivamente ver as respectivas economias florescer, em vez de consumir todos os próprios recursos numa guerra que tenha por plataforma a Síria.