Ante as eleições de 25-S, abstenção!
Encontramo-nos em uma longa fase eleitoral dentro do Estado espanhol, que se enquadra como uma fase dentro das múltiplas crises que a afetam, na situação de crise geral e reconfiguração do capitalismo mundial, com o objetivo de abrir uma nova fase de acumulação.
Nesta fase eleitoral, é a vez, agora, do governo autonômico das três províncias vascongadas sob domínio do Estado espanhol e, igual que nas anteriores convocações, tanto estatais como locais e europeias, o que em princípio se mostrava como uma possibilidade de intervenção democrática mediante novos partidos e em concreto mediante a nova estratégia da Esquerda Independentista afim a EHBildu se demonstra antes como uma manobra de relegitimação do sistema espanhol saído da transição o preparando o que está para vir nos próximos anos.
A nível estatal, as sucessivas repetições de eleições reforçam o sistema monárquico após a renovação da chefia do Estado e a insuficiência de forças para uma imprecisa «mudança» em que o único claro era a unidade da Espanha e a defesa da propriedade privada que finalmente se converteram em simples apoios possíveis para a continuidade do PSOE e do PP.
Na Comunidade Autônoma Basca apresenta-se-nos uma situação na qual a liderança do partido regionalista PNV não é discutida por nenhuma das forças contendedoras, limitando seu discurso a possíveis pactos em que a burguesia possa se sentir cômoda e controlar os ritmos.
Temos que reconhecer a enorme vitória do Estado sobre o que tradicionalmente se considerou como a dissidência basca, uma vez que o que sempre se considerou como uma ferramenta mais para a consecução de uns objetivos históricos, como eram a independência e o socialismo em Euskal Herria, veio a se tornar um fim em si mesmo. Uma campanha de caráter personalista ao estilo norte-americano, sem conteúdo e sem projeto nenhum, que delega um possível programa nacional em pactos com o PNV e um programa progressista (sic) em pactos com o pseudosoberanismo de Podemos. O programa com que se apresenta a Esquerda Independentista é o de ser um bom gestor do capitalismo, o que nos leva a questionar como se poderá chegar à República Socialista Basca se as forças se vão investir em transformar o existente em um falso «Estado decente», perpetuando a divisão nacional e apostando em uma impossível «paz social», quando a exploração e a opressão se acentuam consideravelmente.
A esquerda independentista propõe como legenda «um país compartilhado», não explicam é como podemos compartilhar o nosso país se nem somos donos dele, sendo de fato propriedade privada da Espanha e da França com parte de usufruto para as burguesías regionais do PNV, UPN, UMP... estando além disso administrativamente divididos e como pátria negados. O candidato ilegalizado -não entra EHBildu ao assunto de como é possível a participação democrática sem poder elaborar listas e continuando como na fase anterior sob a espada de Dámocles- comenta-nos como contributo que a Esquerda Independentista trouxe «nacos de paz». Vistos os acontecimentos de Etxarri Aranaz (repressão descontrolada da manifestação pró amnistia) junto à situação repressiva geral e de terror «silencioso» sobre as grandes camadas populares (mediante demissões, despejos, ataques ao euskara...) perguntamos de que servem os nacos de paz, que antes diríamos que são paz para os opressores, enquanto os que sempre têm estado oprimidos têm que seguir aguentando altísimos níveis de terror e violência.
Vivemos tempos convulsos, tempos de mudanças, tanto a nível nacional como a nível internacional, nos quais essa besta que é o sistema capitalista está mais desbocada do que nunca. Uma vez concluído o período eleitoral, legitimadas de novo suas instituições, voltará com mais força a aumentar as suas taxas de lucro. Ao não ser possível uma nova fase expansiva pela finitude do planeta, a crise ecológica, energética... a sua aposta é extrair mais e mais das classes populares e das nações oprimidas. O Estado espanhol tem que cortar 30.000 milhões de euros, quer dizer, transferir essa quantidade às oligarquias europeias e na CAV vai ser o PNV que vai gerir a parte que lhe corresponde.
Não é suficiente existir uma teórica maioria pelo direito a decidir com forças que como o PNV não querem a independência e que como Podemos nos querem cômodos na Espanha. Não é suficiente se nem tão sequer são capazes de superar a divisão da CAV e Nafarroa, sabendo que é um passo estratégico para a construção de Euskal Herria.
O campo institucional demonstra-se, não só insuficiente, como, sendo a prioridade principal da luta da Esquerda Independentista, se converte em contraproducente. É necessário a construção de organizações populares revolucionárias, a criação de poder popular, que sejam conscientes da necessidade de todas as formas de luta, não exclusivamente da luta institucional, em ir obtendo vitórias, por pequenas que forem... como nos demonstrou nossa própria luta e a de todos os povos.
É fundamental a formação dos e as militantes em uns valores, que é o que mais teme o sistema, militantes que mediante uma práxis revolucionária se convertam nos quadros do dia de manhã, que poderão primeiro organizar, posteriormente, expandir e, finalmente, conduzir a revolução. Não se trata de fazer rebanho, e sim povo organizado.
Para 25 de setembro não vemos que nenhuma das forças que participam representem realmente os interesses das classes populares e trabalhadoras de Euskal Herria na defesa de seus interesses, daí que não vamos pedir o apoio para nenhuma delas, apelando à abstenção. Nossa aposta é a construção do movimento de libertação nacional com consciência de classe que possa levar a bom termo os objetivos da independência, o socialismo, o feminismo, a reunificação e a reeuskaldunização, é uma aposta de mais longo prazo que exige que nos ponhamos já a trabalhar para a conseguir.
Queremos, doutro lado, transmitir força aos e as companheiras que estiveram em greve de fome durante 23 dias pela anistia e a excarcelação dos e das presas doentes em Etxarri-Aranaz, bem como às presas e presos políticos bascos que estiveram em luta no cárcere de Valence (França) e em greve de fome rotatória em Huelva. Estando próximo o Gudari Eguna, também nossa sentida homenagem a todas e todos os caídos na luta e fazemos um apelo para a participação nas diferentes mobilizações que se forem realizadas.
Boltxe Kolektiboa
20 de setembro de 2016