O tratado Molotov-Ribbentrop, assinado entre a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e a Alemanha nazista, em 23 de agosto de 1939, é frequentemente mencionado. Com o tal do tratado, Moscou tentava evitar ou, pelo menos, retardar a agressão ao seu território, mas pouco se fala que em 29 e 30 de setembro de 1938, na cidade alemã de Munique, os primeiros-ministros da Grã-Bretanha e França se reuniram com o Führer e o Duce para aprovar o desmembramento da Tchecoslováquia, a rendição da Polônia e o ataque alemão à URSS.
A União Soviética, que já havia proposto um acordo para o desarmamento geral, na Conferência sobre Desarmamento realizada em Genebra, em 1932, propôs em 1938 aos principais círculos de liderança da França e da Grã-Bretanha uma aliança, que foi rejeitada de imediato. As grandes potências capitalistas sonhavam então ver desfilar com júbilo os tanques alemães Panzer pelas ruas das cidades soviéticas.
Todas as tentativas da URSS de criar um front comum para evitar a guerra fracassaram, diante do interesse prioritário das potências ocidentais de pôr fim ao primeiro Estado socialista do mundo.
O curso da guerra, que se tornou global, levou os Estados Unidos e a Inglaterra a tomar partido do lado da URSS. Assim os antigos inimigos se aliaram em face de um perigo maior.
O fascismo foi derrotado e o prestígio conquistado pelo primeiro Estado socialista foi imenso, os comunistas por toda a Europa desempenharam um papel proeminente na resistência antifascista e tiveram uma crescente simpatia entre o povo, inclusive nos próprios Estados Unidos.
O aliado circunstancial era desconfortável e voltou a ser o inimigo, as potências capitalistas deviam colocar um «muro de contenção à influência comunista». E a «contenção» acabou, se tornando o princípio orientador da política ocidental e permaneceu assim pelos próximos 40 anos.
Embora o termo tenha sido usado pelo escritor George Orwell em seu ensaio You and the Atomic Bomb (Você e a Bomba Atômica), em outubro de 1945, o primeiro uso político da expressão é atribuído a Bernard Baruch, assessor presidencial dos EUA, em 16 de abril de 1947, e foi popularizado pelo colunista Walter Lippmann em seu livro The Cold War (A Guerra Fria).
A Guerra Fria foi um confronto que cobriu um amplo espectro: político, econômico, social, militar, informativo, científico e até mesmo esportivo, e durou — pelo menos aparentemente — até a dissolução da URSS.
O acordo tácito das superpotências de não usar armas nucleares em face do perigo do extermínio mútuo em massa, o fato de que nenhum dos dois blocos tomasse ação direta contra o outro, definiu o termo, o que não significa que os confrontos fossem escassos, porque a guerra fria foi marcada por ações muito quentes em muitas partes do mundo, que geraram milhões de mortes: a Guerra da Coreia, a Guerra do Vietnã, os golpes militares na América Latina, intervenções militares, operações de extermínio como a Fénix e a Condor, entre outras.
A existência da URSS tornou possível o triunfo dos processos democráticos e revolucionários em muitas partes do mundo. O imperialismo não podia agir com total liberdade para dominar e derrotar os processos progressistas, e o equilíbrio de forças nas relações internacionais permitiu, fundamentalmente, realizar processos de descolonização na Ásia e na África.
Com a queda da URSS e o desaparecimento do bloco socialista, o poder global capitalista mundial teve as mãos livres, agora, aparentemente, era o proprietário absoluto dos destinos do mundo.
A hegemonia mundial dos EUA chegou ao seu apogeu: a roubalheira «à mão armada» dos recursos de países como o Iraque, a Líbia, o Afeganistão, o saque das riquezas dos países dependentes, marcou os anos após o fim da Guerra Fria. Assim, aumentaram os ataques para se apropriar dos recursos e mercados naturais.
Eufóricos, os defensores do capitalismo proclamaram o fim da história, o triunfo total do egoísmo, da predação, mas o agressor ficou estagnado nas novas guerras coloniais.
A América Latina e o Caribe se recusaram a aceitar a imposição. Cuba se tornou um paradoxo político, segundo os especialistas da CIA, enquanto Venezuela, Bolívia, Argentina, Equador, Brasil e Nicarágua começaram a traçar um curso continental independente e soberano, com a Aliança Bolivariana para os Povos da América (ALBA-TCP), a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e outros mecanismos de integração e colaboração.
A Rússia capitalista não deveria ser o inimigo mas, sob o pretexto da luta contra o terrorismo, foi cercada de bases militares, apoiaram processos secessionistas em seu território, geraram e promoveram conflitos nas antigas repúblicas soviéticas e no território russo.
Apesar dos saque gerado naquela grande nação pelo capitalismo selvagem, nos anos que se seguiram à queda do socialismo, e da conspiração ocidental-norte-americana para destruir sua economia e transformá-la em um país dependente, eliminando um possível concorrente poderoso para os mercados, a Rússia continuou seu caminho sem hesitação com uma política externa soberana, enquanto as enormes riquezas materiais e humanas do imenso país mais uma vez o colocaram em uma posição de liderança mundial.
Por outro lado, a República Popular da China emergiu como um forte opositor dos interesses geopolíticos e econômicos dos Estados Unidos. A influência chinesa-russa — aliados estratégicos — começou a ser vista como um perigo real pelos supostos senhores do mundo, especialmente na América Latina.
Na América Latina, para pôr fim aos processos e governos progressistas, tentam-se variantes de golpes de Estado, guerras não convencionais, onde a aliança da grande mídia privada com os políticos da direita, o poder judicial, a oligarquia entreguista, a CIA e o governo dos Estados Unidos articulam um front comum que foi bem sucedido nos últimos tempos.
Em nome da luta contra o terrorismo e o tráfico de drogas, novas bases militares estão sendo estabelecidas no continente, as existentes são modernizadas e a presença dos militares dos EUA é significativamente aumentada.
O RISCO NUCLEAR
A administração de Donald Trump anunciou, em 2 de fevereiro deste ano, a «Revisão de sua posição nuclear», um documento desenvolvido pelo Pentágono, que estabelece o papel das armas nucleares nas necessidades geoestratégicas e de segurança dos EUA.
A porta-voz oficial da diplomacia russa, Maria Zakhárova, durante uma entrevista coletiva, em 15 de agosto estimou que o aumento «sem precedentes» dos gastos militares dos EUA «exerce um efeito destrutivo sobre o sistema de segurança internacional existente e constitui um renascimento da corrida armamentista, de consequências desastrosas».
Donald Trump assinou a Lei de Autorização de Defesa Nacional, em 13 de agosto, para o ano fiscal de 2019, que aloca mais de US$ 716 bilhões para o setor militar.
Muitos analistas acham que é o retorno da Guerra Fria, levando em conta o ressurgimento de um cenário de confronto entre as duas maiores potências nucleares: a Rússia e os Estados Unidos, cenário em que a China deve ser levada em conta.
«A Guerra Fria voltou», advertiu o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, ao inaugurar uma sessão extraordinária do Conselho de Segurança, convocada pela Rússia em abril.
Em seu discurso, Guterres advertiu que a disputa entre os países envolvidos no conflito (Estados Unidos e seus aliados: Reino Unido e França) e o governo sírio de Bashar al-Assad, apoiado pela Rússia «é o maior perigo atual para a segurança e a paz internacional».
A grande questão é: a China e a Rússia assumirão o papel de nivelar as forças, de tal forma que os tambores, que hoje batem pela guerra, parem de rufar?
O multilateralismo, a luta determinada e unida dos povos do mundo pela paz, a paz que não pode ser alcançada com mais armas, pode construir o equilíbrio necessário. Vamos apelar, pelo menos, ao instinto de sobrevivência, ao senso comum, para que os canhões se acalmem, de modo que a excessiva ambição, típica do sistema que hoje domina o mundo, não possa triunfar.