Seria assim para quem, como o autor, que fugia da destruição na Europa causada pelas invasões expansionista do fascista Hitler, e foi bem recebido por seus colegas intelectuais brasileiros com o carinho que o grande escritor merecia. Foi, talvez um título de gratidão e votos de progresso, mais que a revelação de um conhecimento da história da nação brasileira.
A promoção das belezas pelos poderosos serviu de base à indústria do turismo que, mesmo incipiente, agradava aos visitantes com as qualidades humanas de um povo habituado a servir, a ser gentil, a produzir uma alimentação saborosa com os produtos da terra sem requintes na apresentação, mas com o conhecimento herdado de europeus e africanos ou dos indígenas nacionais.
Ao visitante de passagem, e mesmo aos que compravam uma casa ou fazenda para descanso familiar de quem trabalhava ou vivia na Europa, não interessava conhecer a história da ocupação colonial traduzida em "descobrimento" de algo semelhante ao paraiso. Atribuiam ao brasileiro um caráter jovial e solidário, sem perceber que fora forjado pelos escravos vindos da África ou das selvas brasileiras para não serem agredidos pelos "donos" e patrões contratados para exigirem com o chicote o cumprimento dos seus "deveres", ou então para amenizarem um convívio obrigatório onde o respeito humano era reservado para os brancos proprietários. As amas davam aos filhos dos "donos" o amor que não podiam dispensar aos seus próprios que eram vendidos como gado para aprenderem desde cedo a trabalhar. Foi a fibra dos escravos, de tantas etnias africanas e indígenas, que os fez conservarem a prática do convívio feliz para não sucumbirem nas vida de torturas que enfrentavam separados das sua gente e dos seus costumes.
Mas quem organiza a indústria do turismo não quer saber dos motivos que tornam agradável o trabalho prestado. Interessa apenas o valor monetário a ser alcançado com estas qualidades, nem se o trabalhador mostra-se prestável por ter medo de perder o emprego ou de levar uma bofetada do turista. Este exemplo, da indústria turística mostra como funciona o sistema capitalista. O "empreendedor turístico" (termo hoje muito em voga, como se empreendedor fosse uma técnica, ciência ou arte) aproveita-se das diferenças sociais e econômicas para explorar o trabalhador pobre e enganar o turista rico.
A história do Brasil ha 500 anos vem da organização do Estado de modo que esta maravilha da natureza, enriquecesse os seus "descobridores" (que carregavam as caravelas com pau brasil, ouro, pedras preciosas, papagaios e araras lindíssimas), os colonos que aqui se estabeleciam utilizando uma "terra em que, plantando, tudo dá", e os comércios na Europa, principalmente da Inglaterra e Holanda que eram mais desenvolvidos e logo afastaram Portugal do domínio político e começaram a organizar o Estado fazendo de Pedro II imperador, através dos homens influentes que conduziam a corte, alheia aos seus contactos com os Bancos e outras instituições europeias que manipulavam o nascente governo brasileiro. Enfim, sem negar os méritos pessoais dos "empreendedores" da época iniciada em 1722 com o Grito do Ipiranga, aí começou a criação de uma bela imagem do país promissor para quem fosse esperto (como o sistema capitalista requer) e trágico para quem era escravizado para trabalhar de graça (outra característica capitalista).
E o Estado foi sendo organizado para enriquecer os espertos e empobrecer os que não podiam se defender da exploração por serem indefesos e miseráveis, ou ingênuos e de boa fé. Entre estes extremos sociais foram surgindo variadas situações: escravos com conhecimentos técnicos aprendidos na África, por exemplo a produção do ferro e a montagem dos engenhos ou a capacidade de ler e escrever e fazer contabilidade que os africanos de etnias muçulmanas usaram para trabalharem nas vilas e receberem salários com que compravam a sua liberdade aos senhores da fazenda; ou filhos mestiços dos proprietários e escravas que adquiriam alguma formação para aplicar a sua inteligência em tarefas remuneradas no serviço público; ou alguns que se tornavam espertos e ajudavam os patrões a resolverem questões mais complexas adquirindo privilégios sociais e econômicos. Enfim, nasce e cresce uma classe média que vai trabalhar no Estado, no comércio e na política, de modo a manter os ricos bem compensados e os pobres bem explorados. E assim veio a República que defendia o latifúndio, e começaram os levantamentos sociais inspirados na Revolução Francesa e nas propostas de democracia nos Estados Unidos que despertaram a consciência nacional, como o movimento "Tenentista" e a "Coluna Prestes" que desvendou a miséria em que viviam os brasileiros por um imenso território com riquezas inexploradas. Os anarquistas vindos como imigrantes trouxeram os ensinamentos das lutas sindicais na Europa que se conjugaram com a repercussão da revolução Russa e a formação dos Partidos Comunistas.
Caminho para um Estado independente
Abreviando, Getúlio tornou-se Presidente da Repúbica e, com a esperteza capitalista, deu início à formação de um Estado com alguns benefícios sociais sob a forma de legislação, sobretudo referentes aos trabalhadores para organizar as camadas pobres. No entanto os Estados Unidos que já tinham legislado sobre a sua democracia limitando as liberdades sociais, ajudaram os povos da América Latina a expulsarem os colonizadores espanhóis e empresas britânicas que dominavam a economia do continente e ficaram no lugar deles controlando a modernização das nações no uso da energia elétrica e gás e na expansão das estradas de ferro e dos portos, básicos para o desenvolvimento industrial. Por exemplo, no Brasil, mesmo como ditador Getúlio acatou a proibição norte-americana de exploração do petróleo que concorreria com o que era vendido pelos EU. O grande escritor Monteiro Lobato descreveu esta situação e foi preso, assim como outros comunistas e democratas que também denunciaram a impossibilidade de desenvolver o Brasil para os brasileiros.
Com a Segunda Guerra em curso, os EU permitiram a exploração dos minérios no Brasil porque precisavam deles. Getúlio tinha ameaçado apoiar Hitler (que estava de olho na riquesa dos metais brasileiros) e deu nício à extração do ferro para alimentar uma futura indústria siderúrgica. A partir destas ocorrências históricas Getúlio começou a defender uma linha nacionalista e populista. Então foi dado um golpe militar a 29/10/45, que colocou o general Dutra no poder com a introdução do liberalismo e a promessa de fazer eleições democráticas.
Com o populismo demonstrado durante a ditadura Getúlio foi eleito em Janeiro de 1951,sendo apelidado de "pai dos pobres". Getúlio redigiu os decretos de criação das empresas estatais de siderurgia, petróleo, eletricidade, transporte e admitiu o capital estrangeiro no país desde que associado ao Banco Nacional - BNDE - para estimular a industrialização nacional. Passando a denunciar as excessivas remessas de lucro para o exterior, sofreu pressões crescentes do imperialismo e seus títeres brasileiros. Diante das ameaças, v iu-se compelido ao suicidio deixando uma imagem de estadista e democrata que não teria se fosse assassinado. Deixou a Carta-Testamento com a frase inicial: "Nada mais posso dar a não ser o meu sangue...".
O desenvolvimento intelectual e político trazido pela ONU
Depois de uma fase de golpes e contra-golpes foi eleito Juscelino Kubittschek que criou o Instituto Superior de Estudos Brasileiros com a finalidade de investigar as causas do subdesenvolvimento do Brasil. Estabelecia-se um vínculo forte com organismos criados pela ONU, como a CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina, no Chile, criados com a mesma perspectiva conhecida como "desenvolvimentista". "As empresas estrangeiras exportadoras de produtos manufaturados", dizia o economista Bresser Pereira, "em face do surgimento de empresas nacionais e das barreiras cambiais e tarifárias à entrada de seus produtos no Brasil, viram-se diante da alternativa de ou realizar grandes investimentos industriais no Brasil ou perder o mercado brasileiro. É evidente que optaram pela primeira opção."
Discutia-se a questão levantada por Prebish, diretor da CEPAL: Desenvolvimento ou crescimento econômico, entendendo-se desenvolvimentismo como expansão de crescimento. Nesta fase, de 1956 a 1961, Juscelino fez um governo liberal mas democrático. Segundo FHC quando professor, Juscelino deu alegria e confiança ao povo. Desenvolveu um Plano de Metas para reduzir o atraso nacional que prejudicava o desenvolvimento e a vida dos brasileiros mas o FMI negou financiar os 300 mil dólares necessário, o que levou JK a romper em 1959 com o FMI. Tentou projetar o Brasil a nível internacional com uma Operação Pan-Americana mas os EU recusaram participar. A inflação de 31% ao ano impediu que Juscelino elegesse como sucessor o general Lott. Venceu Janio Quadros que renunciou em 1961 referindo a pressão de "forças ocultas" e João Goulart, vice-Presidente assumiu e tentou várias reformas até ser derrubado pelo golpe que deu início à Ditadura Militar em Março de 1964.
Ditadura apoiada pelo imperialismo
Os militares brasileiros dividiam-se entre duas linhas: "Moderada", como o gen. Castelo Branco que assumiu a chefia do governo em 1964 até que morreu na queda do seu avião em1967, sendo substituido por um da "Linha Dura", gen. Costa e Silva.
Depois de 21 anos de ditadura, com perseguiçōes políticas e arbitrariedades de todo o tipo que resultaram em violências, assassinatos, torturas, que o "milagre econômico" não conseguiu apagar com apoio do capital estrangeiro (livre dos constragimentos criados anteriormente para defender a soberania nacional) e a recuperação do crédito internacional, provocando uma crescente desigualdade social na distribuição de renda. Diante da crise do sistema o "milagre" acabou em 1973 e os militares moderados conseguiram que nova eleição "democrática" fosse realizada. Havia um partido ARENA de direita e o MDB como movimento contrário à ditadura. Sarney saiu da direita para a esquerda para ser o vice na chapa com Tancredo Neves do MDB. Tancredo faleceu 5 dias após ter sido eleito e Sarney o substituiu na Presidência.
Durante o período ditatorial, as forças políticas que se uniram no MDB tentaram de diferentes maneiras defender formas institucionais de proteção à vida nacional, com ações através de movimentos de esquerda, na organização de governos municipais democráticos, nos estudos sobre medidas democráticas e na sua divulgação através de livros e jornais que despistavam a censura fascista. Destacaram-se intelectuais e políticos de envergadura, como Ulisses Guimarães, Mário Covas, e outros, que criaram o PMDB, e professores como Celso Furtado, Caio Prado, Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes e tantos outros, que foram para universidades dos Estados Unidos e França proibidos de lecionarem nas do Brasil.
Com o afastamento da ditadura no governo, desenhou-se nova estrutura partidária com a possibilidade de abrir caminhos democráticos aceitáveis pelo sistema capitalista sob controle imperial. Era o abrandamento das expressões que pudessem parecer revolucionárias para que permitissem alguma liberdade de ação no contexto político. O PMDB dividiu-se dando origem ao PSDB mais próximo da elite, tornando-se mais claras as linhas ideológicas que separavam os seus representantes.
Sob uma pressão das "forças ocultas" (referidas por Jânio) ocorreram mortes mal explicadas, segundo o noticiário midiático da época, de personalidades destacadas como Juscelino Kubitschek, Ulisses Guimarães e João Goulart. Este clima de violência com possiveis assassinatos será a causa de alguns políticos renegarem as suas obras de fundamentação marxista e de outros se afastarem do cenário político? O medo justifica o silêncio, não a mudança ética.
As promoção de alianças eleitorais entre setores partidários que representam classes socio econômicas diferentes e com necessidades opostas no que tange à distribuição de renda e ao acesso aos serviços sociais do Estado para o seu próprio desenvolvimento cidadão, assumiu um aspecto de feira com a comercialização dos postos políticos. Degradou-se a imagem tanto das lideranças políticas como das instituições utilizadas como produtos de troca. As pressões imperiais passaram a ser exercidas através da midia na formação da opinião pública e na deformação cultural da população, o que foi agravado com a introdução da tecnologia informática. A ética explícita foi banida e os princípios morais tornaram-se exclusividade das religiões ou dos estudiosos dos caminhos revolucionários.
A classe média intelectual foi duramente afetada e precisou procurar versões complicadas para defender as suas teses desenvolmentistas sem chocar de frente com os neo-liberais com origem nos "chicagos boys" e no "tatcherismo" que invadiram a América Latina pela mão de Pinochet no Chile e os "Estados Sociais" na Europa a começar pela Inglaterra, seguida pela União Europeia que disseminou pelo continente que se expandiu com a queda da União Soviética.
Formação do PT
No Brasil para superar o impasse político dos partidos com formação liberal e social-democrata e absorver a esquerda perseguida e assassinada pela ditadura militar e quebrada com a destruição da URSS, foi criado o PT - Partido dos Trabalhadores - sob a liderança carismática de um operário metalúrgico formado pelo movimento sindical. Lula, dotado de inteligência fulgurante, nunca procurou títulos de formação intelectual nem pretendeu conhecer outro idioma para penetrar no mundo burguês dos estadistas. Impôs ao conjunto internacional a sua maneira de pensar, falar e agir. Foi um escudo formidável para que o chamado "desenvolvimentismo" se aproximasse dos povos em luta pela democracia e contra o imperialismo, abraçasse Cuba Socialista, enfrentasse o cerco imperial a nível internacional mantido pela ultrapassada estrutura da ONU e pelas forças comerciais representadas pelo dollar. Filiado à Social-Democracia chefiada pela Alemanha e tendo Mário Soares como principal enlace, o PT seguiu o modelo europeu com as variáveis históricas latino-amercanas.
O imperialismo norte-americano estava com a atenção voltada para as riquezas minerais dos enfraquecidos governos do Oriente Médio, a guerra no Afganistão, depois no Iraque que somaram às invasões da OTAN no norte da África e à perseguição ao antigo amigo saudita Bin Laden, o que aliviou o cerco permanente à América Latina e Caribe, que aproveitou para criar organismos para comercializar os seus produtos e associações livres do parceiro norte-americano.
Nos dois mandatos de Lula o povo brasileiro recebeu, pela primeira vez na história, uma atenção governamental para atingir os benefícios da cidadania. Dentro da teoria desenvolvimentista não ultrapassou a formula de assistência social - bolsa família e bolsas de estudo, saúde pública e previdência social - mas usufruiu dos projetos de desenvolvimento nacional que expandiu o uso doméstico de água e luz, além de construção de casas populares, açudes nas zonas áridas, canalização para regadio, apoio às pequenas produções e consumo dos produtos para alimentação escolar, aumento do salário mínimo, créditos especiais para consumo de utilidades domésticas. Para atender as reivindicaçõs do setor empresarial, foram feitas as concessões habituais para que obtivessem aumento de rendas, o que gerou profunda desigualdade social.
As contradições, inerentes ao sistema capitalista e ao plano desenvolvimentistas, minaram as alianças partidárias que se degladiaram dentro dos orgãos de governo - Camara de Deputados e Senado - e minou o sistema judiciário. Apesar dos esforços de Dilma para prosseguir as conquistas de Lula que elevavam as condições de vida e de formação profissional do povo em geral, a força do empresariado levantou-se liderada pela Federação das Indústrias ligada à dos Bancos privados e todo o sistema financeiro que estabeleceram as ligações com o imperialismo norte-americano que voltava a cobiçar o domínio total da América e conduzia a mídia como porta-voz dos seus interesses.
Novas mortes suspeitas, assinaladas pela comunicação social, ocorreram com a queda de duas avionetas: uma em 2014, de Eduardo Campos, governador de Pernambuco e candidato a Presidente da República pelo PSB - Partido Socialista Brasileiro - neto do conhecido combatente contra a ditadura Miguel Arraes, varias vezes eleito governador; outra, do Juiz do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavaski, que estudava em 2017 as provas contra Temer e Sarney, constando que a idéia dele era de que o PT e o PMDB sairiam demolidos.
O golpe de Temer a mando do imperialismo
O Brasil é um pais com aspectos de civilização em que são destacados expoentes da ciência, arquitetura e engenharia de qualidade comprovada em grandes obras urbanas, da literatura, das artes em geral; tem um clima tropical ameno, belas paisagens e boa terra; tem o azar de ter uma enorme riqueza mineral, animal e humana a despertarem eterna cobiça, mas onde o seu povo nunca ocupou o lugar soberano que faria dele uma Nação independente. Permanece amarrado a um passado de cinco séculos.
Diante da necessidade de ser ultrapassado o Golpe de Temer, condicionado pelo velho imperialismo, os vários partidos que mantinham a feira das vaidades perderam importância e os golpistas que colheram representantes no PMDB e PSDB desmoralizaram a sua própria história abrindo caminho para uma ponta de lança para o fascismo que recebeu a ajuda tecnica e financeira do grupo de Trump, sobretudo a manipulação de consciências débeis alterando o voto.
A campanha eleitoral contra o fascismo para repor a democracia liderada por Lula, ainda que na prisão, desvendou um patrimônio riquíssimo de quadros políticos da categoria de Haddad e Manuela, ajudados pelos criadores da mídia alternativa que revelaram grande capacidade intelectual e técnica para influenciarem a Folha e obrigarem até a hegemônica Globo a criar um mínimo de vergonha para recusar as violências do seu candidato, e este conjunto de soldados pela democracia conseguiu despertar 45 milhões de brasileiros que afirmaram a sua dignidade para defender a democracia no Brasil. Este foi o modelo humano que os uniu, de quem preza os valores éticos e a solidariedade acima das suas pequenas ambições mesquinhas. Foi uma vitoria estrondosa que vai pertimir criar o Brasil, país do futuro!