Ariane Genthon e Bernd Seiffert, dois especialistas daquele organismo das Nações Unidas afirmaram à Lusa que “as famílias pobres dependem normalmente do trabalho das crianças para poderem satisfazer a suas necessidades básicas”.
Perante este quadro, “ sem educação, estes rapazes e raparigas vão, muito provavelmente, continuar a ser pobres”, acrescentaram.
Por seu turno, a diretora executiva do Comité Português para a Unicef, Madalena Marçal Grilo afirmou que foram criadas nas plantações de cacau da Costa do Marfim “comissões específicas que prestam serviços de educação, saúde e proteção às famílias, e sensibilizam os pais para a importância de os filhos irem à escola em vez de trabalharem nas plantações”.
Para se atingir este objetivo, aquela responsável dá como exemplo as 13 escolas que a Unicef construiu em comunidades nas quais se cultiva cacau e que são destinadas a crianças em maior risco de trabalho infantil. Ao todo são 650.000 os rapazes e raparigas que beneficiam desta ajuda.
No entanto e apesar destes esforços, um estudo datado de 2015 da Universidade de Tulane, em Nova Orleães, nos Estados Unidos, revelou que o número de crianças a trabalhar nas plantações de cacau daquele país africano aumentou 30 por cento entre 2008 e 2014.
Mudança de estratégias
Por outro lado, no Gana - o segundo maior produtor de cacau - este problema tem merecido igualmente a atenção das instâncias da ONU e a situação é menos negativa , uma vez que número de crianças que trabalham na produção daquele produto baixou 7% entre 2008 e 2014.
“Há alguns anos atrás, a FAO apoiou a criação de um departamento de trabalho infantil no ministério da Agricultura do Gana, o que foi um fator decisivo para o ministério participar mais ativamente numa abordagem de todas as partes interessadas no trabalho agrícola infantil, incluindo as áreas de cultivo de cacau”, explicaram peritos da FAO.
No entanto, os esforços feitos ao longo dos últimos anos não se refletem nos números revelados pela Universidade de Tulane, que alerta que à medida que a procura mundial de cacau cresce, os métodos de produção e as estratégias para reduzir o trabalho infantil precisam de “mudar drasticamente” para se alcançar um “maior progresso”.
Assim, dos 3,55 milhões de crianças que viviam em meios rurais da Costa do Marfim em 2008, 2,42 milhões estavam envolvidas na produção de cacau, cerca de 68% do total.
Em 2014, o número aumentou cerca de 30%, ou seja, existiam 3,73 milhões de crianças a viver nos meios rurais e, destas, 3,65 milhões trabalhavam na indústria do cacau – 98% do total das crianças.
O crescimento da participação de crianças nestes trabalhos deve-se, em parte, ao aumento das colheitas entre 2013 e 2014 na Costa do Marfim.
Apesar do aumento que se verificou no número de crianças a trabalhar na produção de cacau da Costa do Marfim, o estudo da Universidade de Tulane refere que a “percentagem de crianças entre os cinco e os 17 anos que vão à escola aumentou” nos meios rurais deste país.
Segundo dados revelado pelo estudo, no Gana existiam 2,16 milhões de crianças nos meios rurais em 2008, mas o número de menores que trabalhavam nas plantações de cacau ultrapassava os 2,88 milhões, número que revela um fenómeno de importação de mão-de-obra infantil.
Em 2014, havia 2,25 milhões de crianças a viver em meios rurais, mas 2,79 milhões empregados na produção de cacau. O número de crianças a trabalhar nas plantações do Gana diminuiu 7%, mas o número manteve-se superior ao da população infantil residente.