Já há muito tempo rugia uma guerra subterrânea doméstica entre Trump e os neoconservadores (o pessoal que quer retomar a Guerra Fria, agora como guerra quente contra Rússia, e que trabalha para derrubar todos os governos – dentre os quais Saddam Hussein, Muammar Gaddafi, Viktor Yanukovych, Bashar al-Assad – favoráveis à Rússia).
É guerra que começou no início do ano, quando Trump deixou claro que deseja (i) pôr fim à guerra de Obama na Síria contra Assad e Putin; (ii) iniciar guerra real contra todos os muitos grupos jihadistas que tentam derrubar o governo secular de Assad e só se interessam por eliminar os grupos jihadistas que não sejam mantidos por EUA e aliados. Com essa mudança, Trump trabalha para definir como inimigos dos EUA os estados que patrocinam o jihadismo. A diferença é enorme, nos dois campos que se confrontam nessa guerra para escolher guerra.
Essa guerra chega agora a um ponto crucial, com a suspensão, na 3ª-feira, 15/11, dos esforços conciliatórios de Trump para obter a cooperação dos neoconservadores, grupo que reúnevirtualmente todo o establishment de Relações Exteriores do Partido Republicano, militar e diplomático, mais quase todo o establishment de Relações Exteriores do Partido Democrata. Esses dois ‘establishments’ são na realidade duas 'equipes' de um mesmo establishment, e agora, depois de quatro sucessivos presidentes neoconservadores na Casa Branca (Bush I & II, Clinton e Obama), já é grupo quase unanimemente neoconservador, principalmente do lado Republicano (lado de Bush).
O neoconservadorismo começou de verdade dia 24/2/1990, quando o presidente George Herbert Walker Bush dos EUA [Bush Pai] informou aos seus agentes que, apesar de a Guerra Fria estar acabando do lado russo, nem por isso tinha de acabar do lado dos EUA, por mais que todo o governo dos EUA tivesse prometido ao então ainda soviético, mas em seguida presidente russo, Mikhail Gorbachev, que os EUA fariam o contrário. O presidente seguinte, Bill Clinton, cuidou de expandir a OTAN, seguindo o mesmo planejamento; e seus sucessores G.W. Bush ["Dábliu"] e Barack Obama expandiram-na ainda mais, de tal modo que hoje já cercamos a Rússia com mísseis norte-americanos e europeus. Os EUA também providenciamos a derrubada de vários governos amigos e aliados de Moscou — Saddam Hussein, Muammar Gaddafi e Viktor Yanukovych. Os EUA ainda tentamos, sem sucesso, fazer o mesmo na Síria –, para enfraquecer ainda mais a Rússia, antes de os EUA partirmos para o assalto final, em que arrancaríamos os escalpos, contra a Rússia.
Se Trump avançar sobre as linhas partidárias para incorporar o pequeno segmento do establishmentde Relações Exteriores do Partido Democrata que NÃO SÃO neoconservadores, ele terá de enfrentar forte oposição pelos Republicanos no Senado e na Câmara de Representantes, que não se interessarão por aprovar partes essenciais das iniciativas dos Departamentos de Estado e de Defesa do governo Trump.
Nesse caso, o governo Trump será praticamente imobilizado, sobretudo com a disposição do establishment (neoconservador) em Washington para não fornecer informação essencial e cooperação que levem a grandes sucessos trumpistas nos setores de Relações Exteriores. O establishment detém todas as informações essenciais sobre contatos nos governos estrangeiros (dentre muitas outras informações também essenciais), sem as quais é impossível operar as relações internacionais. O governo Trump será natimorto.
O homem que organizou a revolta dos neoconservadores contra a candidatura Trump, e que recentemente (embora só por poucos dias) oferecera um ramo de oliveira da paz para ajudar a equipe Trump a comandar as relações internacionais dos EUA, Eliot A. Cohen, tuitou dia 15/11: “Depois de reunião com equipe Trump, mudei minha recomendação: fiquem longe. São irados, arrogantes, só gritam 'vc PERDEU!' Vai ser brabo..."
Guerra declarada: neoconservadores farão de tudo para sabotar o governo Trump
Outro líder neoconservador, Daniel W. Drezner, tuitou mais tarde, no mesmo dia, “Anotem: a sentença mais assustadora naquele tuíto é ‘Flynn e Kushner estão no controle de quem fica nos postos chaves.’”
Referia-se ao tenente-general aposentado Michael Flynn, que Obama demitiu do posto de diretor da Agência de Inteligência da Defesa, porque Flynn opôs-se ao plano de Obama de dar prioridade à guerra contra a Rússia, não à guerra anti-jihadistas: Flynn defendeu que os EUA negociassem com Assad, para atacar quaisquer e todos os jihadistas, não só o ISIS (como Obama queria).
E há também Jared Kushner, judeu sionista, genro de Trump, anti-palestinos e anti-Irã, que só agora começa a entender que quase 100% de todo o terrorismo perpetrado contra EUA e Europa NÃO VEM dos antissionistas, mas, sim, da autodeclarada ameaça "existencial" contra o Irã –, a família Saud que é proprietária da Arábia Saudita e que sempre foi profundamente conectada com o establishment, ou a aristocracia norte-americana, especialmente com bilionários norte-americanos, sempre, desde o fim da 2ª Guerra Mundial, e que ainda está determinada a, com ajuda dos EUA, conquistar a Rússia. Mais até que o Irã, a Rússia é a grande concorrente dos sauditas nos mercados de petróleo e gás. Aqui está o que a equipe Trump não sabe.
Acima de tudo, a equipe de Trump não sabe que a família real proprietária da Arábia Saudita foi a principal fonte de apoio e dinheiro para a Al-Qaeda e o 11 de setembro.
O governo dos EUA está na 'incômoda' posição de aliado dos próprios inimigos e dos inimigos não só dos cidadãos e cidadãs norte-americano(a)s, mas de toda e qualquer nação que não seja governada por sunitas fundamentalistas e sua interpretação da Lei da Xaria. Os EUA demos armas a eles. Os EUA os defendemos. E, quando interessa a eles, eles nos explodem.
Trump e sua família melhor farão se aprenderem rapidamente sobre a realidade e souberem descartar mitos e mentiras, porque, no pouco tempo que lhes resta antes de começarem a ser responsáveis pelo governo dos EUA, há enorme quantidade de propaganda que eles terão de desaprender, e muita história oculta que eles precisam aprender a descartar e substituir.
Os Trumps dizem que querem drenar o pântano em Washington, mas o pântano inclui milhares de homens e mulheres que se recusam a ajudar na transição, a informar e a treinar seus substitutos designados pelo novo governo eleito. Os neoconservadores ocupam todo o governo desde George W. Bush (aqui, a relação dos 450 mais importantes, só do lado Republicano), com monopólio virtual de toda a política exterior dos EUA. E não querem largar o osso.*****