“O projeto que as polonesas rejeitaram nas ruas não é muito diferente dos projetos que tramitam no Congresso Nacional", diz Ivânia Pereira, secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
A revista Deutsche Welle conta que milhões de mulheres vestiram preto - para representar o luto pela perda de direitos reprodutivos - e gritaram palavras de ordem, afirmando que querem médicos, "não missionários".
Imediatamente após a manifestação de massa, o vice-primeiro-ministro da Polônia, Jaroslaw Gowin, afirmou que o parlamento não aprovará a proibição total do aborto. Se o projeto fosse aprovado, assim como no Brasil, os médicos também poderiam ser presos.
Além disso, a imprensa internacional mostra que a proposta criminaliza todos os tipos de aborto e prevê inclusive prisão para quem realizar aborto. No Brasil, temos o projeto de lei 5069/13, de autoria do deputado federal cassado Eduardo Cunha.
“O PL 5069 além de criminalizar as mulheres, os profissionais da medicina, torna a mulher uma mera máquina reprodutiva”, argumenta Pereira. Ela reforça ainda que esse projeto proíbe inclusive a utilização da pílula do dia seguinte, que pode prevenir a gravidez indesejada.
Marta Lempart, advogada de 37 anos que convocou a manifestação na cidade de Breslávia, explicou ao Nexo Jornal que a manifestação foi convocada pelo no Facebook e conta com uma organização dom comitês espalhados por todo o país.
“Somos de organizações diversas, mas não são as organizações que fazem o protesto. São mulheres furiosas. Há dezenas de mulheres que não são parte de nenhuma organização, são donas de casa, mulheres corajosas de cidades pequenas que organizaram um ato pela primeira vez na vida”, afirmou Lempart.
Até a reacionária igreja católica polonesa, passou a defender que o aborto possa ser realizado quando as gestações oferecerem riscos à saúde da mãe, diz o jornal britânico The Guardian. “A igreja é tratada como autoridade no debate sobre o aborto”, contou a feminista Anna Mielech.
Desde 1993, o aborto pode ocorrer na Polônia em caso de risco de morte para a mãe, má formação do feto ou em casos de estupro ou incesto. “As polonesas derrotaram a proposta de acabar com ao menos essas possibilidades”, diz Pereira.
Gowin disse que o protesto "nos fez pensar e foi uma lição de humildade, (...) avaliamos a importância destes protestos e a boa intenção de grande parte dos que protestaram”.
Para a cetebista “as brasileiras devem retomar as ruas e mostrar a força da mulher e derrotar todos os projetos que acabam com nossas conquistas”. Além disso, “devemos mostrar que sabemos o que queremos e queremos ser livres e viver sem medo de violência e opressão”.