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Diário Liberdade
Sábado, 08 Outubro 2016 17:19 Última modificação em Quarta, 12 Outubro 2016 11:52

EUA e Rússia comunicam-se apesar da disputa síria

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País: Síria / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Resistir

[M K Bhadrakumar] O confronto directo russo-americano sobre a Síria assumiu hoje uma nova feição com uma advertência razoavelmente explícita de Moscovo de que qualquer ataque americano de mísseis sobre a Síria será retaliado pelo sistema russo de defesa aérea.

O porta-voz do Ministério da Defesa russo, Gen. Igor Konashenko, disse em Moscovo que quaisquer ataques com mísseis ou aéreos colocarão uma ameaça óbvia às forças russas deslocadas na Síria, não deixando opção ao sistema de defesa aérea russa senão reagir.

O general também deixou saber que a Rússia adoptou contra-medidas para assegurar que os EUA e seus aliados ocidentais não possam repetir o exemplo anterior de ataques aéreos a bases sírias, os quais Washington explicou como acidente.

O Gen. Konashenko deu a notícia antecipadamente para os EUA não se queixarem se os seus mísseis forem derrubados. "As equipes em serviço dificilmente terão o tempo para calcular o trajecto de voo dos mísseis ou para tentarem descobrir a sua nacionalidade". Ele também deu uma pancada forte em analistas militares dos EUA que alardeiam acerca do avião invisível ao radar quando disse: "todas as ilusões de amadores acerca da existência de jactos "invisíveis" confrontar-se-ão com uma realidade decepcionante.

Em outra observação muito dura, o general russo sugeriu que a amplitude das versões avançadas dos sistemas de mísseis S-300 e S-400 instalados na Síria será uma "surpresa" para os americanos. Ele não deu pormenores. ( RT )

A provocação imediata que levou às observações acima pode ter sido as informações que aparecem nos media dos EUA de que há uma escola de pensamento em Washington a dizer que as forças do governo sírio poderiam ser degradadas através de ataques com mísseis de cruzeiro e, dessa forma, o equilíbrio militar poderia ser alterado a favor de grupos rebeldes. Naturalmente, é o presidente Barack Obama que tomará a decisão final. ( Washington Post )

Para mim, contudo, a probabilidade de Obama ordenar intervenção militar na Síria é um tanto remota – embora a queda de Alepo seja uma pílula amarga para engolir, uma vez que os EUA não só perdem a face em todo o Médio Oriente como também serão encarados como uma potência em retirada, o que será um marco decisivo na história da hegemonia ocidental na região.

Face a isto, o congelamento das ligações entre estas duas grandes potências, EUA e Rússia, devido a diferenças sobre a Síria aprofundou-se na semana passada ou pouco mais ou menos. Dito isto, quem observa há muito o Médio Oriente saberia que as aparências podem ser altamente enganosas quanto a um impasse EUA-Rússia. A leitura nas folhas de chá das relações entre ambos é ardilosa e ninguém deveria apressar-se com julgamentos. Contudo, há sinais intrigantes de que Washington e Moscovo estão a andar nas pontas dos pés um em torno do outro, sem se envolverem directamente, talvez, mas não sem contacto visual.

Assim, a Casa Branca subestimou o movimento russo para abandonar o pacto de segurança nuclear com os EUA, o qual é uma herança da presidência de Barack Obama. (Reuters) A Casa Branca disse que a cooperação com a Rússia no campo da segurança nuclear ainda é possível.

Mais uma vez, apesar do anúncio estado-unidense de segunda-feira quanto à suspensão de conversações com a Rússia sobre a Síria, o secretário de Estado assistente dos EUA para Assuntos Euro-asiáticos, Victoria Nuland, viajou a Moscovo na terça-feira como fora anteriormente programado. Ostensivamente, a sua missão era acerca da Ucrânia, mas sendo a diplomata de carreira de mais alta classificação a negociar com a Rússia no Departamento de Estado, é inteiramente concebível que ela tenha ocasião de ter alguns intercâmbios abrangentes com equivalentes russos. Nuland conversou principalmente com o assistente do Kremlin Vladislav Surkov, o qual é próximo do presidente Vladimir Putin.

Embora Nuland não seja particularmente ligada a Moscovo – o marido é o famoso sabichão neoconservador Robert Kagan – a linguagem corporal da sua visita parece correcta sob as condições difíceis que prevalecem. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, observou que as conversações de Nuland revelaram "um entendimento crescente" sobre a necessidade de avançar com a implementação dos acordos de Minsk. (O ponto de vista de Peskov ontem era que "nenhum progresso pode ser esperado" das conversações com Nuland.)

A par disto, é aparente que a visita não programada do ministro francês dos Estrangeiros, Jean Mac-Ayrault, a Moscovo, hoje, foi quase inteiramente centrada sobre a Síria – Batalha de Alepo, especificamente. A França apresentou uma resolução dura sobre a Rússia no Conselho de Segurança da ONU há dois atrás e seguiram-se alguns intercâmbios irados. (a Rússia em Outubro está a presidir o Conselho de Segurança.) Mas ao falar a repórteres em Moscovo, hoje, o principal diplomata da França pareceu conciliatória. ( TASS )

Jean Marc-Ayrault está a viajar para Washington vindo de Moscovo. A França aspira encabeçar uma iniciativa independente nas reflexões EUA-Rússia sobre a Síria, o que naturalmente é tradicional para a trajectória independente da diplomacia francesa quanto a relações "Leste-Oeste" mesmo durante a Guerra Fria (com a qual a Rússia está familiarizada). No entanto, o papel francês torna-se significativo porque o presidente Vladimir Putin programou visitar Paris em 19 de Outubro.

Em última análise, contudo, é a maré da batalha de Alepo que estabelecerá o ritmo de todo o trabalho diplomático em curso – não ao contrário. Parece improvável que Moscovo venha a cometer outra vez o erro crasso de concordar com um cessar-fogo que poderia ser explorado pelos grupos Al-Qaeda para trazer reforços e reagrupar-se. A prioridade russa deve ser completar tão rapidamente quanto possível a campanha de Alepo e a partir daí mover-se imediatamente para galvanizar as conversações de paz. Não parece haver alternativa, uma vez que repetidas tentativas russas em negociações de paz apenas tropeçaram.

Informações iranianas de hoje destacam que jactos russos estão a efectuar bombardeamentos pesados em diferentes partes de Alepo e choques violentos estão em curso nas partes nordeste da cidade. ( FARS )

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