Como já noticiamos, num e-mail de 17/8/2014 que WikiLeaks publicou no mês passado, Hillary Clinton, que até um ano antes fora secretária de Estado, ordena que John Podesta, então conselheiro de Barack Obama, "pressione" Qatar e Arábia Saudita, "que estão fornecendo apoio logístico e financeiro clandestino aos ISIS e a outros grupos sunitas radicais.”
"Para mim, é o e-mail mais significativo de toda a coleção" disse Assange, cujo website "sentinela" [ing. whistleblower, lit. "tocador de apito de alerta"] já divulgou, ao longo do ano passado, três grandes pacotes de e-mails relacionados à candidata Clinton. – "Todos os analistas sérios sabem e até o governo dos EUA já reconheceu, que há sauditas importantes apoiando e sustentando financeiramente o ISIS" – disse Assange a Pilger. – "Mas divulgou-se o mito de que seriam só alguns príncipes "bandidos", servindo-se do seu próprio dinheiro do petróleo para fazer o que bem entendessem; e que seriam ações que o governo saudita desaprovaria. Mas o que os e-mails informam claramente é que os governos da Arábia Saudita e do Qatar financiavam [provavelmente continuam a financiar] o ISIS.”
Como a rede RT já noticiou, Assange e Pilger, conversaram frente à frente durante 25 minutos, na Embaixada do Equador em Londres, onde Assange vive como refugiado desde 2012. Falaram também sobre o conflito de interesses entre os cargos oficiais da candidata Clinton, a organização 'sem finalidades de lucro' de seu marido, e sobre autoridades de governos do Oriente Médio cujas declarações repetidas de que teriam interesse em combater contra o terrorismo podem ter sido falsas.
John Pilger: Os sauditas, os qataris, os marroquinos, os bahrainis, especialmente sauditas e qataris, doaram essas quantidades astronômicas de dinheiro à Fundação Clinton, ao tempo em que Hillary Clinton era secretária de Estado e o Departamento de Estado aprovava vendas massivas de armas, especialmente para a Arábia Saudita.
Julian Assange: No período em que Hillary Clinton dirigia o Departamento de Estado. Os seus e-mails revelam longas e detalhadas discussões desses negócios – o maior negócio de armas em todo o mundo foi feito com a Arábia Saudita, que comprou mais de $80 bilhões de dólares. Durante o período em que Hillary Clinton esteve à frente do Departamento de Estado, o valor em dólares do total de exportações de armas norte-americanas duplicou.
JP: E esse conhecido grupo jihadista, chamado ISIL ou ISIS [em árabe Daech], é alimentado pela mesma gente que dá dinheiro também à Fundação Clinton?
JA: Sim.
A conversa na sequência toma o rumo da próxima eleição presidencial nos EUA. Pilger perguntou a Assange sobre as acusações cada vez mais frequentes, saídas do campo dos Clintons, e da mídia-empresa ocidental, segundo as quais WikiLeaks estaria tentando fazer as eleições penderam a favor de Donald Trump – talvez a serviço da Rússia.
Mas outra vez, como já fizera semana passada, Assange novamente descartou a possibilidade de que Trump – que está empatado em primeiro lugar nas pesquisas com a candidata Clinton – venha a ser eleito. Mas não por causa das coisas que diz e faz e por os eleitores não o preferirem.
“Minha análise" – diz Assange – é que não permitirão que Trump seja eleito. Por que digo isso? Porque Trump tem contra ele todo establishment, todos os vários campos do establishment. Não há uma única área ou setor do establishment a favor de Trump. Talvez só, no máximo, os evangélicos, se se pode dizer que sejam um establishment” – disse Assange. – "Bancos, inteligência, empresas fabricantes de armas, dinheiro de fora etc. todos esses apoiam Hillary Clinton. E a mídia-empresa comercial, claro. Os proprietários das empresas comerciais de mídia e, também, os próprios jornalistas seus empregados."
Assange tem razão. Mas também se dizia que esse mesmo dinheiro e mesmos establishments não permitiriam que o Brexit acontecesse.
Artigo original em Zero Hedge